A equipe de robótica Alphabots, do colégio Sesi Cataguases, na Zona da Mata mineira, foi a grande campeã na categoria projeto de inovação do Festival Sesi de Robótica de Minas Gerais de 2024. Os alunos, com idades entre os 12 a 14 anos, desenvolveram um tapete feito de fibra de coco, cabelo humano e juta – uma fibra têxtil –, que consegue absorver óleo derramado no mar. O próximo torneio será nos dias 31 de outubro e 1º de novembro, com o tema arqueologia e os jovens já se preparam.
Os membros da equipe chegaram ao resultado final, o Coconut Hair (cabelo de côco, em português), como o projeto é chamado, depois de levantarem um problema relevante para a sociedade, discutirem qual seria a solução para ele e como alcançá-la. O tema da temporada de 2024 era relacionado ao oceano, voltado a solucionar problemas relacionados ao “mundo aquático”.
Pensando nisso, os alunos desenvolveram a novidade. “Nada mais é do que um tapete, que, quando colocado no mar, suga óleos derramados na água, possibilitando a sua limpeza. É uma forma mais sustentável de tirar esses poluente dos oceanos”, explica Rangel Zignago, professor de matemática no Sesi Cataguases e que orientou os estudantes.
Leia Mais
Maria Luiza Lacerda Santos, de 13 anos, foi uma das responsáveis pela iniciativa premiada e destaca sua importância. “A finalidade dele é absorver o petróleo lançado na natureza durante a exploração. Isso é um problema muito grave, pois afeta muitos animais”, destaca.
E por quê esse nome? “Porque a gente fez diversas pesquisas e entramos em contato com a Marcela Campista, que é uma profissional dessa área, que nos auxiliou nessa parte de prototipagem. Foi ela que nos deu a ideia de batizar nosso tapete assim”, diz ela.
Como nasce um projeto de robótica
De acordo com Maria Luiza, o grupo é constituído por seis membros oficiais e três suplentes. E Cada um tem uma função. “Eu e o Pedro Antônio, por exemplo, somos da inovação e cuidamos dessa parte do desenvolvimento do projeto, porém com a ajuda de todo mundo”, fala.
Foram feitas muitas pesquisas bibliográficas, estudos científicos sobre as propriedades dos materiais a serem utilizados e consulta à especialistas da comunidade local. Profissionais como a, diretora do programa de pós graduação e inovação do instituto politécnico da UFRJ, Marcela Campista e Beatriz Becker, engenheira sanitária e ambiental do instituto politécnico da UFRJ, foram ouvidos a fim de aferir os impactos, efetividade e escalabilidade do Coconut Hair.
“Os meninos trabalharam bastante, tiveram que pesquisar e resolver problemas, mas sempre se divertindo. Dentre os aprendizados no decorrer do projeto, cito os alunos porque eles aprenderam a conduzir essa pesquisa estruturada sobre o tema da temporada, que era chamado submerged (submerso em português). Eles identificaram um problema, levantaram dados, entrevistaram os especialistas e propuseram essa solução, que foi inovadora”, relata Rangel Zignago.
Em sequência, aconteceu a fase de prototipar, ou seja, colocar o projeto em prática, primeiro criando uma versão simplificada, com apoio do Senai. O protótipo foi testado com amostras de petróleo bruto vindas da Petrobras e a eficiência foi comprovada.
Na foto, Pedro Antônio de Souza Cerqueira Leite (12) e Maria Luiza Lacerda Santos (13), durante a fase de testes
Rangel destaca que, durante todo o processo, houve colaboração, inclusão, respeito ao colega e comunicação: “Na medida que eles iam desenvolvendo e dividindo as tarefas, resolveram as divergências que surgiram de forma respeitosa”, diz.
Feita todas essas etapas, a equipe Alphabots conseguiu chegar na solução aos impactos dos vazamentos de petróleo durante seu transporte. Um tapete de 7x7 cm custa R$ 0,47. Proporcionalmente a esse valor, o tapete é capaz de absorver e aproveitar 24,6 litros de petróleo bruto, o que é equivalente a, aproximadamente, R$ 66, com custo de produção de somente R$ 64,60.
Quanto à replicabilidade do tapete, funciona tanto para larga escala quanto para confecções manuais. Isso se deve ao fato de que, no Brasil, a fibra de coco e o cabelo humano são tratados como resíduos e descartados. Assim, o projeto também consegue amenizar o problema da logística reversa de determinadas empresas.
Todo esse trabalho valeu a pena, segundo Pedro Antônio de Souza Cerqueira Leite, de 12 anos. “Ganhar o prêmio foi surreal. Olhar para trás, lembrar de todo tempo dedicado, todos os feriados, os sábados… É muito gratificante, uma experiência única. Competimos contra 60 equipes, algumas muito experientes”, diz.
Reconhecimento técnico, articulações estratégicas e potencial de impacto ambiental
O Coconut Hair vem sendo respaldado por uma sólida base científica, com validação de diversos especialistas renomados nas áreas de inovação, engenharia e meio ambiente. A novidade também despertou o interesse de instituições estratégicas, como a Petrobras e o projeto Fiotrar. As parcerias são fundamentais para o sucesso dos projetos.
Pedro Antônio disse que a Petrobras ganha muito utilizando o Coconut Hair. “Os métodos que eles utilizam são muito caros. Já o nosso tapete seria uma ótima escolha para eles e também para a sociedade, porque o petróleo não fica só no alto-mar, a maré pode levá-lo para a costa brasileira e até para o litoral de outros países”, explica.
Para quem se interessar em comprar essa nova tecnologia, Pedro disse que é só entrar em contato pelo Instagram. Eles pretendem lançar um tutorial de como desenvolver o tapete em breve.
Com estrutura sólida, respaldo técnico e articulação institucional, o tapete se apresenta como uma alternativa viável e de alto impacto para mitigar danos causados por vazamentos de petróleo, alinhando-se a objetivos globais de desenvolvimento sustentável.
O tema da temporada de 2024 era relacionado ao oceano, voltado a solucionar problemas relacionados ao "mundo aquático"
Robótica: onde teoria e prática se entrelaçam
Sobre os projetos já vivenciados pelo professor Rangel, ele os define como “laboratórios vivos, onde teoria e prática se entrelaçam”. Ele acredita que os jovens que participam dessas experiências serão futuros profissionais da área de ciência, tecnologia, engenharia e matemática.
“Esse trabalho permite aos alunos desenvolver várias habilidades, tanto na área de inovação e criatividade, no momento em que eles precisam pesquisar problemas, testar hipóteses, validar soluções, como também habilidades críticas. Então, nesses projetos interdisciplinares, a tendência, cada vez mais, é que se estenda para outras disciplinas da escola e até mesmo situações cotidianas”, explica o acadêmico.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia