PROCESSO NA JUSTIÇA

Publicitário acusa médico de erro que o deixou com dias de vida contados

Com uma história de vida marcada pela solidariedade, Khacyos Parreiras de Rezende agora convive com dores crônicas e busca dignidade para o tempo que lhe resta

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Atleta há mais de 20 anos, ativo, sonhador, solidário e com uma carreira consolidada. Assim era a vida de Khacyos Parreiras de Rezende, que completa 54 anos neste domingo (13/7). O publicitário foi fundador  e presidente do projeto social Vírus do Bem, que atendeu cerca de 165 mil pessoas, sendo 9 mil pessoas com deficiência. A instituição também plantou 1 milhão de árvores e recebeu uma menção honrosa da Organização das Nações Unidas (ONU) pelo trabalho nas tragédias de Mariana e Brumadinho.

A trajetória de conquistas profissionais e realização pessoal de Khacyos começou a mudar em 2021, ano em que ele denuncia ter sido vítima de um erro médico que o deixou com várias sequelas. De acordo com o publicitário, o problema ocorreu quando ele passou uma cirurgia de hérnia inguinal por videolaparoscopia, em dezembro de 2021. No mês seguinte ao procedimento realizado por um médico urologista de Belo Horizonte, Khacyos passou a lidar com dores insuportáveis por todo o corpo, além de sangramento no sêmen, na urina e nas fezes. 

Diante dos problemas, o publicitário diz ter voltado ao especialista que garantiu tratarem-se de sintomas considerados normais. A conduta do médico aliado aos novos problemas de saúde que foram surgindo com o passar do tempo fizeram com que Khacyos movesse um processo judicial contra o urologista, que já se arrasta desde março de 2023. Segundo ele, o médico foi negligente tanto na cirurgia quanto no pós-operatório, uma vez que teria dado alta ao paciente antes do prazo ideal e, durante o período de complicações, o encaminhou a outros profissionais sem deixar claro sua real condição de saúde.


Ao todo, o ex-atleta passou por 65 especialidades médicas e realizou 53 tipos de tratamento para tentar resolver os graves problemas urológicos que enfrentava, como testículos inchados, impotência, ejaculação e urina com sangue, além de dores crônicas nas pernas, costas, quadril e joelhos.

Ainda de acordo com o relato de Khacyos, sua situação que já era complicada foi agravada por um outro problema causado, segundo ele, pelo médico que está processando. "Durante a cirurgia, ele (o médico) colocou uma tela para resolver o problema da hérnia. No entanto, essa tela rotacionou e causou a neuropatia periférica por trauma", explicou o publicitário.

A doença que Khacyos enfrenta atualmente é considerada incurável e evolutiva. Laudos médicos e atestados que constam no processo judicial comprovam que o publicitário foi diagnosticado com a neuropatia periférica. Os documentos ainda apontam que o problema possibilitaria apenas cinco anos de vida ao paciente, dos quais três anos e meio já se passaram.

Para aliviar as dores constantes, Khacyos implantou uma bomba de morfina, que requer manutenção e tem efeitos colaterais significativos, incluindo a necessidade de lavagem intestinal e uso de anticonvulsivos.

Tantos problemas de saúde impactaram a vida profissional do publicitário. Ele chegou a ser demitido do trabalho que tinha antes de passar pela cirurgia, mas por decisão judicial, foi reintegrado à empresa, o que o possibilita permanecer com o plano de saúde, responsável por parte dos custos do tratamento. 

Mesmo assim, o publicitário relata enfrentar diversos problemas financeiros, além de ter que se desfazer de bens conquistados ao longo da vida, como apartamento próprio, para arcar com as altas despesas em função da condição de saúde. Atualmente, Khacyos vive em uma kitnet e necessita de doações para ajudar com os custos dos medicamentos e da manutenção da bomba de morfina. Ele decidiu tornar sua situação pública para pressionar a Justiça e buscar apoio da sociedade, já que vive sozinho em Belo Horizonte.

“Tive muitas perdas materiais e também perdi toda vida social, sexual e psicológica. Perdi uma oportunidade de trabalho de R$9.500 por mês em um banco. Tive perdas estéticas irreparáveis, fiquei manco e com pouca mobilidade nas pernas, passei a usar muleta. Ganhei mais de 10kg de gordura. Fiquei com rosto inchado e deformado”, lamenta Khacyos.

Como não consegue todos os medicamentos que precisa tomar pelo Sistema Único de Saúde (SUS), Khacyos conta que, apenas com os remédios, gasta em torno de R$ 7 mil por mês. Até 2023, ele chegou a consumir 46 tipos de remédios, que juntos somavam R$ 13.864,38 por ano. Por ter se tornado  incapaz de realizar algumas funções, como arrumar a casa ou fazer comida, o publicitário estima que seus gastos ultrapassem os R$ 23 mil.  "Além das cicatrizes morais, emocionais e psicológicas, tive que pagar acompanhante, faxineira, lavadeira, passadeira e comprar comida. Deixei de dirigir, passear, nadar, viajar e ter vida social. Perdi tudo", desabafa. 

Negligência e julgamento

No processo judicial, Khacyos acusa o médico de negligência não só pelo erro durante a cirurgia, mas, também, por não ser transparente sobre a real situação de saúde do publicitário, que demorou meses para ter o diagnóstico de neuropatia periférica.

“Em março de 2022, eu consultei o médico urologista que cometeu o erro médico. No prontuário, ele relatou a situação urológica grave, com inflamação e estado neurológico complicado, e pediu encaminhamento para a psiquiatria. O erro médico aconteceu e ele escreveu que eu tinha a doença, então foi negligente e imprudente ao não deixar a situação clara. Eu terminei o tratamento da parte urológica com ele e a dor pélvica melhorou, mas a dor da neuropatia, não. Quando o questionei, ele alegou que não tinha errado, então entrei na Justiça contra ele, o plano de saúde e o hospital”, conta o publicitário.

A reportagem do Estado de Minas buscou contato com os advogados do médico processado, mas não obteve retorno. Já o Hospital Orizonti, onde o procedimento cirúrgico foi realizado, emitiu uma nota sobre o caso.

“O Hospital Orizonti informa que as alegações do caso em questão estão sendo tratadas no âmbito judicial. Em respeito ao sigilo e ao devido processo legal, a empresa não se manifestará sobre detalhes até a conclusão. Reafirmamos nosso compromisso com a segurança do paciente, a ética e a conformidade com os mais rigorosos padrões de qualidade em todos os atendimentos”, diz a nota.

A Unimed-BH, plano de saúde também citado no processo, informou por meio de nota que “cumpre integralmente todas as decisões judiciais e que, referente ao processo em tramitação na Justiça, a Cooperativa vem acompanhando atentamente o andamento e aguarda decisão do juiz quanto à produção de provas, incluindo a realização de perícia médica solicitada pelas partes envolvidas”. 

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Em relação ao processo, Khacyos afirma que não há jurisprudência, uma vez as outras pessoas no Brasil que têm a doença morreram em três anos e meio, mesmo estágio da neuropatia em que ele se encontra atualmente. O publicitário diz que resolveu dar visibilidade a sua história porque deseja gerar uma comoção social para que o juiz responsável pelo caso veja que existem mais pessoas e instituições o apoiando e acelere a definição da sentença.

“Não quero ficar rico com indenizações milionárias, não. Eu só quero voltar a ter minha dignidade. Eu quero voltar para o meu apartamento que eu trabalhei anos para ter. Quero voltar a ter condições, não ter medo de perder o plano de saúde, porque se eu perder o plano de saúde, cada manutenção da bomba de morfina custa R$ 100 mil. Cada troca custa em média de R$ 300 mil. Onde eu vou arrumar esse dinheiro? Não tem como, é impossível”, conclui.

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