MUDANÇA

Água chega a lugares com histórico de seca em Minas

Projeto Universaliza Minas, da Copasa, visa a expansão do saneamento básico em áreas rurais e urbanas em situação de vulnerabilidade

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A água é a base da existência humana. Para além de matar a sede, atividades como agricultura e criação de animais dependem diretamente do acesso hídrico, impactando o desenvolvimento de regiões inteiras. No território mineiro, uma iniciativa visa a expansão do saneamento básico em áreas rurais e urbanas em situação de vulnerabilidade: o Programa Universaliza Minas, realizado pela Copasa.
Segundo o Instituto Trata Brasil, falta água tratada para 18,3% da população do estado, o que representa 3.763.582 pessoas. A situação é ainda pior em relação ao esgotamento sanitário, já que 22,4% não têm acesso ao serviço, ou seja, mais de 5 milhões de moradores. Os dados são do Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (Sinisa), do governo federal, de 2023.


O município de Januária, no Norte de Minas, localizado à beira do Rio São Francisco, é um dos mais importantes para a região e serve como porta de entrada para o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, reconhecido como Patrimônio Mundial Natural da Humanidade pela Unesco no último dia 13 de julho. A cidade e arredores receberam mais de R$ 1 milhão em investimentos em saneamento básico pelo Universaliza Minas e a reportagem do Estado de Minas foi conferir as ações desenvolvidas.

Na comunidade quilombola do Lapão, a 11 km do Centro de Januária, a entrega mais recente das obras ocorreu há cerca de um mês e, segundo Ana Paula Pires Pereira, líder comunitária local, a novidade foi recebida com muita felicidade. “A nossa comunidade sempre foi sofrida, não tinha água limpa. Como eram muitas pessoas e animais, a água não era suficiente para todo mundo. Agora, a minha mãe fala assim: ‘Nossa, filha, graças a Deus! Quando eu abro a torneira a água tá forte’”, revela.


Ana Paula lembra que, antes, o abastecimento era feito por meio de cisternas e a água não era tratada. Por vezes, ela relata, pequenos animais mortos, como sapos, eram encontrados já em estado de decomposição no reservatório. Na época da seca, as cisternas secavam e deixavam as casas sem água por dias. Nessas ocasiões, a solução era buscar água em cidades próximas ou aguardar a chegada de caminhões-pipa fornecidos pela prefeitura.

Programa Universaliza Minas, iniciativa de ampliação do acesso a agua tratada em comunidades rurais e áreas vulneráveis do estado. Distrito do Lapão.
Distrito do Lapão. Associação de Pequenos Agricultores Quilombola de Lapão, Estiva e adjacências. Na foto, Ana Paula Pires Pereira, líder comunitária de Lapão. Tulio Santos/EM/D.A. Press

Com o tempo, a comunidade passou a contar com abastecimento por meio de um sistema de poços artesianos e bombas hidráulicas, mas também sem tratamento. Juvenal Martins, de 48 anos, e sua esposa Ivani, de 40, possuem uma pequena criação de porcos e galinhas, além de uma horta, para vender nos arredores. O horticultor é o responsável por ligar as bombas para abastecer algumas comunidades próximas. Cada uma funciona por cerca de duas horas por dia para não sobrecarregar o sistema e queimar o dispositivo.


Quando há problemas com a bomba, o valor da peça para reposição é dividido por todos os moradores e a instalação é feita pela administração municipal. Todo o processo pode durar até 15 dias, a depender do problema. “Quem tem as caixas de armazenamento, dá para usar mais dias. Quem não tem precisa ter carroça ou carro e pegar em outra comunidade mais perto”, diz Juvenal.

Hoje, grande parte da comunidade divide o consumo entre a água do poço e da Copasa, devido a um receio: o preço da conta. O casal, por exemplo, recebe o abastecimento da Copasa há um mês, mas utiliza apenas para consumo da família – o poço continua sendo destinado à irrigação e tratamento dos animais. “A água é mais leve e melhor para a saúde, creio que vai ser muito bom pra gente. Mas eu ainda não usei muito para saber quanto é a conta, saber o que eu posso gastar a mais, né?”, explica Ivani.

Segundo a Copasa, por se tratar de uma comunidade quilombola, as famílias que estiverem inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), do governo federal, têm direito à tarifa social. O benefício deve ser solicitado por meio dos canais de atendimento da companhia.


A rede instalada pela Copasa abrange toda a área do Lapão e da comunidade vizinha Tabua. Mas, ao andar pelas comunidades, é possível ver que, apesar de os cavaletes estarem instalados nos muros, várias residências ainda não contam com o hidrômetro. Isso se deve, entre outros motivos, pela falta de numeração das casas. O gerente regional da companhia em Januária, Edson da Mota Marinho Filho, esclarece que a solicitação do serviço depende da colocação do número nos imóveis, o que precisa ser feito pela prefeitura.

Programa Universaliza Minas, iniciativa de ampliação do acesso a agua tratada em comunidades rurais e áreas vulneráveis do estado. Distrito do Lapão.
Programa Universaliza Minas, iniciativa de ampliação do acesso a agua tratada em comunidades rurais e áreas vulneráveis do estado. Distrito do Lapão. Tulio Santos/EM/D.A. Press. Brasil


A líder comunitária Ana Paula explica que essa e várias outras dúvidas surgiram entre os integrantes da comunidade e que, no início, o contato com a Copasa era mais difícil. Segundo ela, esse aspecto tem melhorado, com telefones e uma agência móvel circulando pelos territórios para orientar a população.


Fonte no São Francisco


Nos chuveiros e pias da região, é possível perceber uma camada branca que se forma em volta das saídas de água, revelando a condição altamente calcária. Seu consumo recorrente pode levar a problemas de saúde, como pedras nos rins, quadro frequente entre os moradores do Lapão e que atingiu Sandra de Santos Moura, de 34. “Pegava água em Januária, porque tive que fazer cirurgia nos rins e o médico me proibiu de tomar a água daqui, porque tem muito calcário. Agora, facilitou bastante porque tem água em casa”, comemora.

Sandra é doceira e trabalha com Roseni Gomes de Oliveira, de 46 – da produção dos sete sabores de doces as duas tiram o sustento. Elas pretendem fazer a instalação também em um pequeno cômodo onde ocorre a fabricação, depois de entenderem melhor os valores da tarifa e como isso pode refletir no negócio: “Por um lado é bom ter água tratada 24 horas, por outro a gente vai gastar mais”, avalia Moura.

Para entregar um fornecimento com baixo índice de calcário, a Copasa optou por utilizar a água do Rio São Francisco para abastecer Januária e região. Segundo a companhia, o padrão de potabilidade considera o limite máximo de 300mg/L de dureza na água. A água captada e tratada em Januária é entregue ao consumidor com 70 mg/L e, em Japonvar, com 180 mg/L. De acordo com a empresa, alguns estabelecimentos privados, prédios e condomínios residenciais optam por utilizar fonte própria de abastecimento, no caso o poço, que não passa por tratamento e não atende padrões de potabilidade.


Contagem regressiva 

Programa Universaliza Minas, iniciativa de ampliação do acesso a agua tratada em comunidades rurais e áreas vulneráveis do estado. Distrito do Lapão.
Obras da Copasa em rua do distrito de Melancias. Na foto, Thiago Gonçalves, morador de Melancias, distraído de Japonvar Tulio Santos/EM/D.A. Press

A 66 km de distância de Januária, a comunidade de Melancias, localizada a 18 km do Centro de Japonvar, ainda depende do bombeamento de água de poços artesianos e está passando pelo processo de instalação das tubulações pela Copasa. A expectativa é que a obra seja entregue nas próximas semanas.

A tubulação utilizada para a rede é a de polietileno de alta densidade (PEAD) que, por ser maleável, pode ser encontrada em rolos de até 200 metros. Isso permite que menos emendas sejam necessárias e, consequentemente, menos vazamentos e necessidade de manutenção. A conservação e atendimento para manutenção passa a ser responsabilidade da Copasa.
Apesar do transtorno da obra na rua onde mora, Thiago Gonçalves, de 18, não vê a hora de ter acesso à água encanada e disponível. “Sempre falta água e eu tenho que tomar banho de balde. É um descaso. Essa obra vai demorar, mas vai valer a pena”. O jovem garante que não se importa em pagar pelo serviço, desde que seja bem-feito.

O sentimento é o mesmo de Heronildes César e da filha Flávia, que moram na mesma rua de Thiago. Elas acreditam que os benefícios vão superar o aumento dos gastos da família com a conta de água. Flávia conta que dois tios se mudaram de Melancias devido à recorrente falta de água. Quando há desabastecimento, ela e a mãe precisam ir até um chafariz para buscar água com baldes. “Demorou muito (a instalação da rede), era para ter vindo antes. Há muito tempo que a gente sofre com a falta de água. A gente reclamava e nada. Agora parece que vai dar certo”, afirma Heronildes.


Especificações atendidas 


Criado em 2023, o Universaliza Minas é um programa social que conta com orçamento previsto de R$ 412 milhões e já atende 102 municípios e 261 localidades, beneficiando cerca de 83,4 mil pessoas. Até 2033, a estimativa é atingir 168 cidades e 649 localidades. O prazo segue o Novo Marco Legal do Saneamento, previsto pela Política Federal de Saneamento Básico, regulamentado pela Lei nº 11.445 de 2007, e atualizado pela Lei nº 14.026, de 15 de julho de 2020. A legislação estipula que, até o final de 2033, 99% da população brasileira deverá ter acesso à água tratada, e 90% à coleta e tratamento do esgoto.
Programa Universaliza Minas, iniciativa de ampliação do acesso a agua tratada em comunidades rurais e áreas vulneráveis do estado. Distrito do Lapão.
Obras da Copasa em rua do distrito de Melancias, distrito de Japonvar Tulio Santos/EM/D.A. Press

“A Copasa tem uma água com flúor e clorificada, que atende as especificações e são águas premiadas. Então, são vários benefícios para a dignidade, autoestima e saúde. Toda a sociedade ganha”, ressalta Fernando Passalio, presidente da empresa. Por ser um projeto social, Passalio explica que a viabilidade financeira do Universaliza se baseia em uma relação de compensação entre locais que geram mais lucro e outros, menos. “É óbvio que, se a gente fosse olhar do ponto de vista meramente financeiro, há lugares que gerariam mais lucro para a Copasa. Mas é uma responsabilidade da empresa com a sustentabilidade e que não é discurso, é realidade. Não estamos sendo economicamente irresponsáveis, a conta fecha”, declara.
Apesar da entrega das obras de abastecimento de água, o esgotamento sanitário ainda não chegou às comunidades de Lapão, Tabua e Melancias. Ao EM, a Copasa informou que estudos estão sendo realizados, mas não deu uma previsão de quando a instalação do serviço será realizada. “O esgoto é um pouco mais complexo, porque envolve todo esse trabalho ambiental, de entrega desses afluentes na natureza”, explica o presidente da Copasa.

Melissa Lima, superintendente regional, acrescenta que, para as comunidades no entorno de Januária, existe a possibilidade de utilizar a estação de tratamento de esgoto da cidade. Já para as comunidades ao redor de Japonvar é avaliado o tratamento por sistema estático, como biodigestores e fossas sépticas.
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Nas regiões Norte e Leste de Minas, que abrangem 279 municípios, o índice de cobertura da Copasa e Copanor é de 99,4%. Em relação à cobertura de coleta e tratamento de esgoto, a taxa de atendimento é de 79,9%. A companhia projeta R$ 16,9 bilhões em investimentos até 2029 para atingir a meta de esgotamento sanitário estabelecida no Novo Marco Legal do Saneamento. n 

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