Resgate aéreo: frota de Minas é a maior entre os estados
Com a chegada de dois helicópteros este ano, Corpo de Bombeiros do estado soma 10 aeronaves que atuam em socorros e transporte de órgãos
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Siga noMinas se consolidou este ano como o estado com o maior número de aeronaves para resgate do país. Ao todo, o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) possui 10 aeronaves, sendo seis helicópteros – dois deles entregues em fevereiro passado – e quatro aviões. “Por ser um estado de grande extensão territorial, é necessário, sim, que Minas tenha essa frota. Além disso, serve de referência para outros estados”, afirma o major João Bosco Lara Júnior, comandante da Segunda Companhia Especial de Operações Aéreas, sediada em Varginha, no Sul do estado.
Os dois helicópteros mais novos do Batalhão de Operações Aéreas (BOA) receberam os nomes de Arcanjo 13 e Arcanjo 14, assim como os outros equipamentos. O Arcanjo, segundo a corporação, cumpre um papel de proteção divina, que atua como mensageiro em missões especiais, como as desempenhadas pelos bombeiros no atendimento à população.
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Segundo o banco de dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o CBMMG se destaca como a corporação com mais aeronaves à disposição. O Distrito Federal aparece logo atrás dos mineiros, com uma frota de nove aeronaves, sendo cinco aviões e quatro helicópteros, e em seguida vem Goiás, com sete – seis aviões e um helicóptero.
Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro contam, cada um, com cinco aeronaves na frota. Os catarinenses possuem cinco aviões, os fluminenses cinco helicópteros e os paulistas contam com um helicóptero e quatro aviões.
Expansão do atendimento
As novas aeronaves, do modelo H145 fabricadas pela Airbus/Helibras, foram adquiridas em 2022 por R$ 82 milhões cada, com recursos do Fundo Estadual de Saúde (FES) e estão à disposição Suporte Aéreo Avançado de Vida (Saav), uma parceria entre Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), CBMMG e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Segundo o governo de Minas, um dos helicópteros entrou em operação na base do Saav em Varginha tão logo chegou, enquanto o outro foi disponibilizado para treinamentos da tripulação até meados de 2025, quando passará a operar em Belo Horizonte.
A aquisição possibilita a ampliação da cobertura do serviço no estado, permitindo o início do funcionamento das bases de Juiz de Fora e Governador Valadares. Com essas duas novas bases, o Saav alcança 100% de cobertura para resgate aeromédico e de emergência no estado. A longo prazo, a expectativa é chegar a 10 bases em todo o território mineiro.
“A inauguração dessas duas bases possibilita um atendimento mais rápido e mais eficiente. Ao invés de deslocar, por exemplo, um helicóptero de Belo Horizonte para atender uma cidade no Sul de Minas, deslocaremos um helicóptero de Varginha. Vai ser muito mais ágil”, ressalta o major.
Todos os helicópteros da Saav estão equipados para realizar atendimentos pré-hospitalares, assim como transferências inter-hospitalares via SUS Fácil, transporte de órgãos e tecidos para transplantes, resgates em áreas de difícil acesso e apoio às forças estaduais de saúde. O militar explica que, em situações nas quais o tempo é sempre valioso, a agilidade do resgate por aeronave pode fazer uma enorme diferença para a vítima: “Um exemplo é o transporte de um paciente com infarto agudo do miocárdio. Caso se cumpra a janela de tempo entre o início do infarto até os procedimentos médicos, pode-se reduzir o tempo de internação em três a quatro dias. Então é um ganho de qualidade de vida para o paciente e uma economia indireta para o estado”.
Recursos
Segundo a corporação, o Arcanjo 14 foi destaque na Latin America Aero & Defence Expo (LAAD), uma das maiores feiras de defesa e segurança do continente. A aeronave possui dois motores à reação, que oferecem maior segurança operacional devido à sua redundância, e capacidade para transportar piloto, copiloto, dois operadores aerotáticos, médico, enfermeiro e duas vítimas, uma em suporte avançado e outra em suporte básico de vida. Para isso, cada H145 possui cilindros de oxigênio, ventilador pulmonar, bombas de infusão, cardiodesfibrilador com monitor multiparamétrico, macas para adultos e crianças e incubadora para transporte neonatal.
“O modelo H145 é o segundo mais moderno do planeta em questão de tecnologia. Tem piloto automático, sistema de navegação por instrumentos que permite voar em situações meteorológicas em que a visibilidade está ruim e fazer alguns tipos de pousos noturnos. Ainda possui dois motores, então, no caso de falha de um dos motores, a aeronave consegue pousar em segurança, e um espaço interno muito maior que gera mais conforto ao paciente”, explica Lara Júnior.
Segundo o CBMMG, cada hora de voo de uma H145 custa em torno de US$ 1.128,00 (cerca de R$ 6.659,26 na cotação atual). Desse modo, os gastos de cada missão variam de acordo com a aeronave utilizada e o tempo de execução, além da necessidade de manutenções. Em 2024 o Saav realizou o resgate de 1.048 pacientes, ao custo de R$ 22.318.349,48.
Segundo a Airbus/Helibras, o H145 é o helicóptero mais vendido em sua categoria no mundo. Ele pode transportar até oito passageiros, tem peso máximo de decolagem de 3.800 quilos, autonomia de voo de 3h35 com tanque de combustível padrão e alcance de voo de 650 quilômetros. O modelo pode alcançar 130 nós de velocidade, o que corresponde a cerca de 240 km/h.
Além dos dois H145, a companhia entregou 24 aeronaves no ano passado no Brasil. A Helibras, que é a única fabricante de helicópteros do Hemisfério Sul, também recebeu pedidos de 20 helicópteros em 2024 para serem entregues nos próximos anos.
Por se tratar de um produto de alto valor agregado e esforço de produção, é fabricado sob encomenda. As modificações para atender as necessidades dos atendimentos aeromédicos são feitas pela fábrica da empresa em Itajubá, no Sul de Minas.
Ainda para 2025, estão previstas as entregas de dois helicópteros do modelo AW119Kx, também conhecido como Koala, fabricado pela Leonardo Helicópteros, na Filadélfia (EUA). Um foi comprado junto com os modelos H145 e tem previsão de entrega no segundo semestre deste ano. O outro, adquirido através de recursos do Projeto Semente do Ministério Público de Minas Gerais e tem previsão de entrega ainda para este primeiro semestre. Cada Koala custou, aproximadamente, 7,5 milhões de euros, o que corresponde a cerca de R$ 48 milhões na cotação atual.
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Atuações marcantes
Criado em 2007, o Batalhão de Operações Aéreas do CBMMG já atuou em importantes operações em território mineiro, entre elas o rompimento da barragem de Brumadinho, na Região Central, que causou a morte de 272 pessoas, entre elas dois nascituros, em 25 de janeiro de 2019.
A tenente-coronel e atual comandante do BOA Karla Lessa Alvarenga Leal atuou como piloto de uma das primeiras aeronaves dos bombeiros a chegar à localidade de Córrego do Feijão, onde houve o colapso da estrutura de contenção de rejeitos. No comando da equipe, ela ajudou a resgatar uma das vítimas ainda com vida. Seis anos depois, os bombeiros seguem na área atingida pelo mar de lama em busca das duas vítimas que ainda não foram identificadas.
Outra operação que necessitou de toda a frota aérea do CBMMG foi o incêndio em uma unidade de educação infantil em Janaúba, no Norte de Minas. Em 5 de outubro de 2017, o vigia Damião Soares dos Santos, de 50 anos, invadiu a Creche Gente Inocente, derramou combustível pelo imóvel e ateou fogo, provocando a morte de 10 alunos e três adultos. Mais de 40 pessoas ficaram feridas.
Além disso, o BOA foi essencial durante a pandemia de COVID-19. Os militares foram responsáveis pelo transporte de pacientes entre cidades do interior do estado. Somente em fevereiro de 2021 foram pelo menos 35 remanejamentos de Coromandel e Monte Carmelo, no Alto Paranaíba, para municípios com melhor capacidade de tratamento.
Acidente em Ouro Preto
Em outubro de 2024 o helicóptero Arcanjo 4 caiu com seis tripulantes – quatro militares, um médico e um enfermeiro –, em área de serra em Ouro Preto, na Região Central do estado. Todos os ocupantes morreram e a aeronave sofreu perda total.
Este foi o primeiro acidente de helicóptero com mortes na história do CBMMG. Oitenta e quatro pessoas foram empenhadas na busca pela aeronave, incluindo bombeiros, cães de busca e aeronaves do CBMMG, da Polícia Militar (PMMG) e da Força Aérea Brasileira (FAB).
Unidades aéreas dos bombeiros
Estado Helicópteros Aviões Total
MG 6 4 10
DF 4 5 9
GO 1 6 7
SC - 5 5
SP 1 4 5
RJ 5 - 5
RO 1 3 4
MT - 3 3
RS 2 - 2
ES 1 - 1
PA - 1 1
PR 1 - 1
Fonte: Anac