MG: hospital entra em estudo para diagnosticar tuberculose em crianças
Referência estadual em doenças infecciosas e pulmonares pediátricas, Hospital Infantil João Paulo II contribui com dados de 150 pacientes no estudo nacional
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Siga noO Hospital Infantil João Paulo II (HIJPII), da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), participa do Estudo Epidemiológico sobre a Prevalência Nacional de Agentes Respiratórios em Crianças (TBPed) com 150 amostras para identificação de tuberculose em crianças. A instituição é a única do estado e uma dos primeiros do país a participar do estudo nacional, com o intuito de diminuir a subnotificação e aumentar o tratamento da doença em pacientes pediátricos de até 15 anos incompletos. As amostras representam 11,6% do total de 1.288 crianças hospitalizadas que integram a pesquisa.
Segundo a pneumologista e coordenadora do Serviço de Alergia e Pneumologia Pediátrica do HIJPII, Chalene Guimarães Soares Mezêncio, a detecção é difícil porque, em crianças, a tuberculose se confunde com infecções respiratórias de repetição, principalmente em determinadas épocas do ano. Por isso, é importante a suspeita. Se um paciente adoece com frequência, pode ter a enfermidade. A médica também explica como funciona a coleta.
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“É uma amostra grande. São pacientes hospitalares que não tinham diagnóstico, nem suspeita de tuberculose. Eles estavam internados para tratar infecções respiratórias. Abordamos os pais e pedimos para colher amostras para exames muito específicos, que ainda não são usados rotineiramente na prática clínica”, explica a especialista.
Ao Estado de Minas, a pneumologista destaca que um resultado preliminar do estudo aponta uma prevalência na falta de diagnósticos para tuberculose maior que se esperava. “A gente tem encontrado alguns casos que não eram uma possibilidade diagnóstica. A criança estava internada por uma pneumonia bacteriana, a criança estava internada por uma infecção respiratória viral e a gente colhe os exames e essas amostras vêm positivas em alguns casos”.
A dificuldade do diagnóstico vem com a frequência de infecções que as crianças podem ter, por diferentes motivos, como a entrada em creches. “Elas acabam tendo muitas infecções na criança que vão e voltam. Em alguns casos persistem mais e a gente precisa pensar na tuberculose. Só que, além disso, a doença pode ser silenciosa. A tuberculose demora para desenvolver e manifestar sintomas mais importantes”.
Sintomas discretos podem ser relevantes para um diagnóstico, como perda de peso, febre diária e tosse com catarro, explica a especialista. Outra dificuldade é a coleta das amostras para análise. Mezêncio conta que o processo pode ser mais fácil em caso de crianças hospitalizadas, mas essa condição leva à uma outra preocupação: a falta de acesso à saúde pública que alguns jovens enfrentam. “Quando a gente dificulta o acesso à saúde básica, a gente vai ter um atraso, com certeza, no diagnóstico das crianças. E perder muitas crianças com a falta do diagnóstico”, destaca.
De acordo com dados do Boletim Epidemiológico de Tuberculose 2024, do Ministério da Saúde, Minas Gerais notificou 4.503 novos casos da doença em 2023, com uma taxa de incidência de 19,5 por 100 mil habitantes, além de 322 mortes em 2022. No Brasil, foram registrados cerca de 80 mil casos em 2023, e o número de óbitos em 2022 chegou a 2.720.
A tuberculose, uma infecção pulmonar, é causada pela Mycobacterium tuberculosis, também conhecida como Bacilo de Koch (BK), e foi descoberta em 1882. Conforme o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), o Brasil registra, em média, 70 mil novos casos de tuberculose por ano, com cerca de 4,5 mil mortes anuais. A doença é um desafio de saúde pública, exigindo diagnóstico precoce e adesão ao tratamento.
Iniciada em 2021, a pesquisa beneficiará crianças e adolescentes de todo o país, e conta com 22 centros participantes nos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Ceará e Manaus. O HIJPII incluiu, em fevereiro de 2022, a amostra do seu primeiro paciente hospitalizado.
O recrutamento dos pacientes internados foi encerrado em março deste ano. A divulgação dos resultados do estudo está prevista apenas para o ano que vem, mas dados preliminares já mostram que a prevalência da tuberculose em crianças e jovens de até 15 anos incompletos é maior do que pensavam os pesquisadores.
Ao ingressar no estudo, financiado com recursos do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS) e conduzido pelo Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, a unidade da Fhemig recebeu o sistema GeneXpert, aparelho que realiza o teste rápido molecular (TRM) para a detecção do bacilo.
O exame foi incorporado à prática assistencial do HIJPII por meio da tecnologia do GeneXpert que detecta, em duas horas, a presença do bacilo de Koch e também identifica a resistência a um dos principais antibióticos usados no tratamento da doença. A incorporação desse conhecimento pelo HIJPII, que é o centro de referência em Minas, representa um avanço para a saúde infantil no estado, considerando que as crianças têm maior chance de progressão do bacilo para as formas ativas da doença.
Transmissão e tratamento
Transmitida pelo ar, a tuberculose faz com que uma pessoa sem tratamento seja capaz de infectar até outras dez. Desse total, entre 5% e 10% irão desenvolver a doença. O tratamento é gratuito e realizado apenas pelo SUS. Para alcançar a cura é necessário segui-lo rigorosamente por seis meses. Se o paciente o abandonar, pode desenvolver a forma resistente da doença, que necessita de um prazo ainda maior para ser curada – de 18 a 24 meses. Daí a importância da detecção precoce e do início imediato do uso do medicamento.
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Em crianças, a melhor forma de prevenir as formas graves da tuberculose, como a miliar e a meníngea, é a aplicação da vacina BCG, que é administrada nos primeiros meses de vida. A doença, assim como várias outras infecções pulmonares, pode ser agravada pelo estilo de vida. Pessoas com histórico de alcoolismo, tabagismo, toxicodependência, desnutrição, pessoas vivendo com HIV ou em situação de rua têm maior risco de contrair a tuberculose. Além desses grupos, crianças de 0 a 5 anos e idosos também são mais vulneráveis devido à imunidade baixa ou não totalmente formada.