MODERNISMO

BH: painel do antigo prédio do Detran é entregue após anos 'escondido'

Obra de arte estava em avançado estado de deterioração e coberta por tapumes desde 2012. Atualmente, o edifício abriga a Corregedoria da Polícia Civil

Publicidade
Carregando...

Depois de mais de uma década coberta por tapumes, devido a danos provocados pela ação do tempo e do homem, um tesouro colorido voltou, ontem, a enfeitar uma das mais movimentadas vias de Belo Horizonte. Trata-se do painel cerâmico “Abstrato”, do artista Mário Silésio (1913-1990), que adorna a fachada do antigo prédio do Detran-MG, onde agora funciona a Corregedoria da Polícia Civil, na Avenida João Pinheiro, no Bairro Lourdes, Região Centro-Sul. A obra, de 1959, mede 12,5 m de comprimento por 2,60 m de altura e estava “escondida” em estado avançado de deterioração.

Por volta de 2012, o painel já estava em processo de desprendimento das cerâmicas, principalmente da parte central da obra. No mesmo ano, foi feita a cobertura, com o intuito de protegê-lo até que pudesse ser restaurado.

Somente em 2023, a arte foi contemplada em um projeto do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (Cecor), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que integra o "Programa Minas para Sempre". No ano seguinte, foi feita uma articulação entre o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), o Cecor e a Semente – plataforma virtual de seleção de projetos executados com recursos de medidas compensatórias. O orçamento do plano ficou em R$ 1.289.000.

Segundo a professora do curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais da Escola de Belas Artes da UFMG, Alessandra Rosado, o trabalho foi feito a partir de relatórios antigos que registravam a situação do painel. 

“Começamos a retirar os tapumes e vimos que havia, além das áreas com perdas, outras com risco de desprendimento. O painel também tinha uma deposição de sujidade intensa por ficar em uma área de tráfego”, conta Alessandra, que coordenou o projeto. Ela relatou que também havia adesivos colados, manchas causadas por produtos corrosivos e fissuras. 

A professora explica que a restauração foi feita por uma equipe especializada e que cada cerâmica foi cuidadosamente documentada e analisada para que a recuperação garantisse a autenticidade da obra. “As áreas de perdas, com lacunas, tiveram que ser preenchidas e pintadas da mesma cor, de forma que dessem a aparência do vitrificado. O processo foi feito sem agressividade, para conseguir o resultado adequado”, detalha.

Alessandra destaca também que as obras resgataram as cores do vitral, que foram modificadas pela ação do tempo, pela fuligem e pela poeira. “Quando os tapumes finalmente foram retirados, o painel respirou com todas as suas cores e para todo mundo poder usufruir dessa obra de arte”, comemora a professora. 

Restauração ainda exige cuidado 

Por outro lado, a coordenadora diz que, a longo prazo, o vitral ainda continua sujeito às intempéries. “O painel recebe uma insolação direta e fica em uma avenida movimentada. Passam ônibus e carros, você sente uma vibração intensa.” Pensando nisso, a reconstrução foi feita para prevenir possíveis males. “Foram feitas ações de juntas de dilatação, espaçamento técnico entre as cerâmicas para absorver as vibrações e uso de diferentes tipos de argamassa”, descreve Alessandra.

A professora ainda ressalta a necessidade de vigilância não só no prédio, como no entorno, por se tratar de uma região com muitos bens patrimoniais. “É preciso segurança para evitar pichações ou a ação de manifestações que ocorrem na avenida. Além disso, as próprias pessoas devem ajudar na preservação desse bem. Muitos que já passaram pelo edifício recordam do painel, têm uma memória afetiva e, tendo esse sentimento, devem protegê-lo. É uma arte para todos”, afirma.

Ícone modernista

Quem também comemora a entrega do “Abstrato” é o filho de Mário Silésio, Gustavo Silésio. Em entrevista ao Estado de Minas, ele disse que a família recebeu a notícia com satisfação. “Isso é muito importante. Meu pai, além de pintor, também era muralista e vitralista. Ele executou outros painéis em residências, clubes, como o Retiro das Pedras, na Pampulha, e outros lugares de arquitetura modernista”, recorda.

O artista foi um dos pioneiros da arte construtivista no estado. Nascido em Pará de Minas, na Região Central, Mário veio para Belo Horizonte, onde residiu até seu falecimento, em 1990. Seu trabalho, admirado pelos amantes das artes plásticas, é marcado pela versatilidade, traços desordenados, fortes e cores vivas. 

Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia 

Segundo Gustavo Silésio, a obra possui grande visibilidade e fica no entorno da Praça da Liberdade, que “por si só, já é uma expressão cultural”. O perímetro de sua localização também é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) desde 1983. “O painel abstrato geométrico é um ícone modernista de BH. É gratificante ver as pessoas satisfeitas com a entrega em ótimas condições dentro da cidade”, conclui o filho. 

*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice

Tópicos relacionados:

bh detran modernismo obra-de-arte

Acesse o Clube do Assinante

Clique aqui para finalizar a ativação.

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay