‘Você vai matar a gente trabalhando?’, gritou gari antes da morte de colega
No sepultamento de Laudemir de Souza Fernandes, morto a tiro, o gari Tiago Rodrigues contou sobre o testemunho do homicídio
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Siga no“Você vai matar a gente trabalhando? Você vai atirar em nós atrás de um caminhão de lixo? Aqui só tem pai de família”. As indagações teriam sido feitas pelo gari Tiago Rodrigues, de acordo com relatado por ele, ao suspeito de matar Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos.
Tiago foi ao sepultamento do colega de trabalho na tarde desta terça-feira (12/8), onde contou sobre as circunstâncias do homicídio em cima de um caminhão. O suspeito Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47, foi preso em flagrante nessa segunda-feira (11/8).
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Tiago contou que ele, Laudemir e os colegas estavam trabalhando nessa segunda quando um carro veio com pressa para passar na rua. “Eu virei e falei: espera um pouquinho. Pedi a motorista para jogar um pouquinho para o canto para ele passar”, contou o gari. O caso ocorreu no Bairro Vista Alegre, na Região Oeste de BH.
Tiago relatou que, em seguida, o suspeito teria parado próximo à janela do caminhão de coleta, sacado a arma e dito que se esbarrassem no carro dele, ele ia dar um tiro. “Naquela hora, eu gritei: “Você vai dar um tiro na mulher trabalhando? Vai matar ela dentro do caminhão?”. Em seguida, Tiago disse que falou para o motorista do carro passar e seguir em frente.
O gari relatou que o suspeito teria seguido com o carro, mas logo parado o veículo, descido, sacado a arma e dito: “Vocês estão duvidando de mim?”. Depois disso, Tiago disse que gritou questionando se o homem ia atirar neles, que estavam trabalhando. Em seguida, Laudemir de Souza Fernandes foi atingido por um tiro no abdômen.
A vítima chegou a ser socorrida por populares. Ele foi encaminhado ao Hospital Santa Rita, no Bairro Jardim Industrial, em Contagem, na Região Metropolitana de BH, mas não resistiu.
Sepultamento
Além de Tiago Rodrigues, outros garis e familiares de Laudemir estavam presentes no sepultamento do trabalhador na tarde desta terça-feira. A despedida ocorreu no Cemitério Bom Jesus, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
No local, caminhões de lixo circularam e colegas de trabalho vestiram uniformes para homenagear a vítima. Entre os familiares e amigos de Laudemir, estava Liliane França da Silva, a viúva, que falou sobre o marido aos prantos.
“Ele é meu grande amor. Ele foi meu grande amor e sempre será, e eu vou lutar por isso, por justiça”, disse a mulher, que vestia um dos uniformes do esposo. Liliane contou, ainda, que Laudemir era apaziguador e morreu fazendo o que amava.
Eledias Aparecida Rodrigues, de 42 anos, condutora do caminhão de coleta e testemunha do crime, também marcou presença no sepultamento de Laudemir. Ela tentou conceder entrevista ao Estado de Minas, mas estava muito abalada e não conseguiu falar.
Quem é o suspeito de matar o gari?
O suspeito de cometer o crime é Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, que era vice-presidente de vendas em uma empresa no ramo alimentício e marido da delegada da Polícia Civil de Minas Gerais Ana Paula Balbino Nogueira. Ele foi desligado da empresa no dia seguinte à repercussão do crime. Em seu perfil do Instagram, que foi desativado poucas horas após a prisão, ele se descrevia, em inglês, como "cristão, esposo, pai e patriota".
Renê foi preso pela Polícia Militar e encaminhado para o Ceresp Gameleira depois de ter prestado depoimento no Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), durante a noite de segunda e madrugada desta terça-feira. O suspeito foi localizado entrando no estacionamento de uma academia na Avenida Raja Gabáglia na tarde dessa segunda, onde foi abordado.
Delegada investigada
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) instaurou um inquérito para investigar a delegada Ana Paula Balbino Nogueira, esposa de Renê da Silva Nogueira Júnior. O calibre da arma utilizada no crime, apreendida pela Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) nessa segunda-feira, é o mesmo de uma arma da servidora.
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De acordo com informações do boletim de ocorrência, ao ser abordado adentrando o estacionamento da academia, o suspeito disse à polícia que "não participou do episódio e que sua esposa é delegada da Polícia Civil de Minas Gerais, que o veículo abordado estaria em nome da servidora". Ainda segundo o registro policial, ele teria dito ainda que "a policial teria uma arma de fogo do mesmo calibre da que foi utilizada no homicídio".
*Com informações de Clara Mariz, Giovanna de Souza, Edésio Ferreira, Alexandre Carneiro e Ivan Drummond