Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, morto a tiro nessa segunda-feira (11/8) durante o trabalho, é sepultado na tarde desta terça-feira (12/8). Emocionados, familiares e colegas de trabalho, uniformizados para homenageá-lo, estão presentes na despedida e clamam por justiça. O sepultamento ocorre no Cemitério Bom Jesus, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Caminhões de lixo também estão circulando na porta do local em homenagem à vítima. Ao som dos gritos por justiça, as pessoas presentes também puxaram uma salva de palmas e fizeram uma oração.

Entre os familiares e amigos de Laudemir, está Liliane França da Silva, a viúva, que falou sobre o marido aos prantos. “Ele é meu grande amor. Ele foi meu grande amor e sempre será, e eu vou lutar por isso, por justiça”, disse a mulher, que está vestindo um dos uniformes do esposo. Liliane contou, ainda, que Laudemir era apaziguador e morreu fazendo o que amava.

Também presente na despedida, Tiago Rodrigues, gari e testemunha do assassinato, subiu em cima de um caminhão e contou a dinâmica do crime. “Se vocês estão sentindo essa tristeza, imagine eu, que estava lá. Imagine eu, que estava tentando lutar para salvar ele, para que o tal indivíduo não cometesse coisa pior”, disse o trabalhador. 

Eledias Aparecida Rodrigues, de 42 anos, condutora do caminhão de coleta e testemunha do crime, também marcou presença no sepultamento de Laudemir. Ela tentou conceder entrevista ao Estado de Minas, mas estava muito abalada e não conseguiu falar. 

Velório

O velório de Laudemir, que ocorreu na manhã desta terça-feira (12/8), também foi marcado por revolta e pedidos de justiça. O ato foi realizado em uma Igreja Quadrangular, no Bairro Nova Contagem, em Contagem (MG), na Região Metropolitana. 

Colegas de trabalho de Laudemir de Souza Fernandes, gari de 44 anos que foi morto a tiros na última segunda-feira (11/8), reúnem-se no enterro Leandro Couri/EM/D.A Press
Colegas de trabalho de Laudemir de Souza Fernandes, gari de 44 anos que foi morto a tiros na última segunda-feira (11/8), reúnem-se no enterro Leandro Couri/EM/D.A Press
Colegas de trabalho de Laudemir de Souza Fernandes, gari de 44 anos que foi morto a tiros na última segunda-feira (11/8), reúnem-se no enterro Leandro Couri/EM/D.A Press
Liliane França da Silva, esposa de Laudemir de Souza Fernandes, gari de 44 anos que foi morto a tiros na última segunda-feira (11/8), é acolhida durante o sepultamento Leandro Couri/EM/D.A Press
O velório de Laudemir de Souza Fernandes ocorreu na manhã desta terça-feira (12/8). Na foto, a motorista do caminhão, Eledias Aparecida Rodrigues Leandro Couri/EM/D.A Press
O velório de Laudemir de Souza Fernandes ocorreu na manhã desta terça-feira (12/8). Na foto, a irmã da ví­tima, Lucileni de Souza Edésio Ferreira/EM/D.A Press
O velório de Laudemir de Souza Fernandes ocorreu na manhã desta terça-feira (12/8). Na foto, a sobrinha Jaqueline Dias com a irmã da vítima, Lucileni de Souza Edésio Ferreira/EM/D.A Press

Em casa, o sentimento é de revolta. “Estamos em choque e com muita, muita revolta. Estamos sem chão!”, lamentou Jessica França, de 25 anos, enteada de Laudemir. “Ele era uma pessoa muito trabalhadora, honesta, carinhosa e protetora, cuidava muito da gente".

“Minha irmã estava até lembrando aqui, domingo foi o dia que ele estava de folga e ele fez café da manhã para a gente. Ele sempre fazia isso para a gente” contou. Laudemir deixou também uma filha de 15 anos. Segundo a irmã, ela também está sem chão.

A expectativa agora é lutar por justiça. “Vamos buscar justiça com advogados da família. A gente agradece o acolhimento, esse carinho e essa presença. Nesse momento é tudo que precisamos”, concluiu.

O crime 

Laudemir foi atingido por um disparo de arma de fogo no abdômen. O crime foi registrado na Rua Modestina de Souza, por volta das 8h. Testemunhas relataram que a vítima e seus colegas recolhiam o lixo quando a motorista do caminhão parou e encostou o veículo para que um carro, modelo BYD, pudesse passar. 

Nesse momento, o homem teria abaixado a janela e gritado para a motorista que, se alguém encostasse em seu veículo, ele iria matar. Depois das ameaças, os garis, incluindo Laudemir, pediram que o suspeito tivesse calma e o orientaram a seguir o caminho. Mesmo assim, o homem, conforme as testemunhas, desceu do carro alterado e atirou contra eles, atingindo Laudemir. 

A vítima chegou a ser socorrida por populares. Ele foi encaminhado ao Hospital Santa Rita, no Bairro Jardim Industrial, em Contagem, na Região Metropolitana de BH, mas não resistiu.  

Suspeito 

O suspeito de cometer o crime é Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, que era vice-presidente de vendas em uma empresa no ramo alimentício e marido da delegada da Polícia Civil de Minas Gerais Ana Paula Balbino Nogueira. Em seu perfil do Instagram, que foi desativado poucas horas após a prisão, ele se descrevia, em inglês, como "cristão, esposo, pai e patriota."

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Renê foi preso pela Polícia Militar e encaminhado para o Ceresp Gameleira depois de ter prestado depoimento no Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), durante a noite de segunda e madrugada desta terça-feira. O suspeito foi localizado entrando no estacionamento de uma academia na Avenida Raja Gabáglia na tarde dessa segunda, onde foi abordado. 

Tendência

O Trends, ferramenta do Google que mostra os temas mais populares no buscador em um passado recente, informa que o termo "gari" alcançou seu mais alto teor de pesquisas nesta terça-feira (12).

Em meio ao crime cometido pelo marido da delegada em BH, a população brasileira, especialmente em Minas Gerais, passou a procurar informações sobre o caso.

Antes da semana atual, o termo registrou um aumento de buscas também na primeira semana de junho. Na ocasião, outro crime contra um coletor de lixo foi registrado, desta vez em João Pessoa. A vítima, de 38 anos, levou seis tiros.

*Com informações de Clara Mariz, Giovanna de Souza, Edésio Ferreira, Alexandre Carneiro e Ivan Drummond

 
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