Dados divulgados pela concessionária Via Cristais, que administra um trecho de 594,8 km da  BR-040 entre Belo Horizonte e Cristalina (GO), alertam para a importância de um item que, muitas vezes, é negligenciado pelos motoristas: o pneu. De acordo com levantamento feito pela empresa, desde o início das operações, em março, até agora, foram registradas 761 ocorrências relacionadas a problemas com pneus no trajeto em questão. Para se ter uma ideia, outros tipos de panes mecânicas somaram 4.250 registros durante o mesmo período. 

Logicamente, ninguém deseja ter a viagem interrompida por um problema em um dos pneus do carro. Porém, Roberto Ayala, gerente de Engenharia de Vendas da fabricante Bridgestone, explica que esse é o menor dos males que podem acometer os condutores negligentes. “Falhas nesse item podem causar acidentes graves, que muitas vezes são consequência de escolhas inadequadas ou da falta de manutenção preventiva”, adverte.

O especialista da Bridgestone pontua que os pneus são os únicos pontos de contato entre o veículo e o solo; assim, influenciam diretamente a dirigibilidade. Um dos problemas que mais aumentam o risco de um acidente é a utilização de pneus para além da vida útil, ou “carecas”, como se diz popularmente, uma vez que eles não proporcionam boa aderência com o asfalto.

Tal falha se manifesta inclusive em pistas secas, chegando a aumentar o espaço de frenagem do veículo, mas torna-se ainda mais perigosa se a pavimentação estiver molhada. Nesse tipo de situação, a possibilidade de ocorrer uma aquaplanagem é muito mais alta, já que, a partir de determinado nível de desgaste, as ranhuras presentes na banda de rodagem do pneu (porção que fica em contato com o solo) não conseguem drenar a água. 

Com isso em vista, Mário Pinheiro, membro da Comissão de Dinâmica Veicular da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade do Brasil (SAE Brasil), orienta os motoristas a verificar periodicamente o desgaste. De acordo com a legislação brasileira, os sulcos do pneu devem ter uma profundidade de, no mínimo, 1,6 mm. Essa medida é indicada por uma marcação chamada TWI (do termo em inglês Tread Wear Indicator), que nada mais é que um ressalto em posição perpendicular às ranhuras. Quando essa saliência se alinha à borracha da banda de rodagem, é hora de substituir o componente.

Ressalto que perpassa os sulcos do pneu, conhecido como TWI, indica o desgaste do componente: quando ele se nivela à borracha da banda de rodagem, é hora de efetuar a troca

Marlos Ney Vidal/EM/D.A Press

Pinheiro aconselha a fazer a troca até um pouco antes, uma vez que tal medida de 1,6 mm já é o limite. “O ideal é trocar quando (a profundidade dos sulcos) chega a 3 mm”, aconselha. O engenheiro orienta também a verificar se os componentes estão se desgastando de maneira uniforme. Caso eles estejam sendo consumidos irregularmente — de modo mais acentuado na parte interna da banda de rodagem ou na parte externa — é sinal da existência de problemas no alinhamento da direção ou na suspensão, o que também compromete a dirigibilidade.

Além do desgaste, o motorista deve estar atento a danos nas laterais dos pneus, como fissuras ou bolhas. O engenheiro da SAE explica que esse tipo de avaria compromete a estrutura do componente. Por isso, apesar de alguns borracheiros oferecerem reparos, a coisa certa a se fazer é jogar o pneu fora e comprar outro. “Quanto maior a velocidade, maior a chance de um estouro e de uma perda de controle”, sintetiza Pinheiro. Mas os cuidados não param por aí: o veículo nunca deve rodar com um pneu novo e outro meia-vida no mesmo eixo, já que isso comprometeria o comportamento dinâmico. Consequentemente, tais componentes devem sempre ser substituídos aos pares.

Atenção na hora da troca

Quando for necessário substituir os pneus, o proprietário deve, novamente, seguir as características técnicas determinadas pelo fabricante do veículo, que constam no manual. Entre essas prescrições estão não apenas as dimensões do componente — entre as quais largura, perfil, diâmetro e aro —, como também o tipo de construção (radial ou diagonal) e os índices de carga e de velocidade.

Pinheiro desaconselha veementemente optar por componentes com tipificações distintas. "Houve todo um trabalho de engenharia para chegar àquelas especificações”, adverte. O ideal é escolher componentes de marcas confiáveis, certificadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). Também não é recomendável adquirir produtos recauchutados ou remoldados.

Danos como bolhas nas laterais inutilizam o pneu

Eduardo Rocha/EM

Manutenção

Rodar com pneus em bom estado é fundamental, mas não basta. Eles demandam algumas manutenções periódicas, entre as quais a calibragem de acordo com os parâmetros estabelecidos pelo fabricante do veículo. O especialista da Bridgestone recomenda fazer esse procedimento a cada 15 dias ou antes de viagens longas, sempre com os componentes frios (eles devem rodar, no máximo, 3 km depois que o veículo deixa a garagem). Vale lembrar que os valores de calibragem ficam mais altos com carga máxima a bordo.

A sobrecarga, aliás, é uma questão que o condutor deve sempre evitar. “O excesso de peso compromete a estrutura dos pneus e eleva o risco de falhas. É importante respeitar os limites de carga do veículo e distribuir o peso de forma equilibrada”, pontua Ayala. Quando sustentam mais peso do que deveriam, tais componentes esquentam mais, o que pode ocasionar um estouro. Outra medida importante é manter o veículo sempre alinhado e balanceado.

Pinheiro, da SAE, aconselha ainda realizar periodicamente, a cada 8 mil ou 10 mil km, o rodízio dos pneus. Essa prática consiste em passar os componentes instalados no eixo dianteiro para o traseiro, e vice-versa. “O objetivo é muito simples: manter o desgaste nivelado entre os pneus”, destaca. Isso porque, em carros de passeio, os componentes dianteiros tendem a se desgastar mais rapidamente que os traseiros, pois recebem maiores esforços de frenagem, além da força da tração e dos movimentos da direção. 

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Tanto Pinheiro quanto Ayala recomendam ainda uma condução prudente, que contribui não só para a segurança dos ocupantes, mas também para a durabilidade dos pneus. “O motorista deve manter a suavidade ao volante, evitando freadas e acelerações bruscas”, diz o especialista da Bridgestone. “Impactos em buracos, lombadas e guias são grandes causadores de danos estruturais nos pneus. Uma condução atenta e cuidadosa ajuda a preservá-los”, complementa o engenheiro da SAE.

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