Expo Favela 2025: feira promove empreendedorismo e resgata ancestralidade
Feira de negócios e inovação acontece em BH nesta sexta e sábado (19), com o intuito de conectar empreendedores das favelas
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Siga noInovação, tecnologia, moda, cultura, gastronomia, ideias geniais, negócios de impacto e muito corre. Tudo isso vem da favela, e ocupa, nesta sexta-feira (18/7) e sábado (19), a Sede do Sebrae, no Bairro Nova Granada, na Região Oeste de Belo Horizonte. A Expo Favela desembarca pela terceira vez na capital mineira e se torna vitrine para o que há de mais pulsante no empreendedorismo da periferia. A programação reúne painéis, oficinas, desfiles e comida boa, e o Estado de Minas se dedica a contar algumas das vastas histórias que marcam presença na feira.
Proteção e resistência
Entre os mais de 60 expositores está a fundadora do Instituto Mulheres Amadas, Ivone Nicolau. Pela primeira vez ela participa da feira para apresentar o trabalho feito na entidade, localizada no bairro Novo Aarão Reis, na Região Norte de BH, que acolhe vítimas de violência doméstica. “Viemos mostrar o trabalho feito por essas mulheres. Desde artesanatos, crochê e bordados. É um assunto que as pessoas não gostam de falar. Estamos aqui para romper esse ciclo, e ajudá-las a sair do papel de vítima de violência. São mulheres fortes, empoderadas e empreendedoras”, conta Ivone.
Na mesma toada, um stand se destaca por expor materiais de combate à violência. À frente do negócio está a educadora Bia Gomes, sobrevivente ao crime de agressão sexual a crianças e adolescentes. “Estou aqui com minhas ferramentas tanto de prevenção e tratativa para as crianças, quanto materiais de capacitação e treinamentos para as áreas da saúde, assistência social, segurança pública e educação”, diz.
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Ela demonstra um livro infantil e uma bonequinha de pano inusitada. “A boneca é pensada no sentido da gentileza com a vítima. Ela vem sem a boquinha, justamente para ensinar aos pequenos a importância da fala. Sempre passamos por alguma agressividade ao longo da vida, e naturalizamos. Existe uma lacuna enorme entre as leis e a nossa realidade social. Quando a criança sabe que um toque é indesejado, ela reconhece o poder da fala”, explica Bia.
A cor como cura
Transformar a dor em arte. É o que faz Maria Benedita, que carrega consigo uma história comovente e inspiradora. Após a perda do filho caçula por câncer, ela encontrou na pintura de peças e esculturas em gesso uma forma de respiro e cura. “Entrei em depressão crônica, e depois de um tempo ganhei e comecei um curso nessa área. Eu só pintava em peças de cores escuras, e de repente, recebi um recado que dizia para eu dar cor à dor”, relata. E foi o que ela fez - começou a distribuir as peças para outras cidades e vender em feiras livres em BH.
O resultado de suas criações, cheias de afeto e memória, a levou aos corredores da Expo Favela. “Fui convidada para fazer o cadastro no último minuto do segundo tempo, já encerrando. Fui chamada e aqui estou. É a minha primeira vez e estou muito grata”, comemora Maria.
Saída do desemprego
Para muitos participantes, o empreendedorismo foi uma “virada de chave”. Diversos expositores chegaram ao evento depois de enfrentarem o desemprego e encontrarem no próprio talento uma saída. Foi o caso de Juliana Ribeiro, que faz parte do Espaço Gastronômico da feira. Em 2018, ela ficou desempregada e viu em sua receita autoral de farofa, uma oportunidade de transformá-la em negócio.
“De início, era feita apenas com farinha de mandioca. Até que uma menina me fez um pedido para incluir a versão com farinha de milho, pois já havia sido hospitalizada por comer a tradicional”, destaca Juliana. A história a comoveu e agora já são cinco sabores dentre o tradicional, a versão com gergelim, com farinha de milho, e a apimentada.
João Vitor Bauer também deu a volta por cima com a criação da marca Kodara. Em 2021, após ser dispensado do trabalho que realizava como frentista, ele resolveu investir o dinheiro do acerto em moda. Nascia assim a loja de roupas streetwear. “É uma marca de BH, autoral e independente”, afirma ele.
Troféu à ancestralidade
Outro destaque da edição, é o concurso Trancista Referência que reconhecerá as melhores tranças afro do ano. Por todos os corredores da Expo Favela podem ser vistas milhares de pessoas que transam cabelos ao vivo, enquanto outras desfilam e exibem beleza ancestral nos cabelos.
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A idealizadora do concurso e CEO do estúdio Profeta Afro, Aline Profeta, conta que será feita uma batalha de tranças para evidenciar a categoria. “É mostrar porque viemos e para onde vamos. Não são apenas tranças, é ancestralidade, resistência. Somos homens e mulheres que fazem arte na cabeça das pessoas”, ressalta. A trancista conta que começou como CLT e fazia as tranças aos finais de semana e feriados, até o sucesso e a demanda aumentarem. “Precisei tomar uma decisão, e minha melhor escolha foi ficar por conta das tranças”, conclui Aline.
Veja fotos do evento
SERVIÇO
Expo Favela Minas 2025
Data: 18 e 19 de julho
Local: Sebrae Minas – Belo Horizonte (Av. Barão Homem de Melo, 329)
Horário: 10h
*Estagiária sob a supervisão do subeditor Humberto Santos