A poda das pitangueiras na trilha conhecida como Túnel das Pitangueiras, no Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, situado na Região Metropolitana de Belo Horizonte e abrangendo os municípios de Nova Lima, Brumadinho e Ibirité, gerou insatisfação entre frequentadores do local. O Instituto Estadual de Florestas (IEF), responsável pela administração do parque, esclareceu que a intervenção teve como objetivo melhorar a acessibilidade e garantir a segurança dos visitantes e das equipes de fiscalização. No entanto, moradores da região afirmam que a ação comprometeu a identidade da trilha.
Ricardo Francisco de Souza, 44 anos, engenheiro de segurança e morador do bairro Cardoso, na região do Barreiro, frequenta o parque desde a infância e faz parte do grupo de pessoas insatisfeitas com a mudança. “Havia um túnel de pitangas, então elas se entrelaçavam e formavam um túnel mesmo. Você tinha que se abaixar para passar. Agora virou uma área aberta. Disfarçadamente, você vê os pés de pitanga. Mas aquele espaço encantador não existe mais”, lamenta.
Túnel das Pitangueiras antes da poda
Segundo ele, o que antes era uma experiência imersiva na natureza foi substituído por um caminho cimentado e por árvores com copas reduzidas ou eliminadas. Ricardo também questiona a falta de diálogo com a população local. “Não houve consulta. A gente diz que o parque é nosso quintal porque está muito próximo dos bairros. A população deveria ter sido ouvida. Com as podas, o local perdeu completamente sua caracterização.”
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Ainda de acordo com o engenheiro, há relatos de que algumas pitangueiras foram removidas, embora o IEF negue essa informação — confira a nota de esclarecimento na íntegra ao final da reportagem. Ele destaca que, mesmo com a possibilidade de as copas voltarem a se entrelaçar no futuro, esse processo pode demorar anos. “Se tudo correr bem, sem vandalismo, com crescimento rápido, talvez em três anos tenhamos algo semelhante ao que havia.”
A polêmica tomou força após uma publicação de Ricardo nas redes sociais, que teve grande repercussão. “A postagem já tem quase três mil visualizações e dezenas de comentários. Muita gente está indignada com a mudança”, afirma.
“A gente entende a importância da acessibilidade, até para que cadeirantes possam visitar o local, mas o problema foi a forma como isso foi feito. Perdemos algo que fazia parte da nossa memória, da nossa identidade com o lugar”, conclui Ricardo.
Nota de esclarecimento do IEF
Em resposta às críticas, o Instituto Estadual de Florestas (IEF) divulgou uma nota de esclarecimento:
O Instituto Estadual de Florestas (IEF) informa que não há remoção de árvores na trilha conhecida como Túnel das Pitangueiras no Parque Estadual da Serra do Rola-Moça.
Foi realizada a poda de algumas das árvores no local para viabilizar a realização de obras para melhorias na passagem para pedestres, portadores de necessidades e a movimentação de equipes de fiscalização e resgate no Parque. As intervenções envolvem o calçamento da trilha, construção de alambrado para receber outras Pitangueiras.
As obras têm ainda o objetivo de evitar a abertura de trilhas clandestinas em áreas adjacentes
e evitar a erosão do solo.
Importante observar que o projeto de reforma foi apresentado ao Conselho Consultivo do Parque, que reúne pessoas e empresas do entorno da unidade de conservação.
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Patrimônio natural e histórico
Criado em 27 de setembro de 1994, o Parque Estadual da Serra do Rola-Moça abrange os municípios de Belo Horizonte, Brumadinho, Nova Lima e Ibirité, com uma área total de 4.006 hectares. Abriga os biomas Cerrado, Mata Atlântica e Campo Rupestre Ferruginoso, além de trilhas, mirantes, mananciais e atividades voltadas ao ecoturismo, à educação ambiental e à observação da natureza.
A Trilha das Pitangueiras é uma das mais visitadas, especialmente por moradores da região do Barreiro. O “túnel” de pitangueiras que batizava a trilha era um dos atrativos mais emblemáticos do parque, proporcionando uma experiência sensorial aos visitantes.
Estagiária sob supervisão da subeditora Fernanda Borges