Júlio Moreira
Por cinco dias, Santa Luzia respirou música, fé e juventude. Entre os sinos da Igreja Matriz e os aplausos ecoados dentro do Santuário, a cidade se transformou em palco para um coro de 400 vozes vindas de nove cidades brasileiras, reunidas no XVIII Congresso Nacional da Federação Pueri Cantores Brasil. De quarta-feira (23) até este domingo (27), crianças e adolescentes dedicados ao canto sacro ofereceram ao público um raro espetáculo de beleza e espiritualidade.
Foi a primeira vez que Santa Luzia sediou integralmente o congresso, viabilizado pelo empenho do maestro Paulo Ricardo — um menino cantor do passado, hoje regente do Coral Mater Ecclesiæ, que neste ano celebra 30 anos de fundação. Sob a batuta dele, a cidade viu nascer também a Orquestra Sinfônica de Santa Luzia, cuja estreia oficial será neste domingo, em cerimônia que promete ser memorável.
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“As pessoas vão se emocionar. Preparamos um encerramento muito especial”, afirmou o maestro Paulo Ricardo. “Haverá uma missa solene com a participação dos corais e, ao final, um grande momento musical coletivo reunindo todos os cantores presentes no congresso. É uma celebração da música, da fraternidade e do sucesso desse encontro tão significativo — e principalmente uma comemoração dos 30 anos do Coral Mater Ecclesiæ, que tem uma expressiva atuação na cultura da cidade.”
As noites luzienses foram marcadas por apresentações de coros infantojuvenis de diferentes origens: Belo Horizonte, Sete Lagoas, Itabirito, Pratápolis, Cássia, Passos (MG), Itajaí (SC), Campo Largo (PR) e, claro, Santa Luzia. Os concertos aconteceram sempre às 19h, encerrando-se por volta das 21h, em clima de comoção.
No centro de tudo, meninos e meninas cantores com as mãos pousadas no peito e os olhos voltados ao alto. Não por acaso, o congresso é mais que um evento artístico. Desde a criação, o Pueri Cantores tem sido espaço de formação espiritual e estética, onde jovens são convidados a olhar para dentro e cantar o que há de mais puro.
Messias Donizete Faleiros, presidente da Federação Nacional dos Corais e maestro dos Pequenos Cantores de Passos, destaca a força desse movimento. “Existem corais em toda Minas Gerais, mas há uma forte presença dos corais do Sul de Minas. A expectativa dos meninos cantores para essa jornada é muito grande. Eles aguardam com entusiasmo cada edição do congresso, ficam esperando ansiosamente, acompanhando todas as informações. Embora também realizemos encontros regionais, este é um congresso nacional muito aguardado.”
Segundo ele, a experiência vivida por esses jovens é única e transformadora. “Temos crianças participando a partir de 8 anos, mas, nas formações de base dos coros, muitas vezes elas começam com 5 ou 6 anos.
No congresso, a idade mínima é 8. E é um crescimento musical muito importante para a criança, porque há uma rica troca de experiências entre elas.”
Na manhã deste domingo, às 10h, a Missa de Encerramento no Santuário da Matriz reunirá os nove corais participantes em um mesmo altar. Juntos, interpretarão obras compostas especialmente para a ocasião, com destaque para a “Missa em Fá maior”, do compositor colonial mineiro José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita.
A população luziense acolheu o evento com entusiasmo e emoção. “Para mim, é uma coisa inédita, um evento com 400 cantores. Me emocionei muito”, contou Ivoneide Gonçalves Santos Oliveira, 62 anos, moradora de Santa Luzia. “Parabéns ao maestro Paulo, que proporcionou esse congresso acontecer aqui na cidade.”
Ana Gabrich, de 86 anos, também se disse tocada pelo que presenciou. “É muito bom ver essa união dos jovens. Emociona ver tanto jovem participando em algo tão importante como a música. Vê-los nesse congresso conforta o coração. Amei esse evento, ainda mais em um lugar tão especial como o Santuário de Santa Luzia.”
No gesto de cada regente, na afinação de cada nota, repousou o sentido maior da iniciativa: estimular a educação musical, celebrar a fé e oferecer um horizonte de sensibilidade às novas gerações. O Coral Regina Cli, composto exclusivamente por meninas, também emprestou sua harmonia à jornada.
O maestro Paulo Ricardo, idealizador da nova orquestra, conhece como poucos o que significa fazer parte dessa história. Natural de Belo Horizonte e residente em Santa Luzia, ele iniciou os estudos musicais aos 8 anos. Aos 15, já se dedicava à regência. Há oito anos, conduz com firmeza e delicadeza o mesmo coral onde deu os primeiros passos.
O XVIII Congresso Nacional Pueri Cantores Brasil chega ao fim neste domingo. Amanhã, a cidade volta à rotina — mas o silêncio entre um dia e outro continuará ressoando com a beleza que apenas o canto coral é capaz de deixar no ar.
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Entrevista: Maestro Paulo Ricardo
“São 30 anos de fé, arte e compromisso com a música coral”
O famoso Coral Mater Ecclesiæ de Santa Luzia está completando 30 anos. O que o senhor destaca nessa história?
Destaco, acima de tudo, a perseverança e a dedicação de todos que fizeram parte dessa história. O Coral Mater Ecclesiæ formou gerações de cantores, inclusive o maestro titular atual, contribuiu para a formação musical e humana de muitos jovens e levou o nome de Santa Luzia a diversos cantos do país. São 30 anos de fé, arte, educação e compromisso com a música coral.
Santa Luzia agora tem sua própria Orquestra Sinfônica. Como vai funcionar essa orquestra?
A Orquestra Sinfônica de Santa Luzia é uma iniciativa que nasceu do desejo de ampliar o cenário musical da cidade. Ela surge com o objetivo de ser um projeto de formação e difusão cultural, reunindo músicos locais e convidados. A ideia é que a orquestra atue de forma contínua, com apresentações em eventos culturais, religiosos e concertos abertos ao público.
Já há outras apresentações programadas?
Sim. Durante o XVIII Congresso Nacional da Federação Pueri Cantores, realizado em Santa Luzia, a orquestra participa de momentos especiais na Missa de Encerramento, neste domingo, às 10h, no Santuário. E já temos previstas outras apresentações no segundo semestre. Estamos organizando uma agenda com concertos, parcerias com grupos vocais, eventos que envolvam a comunidade e até uma pequena turnê pelas cidades de Ouro Preto, Mariana e Catas Altas.
E o que está preparado para o encerramento do Congresso neste domingo?
Preparamos um encerramento muito especial. Haverá uma missa solene com a participação de todos os corais e, ao final, um grande momento musical coletivo reunindo todos os cantores presentes no congresso. Será uma celebração da música, da fraternidade e do sucesso desse encontro tão significativo — e, principalmente, uma comemoração pelos 30 anos do Coral Mater Ecclesiæ, que tem uma expressiva atuação na cultura da cidade.