Toque de sinos, aplausos, buzinaço, foguetório e grande comoção transformaram o retorno da imagem de Santana Mestra, furtada na década de 1980, em momento histórico na comunidade de Santana de Patos, em Patos de Minas, na Região Alto Paranaíba (MG). A peça de madeira policromada, do século 18, chamada carinhosamente de Senhora Santana, chegou à igreja matriz pelas mãos do monsenhor Leandro Siqueira Silva, titular da Paróquia Senhora Santana e vigário geral da Diocese de Patos de Minas, e do ministro da eucaristia local, Geraldo Alves de Oliveira. “A volta da imagem da Senhora Santana, desaparecida há mais de 40 anos, traz o vigor da esperança e do reerguimento da fé nesta comunidade paroquial”, destacou monsenhor Leandro.
Devido às obras de restauração do templo dedicado à mãe da Virgem Maria e avó de Jesus, o objeto de fé não ficará por enquanto na matriz de Santana de Patos. Para alegria dos fiéis, esteve presente na missa de sábado (26), Dia de Santana, e de domingo (27), presididas pelo bispo da Diocese de Patos de Minas, dom frei Cláudio Nori Sturm, e concelebrada por monsenhor Leandro e padre Jair Simão, nascido em Santana de Patos. Por medida de segurança, a imagem foi levada para outro local, retornando em definitivo quando terminar o serviço e houver equipamentos de vigilância.
O resgate da peça foi possível graças à ação da Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico (CPPC), do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Conforme o promotor de Justiça Marcelo de Azevedo Maffra, coordenador da CPPC, a plataforma Sondar, da instituição, recebeu a denúncia de que a imagem fora localizada num antiquário de Belo Horizonte. “Fizemos o contato com a recomendação de entrega do bem, e, em 2 de setembro do ano passado, a peça foi devolvida na coordenadoria, na capital. “Os dados extraídos de recibo apresentado mostram que a imagem de Santana foi comprada em 27 de janeiro de 1984, no Rio de Janeiro (RJ)”, explicou Maffra.
O extravio, portanto, ocorreu em data anterior a 1984. “Em conversa com os moradores de Santana de Patos, não tivemos uma data precisa do desaparecimento. Eles apenas mencionaram que se deu na década de 1980. O que coincide com as informações obtidas em pesquisa”, acrescentou o titular da CPPC. Dois dias antes de ser levada à matriz, a imagem foi entregue ao bispo dom Frei Cláudio e ao monsenhor Leandro pela restauradora e historiadora do MPMG, Paula Carolina Miranda Novais.
COMOÇÃO
Coordenadora de liturgia e voluntária na Igreja Matriz de Santana, Leidiene das Dores Simão Leôncio, de 45 anos, era criança quando a peça foi furtada do templo distante 30 quilômetros da sede municipal. “Os moradores mais antigos sempre falaram nesse furto, e não se conformavam com o desaparecimento. Por isso a chegada da nossa padroeira foi tão calorosa”, afirma Leidiene.
A coordenadora da liturgia conta que o templo foi tomado pelos residentes e pessoas de outras localidades. “Tinha gente em todo canto e do lado de fora. O cortejo passou por todas as ruas até chegar à igreja. Muitos se ajoelharam diante da imagem, enfeitaram as casas e lançaram pétalas de flores. Realmente, um dia de muita emoção.”
Em 1816, foi erguido o primeiro templo católico – uma capela particular – do povoado, atual distrito de Santana de Patos. Depois, dona Ana Soares da Encarnação doou parte de suas terras para a construção de uma capela pública dedicada a Santana, escolhida como padroeira do lugar, e por ter seu nome. Essa segunda parte da história ocorreu em 1822, ano da Independência do Brasil.
A Igreja Matriz segue o estilo artístico do Barroco mineiro. Em 19 de julho de 1872, foi criada a paróquia, sendo instituída oficialmente em 8 de setembro de 1873. Luiz Ferreira da Silva foi nomeado o primeiro vigário. Atualmente, o templo passa pelo processo de restauração liderado por monsenhor Leandro Siqueira.
Devido a problemas estruturais, a matriz ficou fechada durante 10 anos. Em 2023, foi concluída a primeira fase, com reforço dos pilares, reparos no telhado e reorganização completa da parte elétrica. A iniciativa se tornou possível graças à parceria entre a Prefeitura de Patos de Minas e a comunidade.
Neste ano, iniciou-se a segunda etapa da restauração, que pode ser chamada de “fase artística” da obra, segundo monsenhor Leandro. Os trabalhos começaram pela parte externa, com a recuperação dos beirais e janelas, e também pelo forro de madeira da parte interna.
BENS RESGATADOS
De acordo com a CPPC/MPMG, o estado tem 1.921 bens desaparecidos, tendo sido resgatados 644 e restituídos, incluindo o São José de Botas, 135. No total de 2,7 mil cadastrados pela instituição, a maior parte (1.071) contempla documentos, seguindo-se os objetos sacros (834).