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Estudante mineiro conquista o ouro em olimpíada de matemática nos EUA
Aos 16 anos, Marcos Paulo venceu alunos de todo o mundo na prova avançada da Copernicus Olympiad e traz medalha de ouro para o Sul de Minas
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11/08/2025 18:03
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Marcos Paulo Rodrigues de Oliveira, estudante da Escola Estadual Doutor José Marques de Oliveira, em Pouso Alegre, no Sul de Minas, conquistou medalha de ouro na Copernicus Olympiad, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Aos 16 anos, ele se destacou em uma das categorias mais avançadas da olimpíada internacional de matemática mesmo diante das mudanças de última hora na estrutura da prova.
A Copernicus Olympiad é considerada uma das olimpíadas de matemática mais prestigiadas do mundo, reunindo estudantes do ensino fundamental e médio de diversos países. Além da matemática, há outras modalidades como Olimpíada de Ciências Naturais, Olimpíada de Física e Astronomia, Olimpíada de Empreendedorismo de Copérnico e até Festival de Cinema.
A jornada começou dentro da sala de aula, de maneira curiosa. Marcos sempre gostou de desafios e descobriu sozinho a existência da olimpíada. “A matemática é muito difícil, de fato, mas eu não encaro ela como algo que você deve temer, porque nem sempre você deve gostar de coisas fáceis e odiar coisas difíceis. Sempre gostei muito de desafios. Comecei a competir profissionalmente no segundo ano do ensino médio e, a partir daí, comecei a procurar muitas Olimpíadas para fazer. Entre as competições eu achei a Copernicus pela internet. Fiz a primeira etapa por conta própria”, contou o estudante.
Foi apenas quando avançou para a fase internacional, realizada entre os dias 26 e 31 de julho, que Marcos procurou ajuda da escola com o apoio da mãe. A professora de matemática Aline Luíza Vilela, de 56 anos, lembra bem o momento.
“O Marcos sempre foi um aluno dedicado e esforçado. Ele estava procurando novos desafios. Quando ele foi selecionado para segunda etapa que ele nos contou. A partir daí começamos a correr atrás do processo, a parte burocrática para conseguir a verba. A diretora Caroline foi fundamental nesse processo", conta a professora.
Com o apoio da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG). que custeou passagens, alimentação, hospedagem e demais despesas, Marcos e Aline embarcaram rumo a Nova Iorque.
O jovem representou Minas Gerais e o Brasil no nível 5 da competição, uma das categorias mais avançadas, superando um desafio extra: a estrutura da prova foi alterada de última hora, tornando a avaliação mais difícil.
A mudança envolveu não apenas o tempo de prova, mas também o formato das questões e o sistema de pontuação. “Me senti um pouco nervoso. A prova original tinha 25 questões, as últimas eram fechadas, mais difíceis, era uma hora de prova. Se você acertasse uma questão, você ganhava quatro pontos, se você errasse, perderia um ponto e se deixasse em branco não perdia ponto nenhum. Depois alteraram a prova para 25 questões todas fechadas, eram 90 minutos de prova, e se errasse alguma questão não perderia ponto. Após as alterações eu já imaginava que eles iam a prova inteira para balancear. Com essas modificações eles deixaram a prova extremamente mais difícil. Cheguei a ser pessimista durante a prova”, conta o estudante.
Mesmo com as alterações, o estudante brilhou. A cerimônia de premiação teve clima de suspense. Um problema técnico interrompeu o evento antes da categoria de Marcos. “Estávamos no auditório com 600 estudantes do mundo todo. E a expectativa que cada vez aumentando mais, porque como a categoria dele era a última, a gente foi naquela emoção. A prova foi muito difícil, então a gente ficou naquela baixa expectativa, achando que não ia conseguir. De repente teve problema no gerador e encerrou-se a premiação justo na categoria 5. E nós tivemos que deixar o ambiente porque os organizadores ficaram preocupados com a segurança. Depois chamaram o Marcos em particular e contaram pra ele. Depois ele veio e me contou que tinha ganhado a medalha”, relata Aline.
No Brasil, a mãe de Marcos, Elisângela Rodrigues Wanderley de Oliveira, acompanhou tudo de perto, por meio da internet. “Foi uma loucura muito grande. A gente estava assistindo a transmissão ao vivo e aí teve um problema e premiação parou, então ficou aquela confusão, sem saber se ia dar certo, se não ia, mas aí ele passou correndo na frente da câmera falando: 'Mãe, ganhei medalha'. E aí foi só alegria. E depois ele mandou o áudio confirmando para mim: 'Mãe, a medalha de ouro'. A gente pulou de alegria”.
A vitória foi celebrada também pelo vice-governador de Minas Gerais, Mateus Simões, que mandou mensagem para Marcos. “Mesmo com essas mudanças, você demonstrou capacidade de superação e excelência. Quando chegar em casa, trate de comemorar muito com sua família. É uma conquista de todos nós”, disse.
Apoio essencial para a conquista
Ao lado de Marcos esteve a professora de matemática Aline, que o acompanhou desde a preparação até os dias de competição. “A Aline me disponibilizou materiais didáticos e as aulas dela me ajudaram muito em vários assuntos. No começo imaginava que eu ia sozinho, só que agora eu não imagino como seria a minha vida lá sem ela na viagem. Ela fez praticamente 80% de tudo, porque quando a gente foi entrar no país, foi ela me ajudou com o inglês, a pedir comida. Sem ela, eu não sei o que que eu faria", conta o aluno.
A mãe de Marcos admite que sofreu ao deixá-lo viajar sozinho, mas se tranquilizou ao saber que Aline iria junto. “Quando a Carol falou para mim ele iria acompanhado de uma professora da escola eu fiquei mais tranquila. A Aline foi os meus olhos. Ela era minha segurança, saber que qualquer coisa que acontecesse ele não estaria desamparado. Ela foi uma companhia para ele, porque um menino que nunca saiu de casa assim numa viagem tão grande e ir para um país desconhecido, outra língua, sozinho seria muito difícil. Ela foi o meu porto seguro, porque eu estava mandando meu filho para um país distante, mas ele não estava sozinho, ele estava pela companhia dela,” relata Elisângela.
Para a professora, o desafio foi além da matemática. “Marcos nunca tinha saído do país. Viajamos só nós dois, eu fui muito mais uma guia, uma ajudante do que a professora de matemática somente. Eu fui muito mais nesse processo de guia. Tive que lidar com idioma, alimentação, transporte, tudo. Foram muitos aprendizados”, relata.
Experiências além da provas
Para além das provas, a competição promoveu atividades culturais e de integração entre os participantes. Durante a viagem, eles viveram dias intensos. "Visitamos vários lugares dentro de Nova Iorque, que foi fantástico. Teve dias que demos mais de 23 mil passos. Ficamos tão encantados com todos os lugares que visitamos como a Estátua da Liberdade e o Mercado Financeiro, que não percebemos que andamos muito. Foi tudo maravilhoso”, lembra.
A viagem foi muito emocionante para o estudante. “Foi a minha primeira viagem internacional, a primeira cidade internacional que eu conheço na minha vida. Cidade enorme com muitas pessoas alegres, pessoas diferentes. Foi assim muito legal essa parte de conhecer novas cidades, novas pessoas. Sem dúvida, a Estátua da Liberdade foi muito marcante para mim”, relata o estudante.
Mais que uma medalha
Para o estudante, essa medalha é só o começo. “Ela foi um marco muito grande para mim. É minha primeira internacional e ainda de ouro. Isso mostra que é só o começo. Por mais que eu esteja entrando no terceiro ano de ensino médio, daqui a pouco estou na faculdade, e lá também tem bastante olimpíadas. Acredito que essa medalha marca o começo de uma era vitoriosa.”
Para a mãe, a medalha apenas confirmou o que já sentia. “A medalha é um reconhecimento do trabalho dele, do esforço dele que ele buscou. Para mim ele já era um vencedor, só de ele ter ido. Essa medalha veio coroar uma coisa que já era fantástica. Já era muito bom ele ter ido lá, dele ter tido a iniciativa de ter se inscrito, de ter participado. Se ele tivesse voltado sem medalha, a festa seria a mesma, porque só do fato dele ter ido, dele ter acreditado, já é uma coisa para se comemorar. A medalha só veio mesmo confirmar que ele é o filho de ouro”.
Inspiração
Na volta para Pouso Alegre, a escola organizou uma recepção especial para o estudante. Colegas e professores celebraram como se a conquista fosse deles também. “Quando eu cheguei na escola fomos recebidos com muito carinho e os alunos muito atenciosos, curiosos, e todo mundo valorizando muito. Eu achei muito bonito uma turma, que veio falar comigo que eles se sentiram vitoriosos junto com o Marcos. Falei com eles que o Marcos foi na matemática e eles são capazes de fazer o que você quiser desde que você se dedique. Isso serve de motivação para qualquer pessoa, não só para os nossos alunos”, conta a professora.
"Essa vitória do Marcos, nós já tomamos como uma vitória nossa. Ela vem como um reconhecimento da competência dos nossos profissionais, da dedicação de cada funcionário da escola. Ela vem como um reconhecimento do ensino público de qualidade. Todo o histórico escolar do Marcos, desde a primeira escola que ele estudou até hoje, faz parte desse sucesso, com a sua sementinha, colhendo o seu fruto e comemorando junto com ele essa medalha”, relata a diretora Caroline Costa Zampieri dos Santos.
Marcos deixa um conselho para outros estudantes que sonham em competir em olimpíadas. “Acreditem em si mesmos, sejam amorosos e carinhosos em tudo que fazem, independente se quiserem ser ou fazer. Porque nessa vida você tem que lutar para tudo. Se você quer fazer uma Olimpíada, se você quer se destacar no seu emprego, você tem que se dedicar muito. Você deve sempre almejar algo maior, independentemente do que seja. E, para quem quiser ganhar uma medalha de ouro, prata ou de bronze em alguma Olimpíada, acredite em si mesmo, trabalhe duro para isso e nunca deixe que as pessoas te deixem desanimados. Primeiro você tem que primeiro acreditar em você”, conclui o estudante.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice