A mineira Carolina Arruda Leite, de 28 anos, diagnosticada com neuralgia do trigêmeo, condição rara conhecida como a 'pior dor do mundo' pela medicina, publicou um vídeo em seu perfil no Instagram nesta terça-feira (19/8).

Ela acordou nessa segunda-feira (18/9) do coma induzido na Santa Casa de Alfenas (MG), no Sul do estado. A veterinária havia sido colocada nessa condição na quarta-feira (13/8) com o objetivo de fazer seu cérebro “desligar” e “reiniciar”, voltando a responder aos medicamentos que há anos já não surtem efeito.

Essa é a primeira vez que Carolina, inconsciente, fica sem sentir os efeitos da doença, que, de tão agressiva, provoca dores constantes. Ainda com a voz rouca, apresentando falhas depois de voltar do coma, a jovem disse que a dor continua como antes. “Não piorou e não melhorou. (...). Estou com falta de ar e por isso ainda estou com oxigênio”, contou.  

"Eu só queria ter um pouco de paz, nem que fosse apagando tudo, por pelo menos alguns dias, só para tentar escapar desse pesadelo que não tem fim", desabafou a veterinária em vídeo publicado antes de ser submetida à indução do coma. A decisão foi classificada por ela como uma medida “extrema e desesperada”, sendo a única alternativa diante da dor que qualificou como “tortura invisível”. 

Primeiros sintomas aos 16 anos

A neuralgia do trigêmeo é uma doença raríssima e incurável. A condição afeta o nervo trigêmeo, responsável pela sensibilidade da face, e provoca uma sensação de dor constante no rosto. O caso de Carolina é do tipo bilateral, atingindo os dois lados da face.

Desde que os primeiros sintomas da doença surgiram, aos 16 anos de idade, Carolina passou por seis cirurgias no rosto. As intervenções serviram para controlar os efeitos da neuralgia do trigêmeo e dar qualidade de vida, mas a progressão da doença fez com que as dores se tornassem cada vez mais intensas.

Em fevereiro deste ano, Carolina descobriu que também sofre de espondiloartrite axial, ou espondilite anquilosante, doença que afeta principalmente o esqueleto axial, formado pela cabeça, caixa torácica e coluna vertebral. Acredita-se que esta doença autoimune pode ter contribuído para o avanço dos sintomas da neuralgia do trigêmeo.

Como funciona o tratamento?

O protocolo adotado pela equipe médica consiste na infusão de cetamina, anestésico usado desde a década de 1960 para sedação de pacientes em cirurgias, mas que, há quase 40 anos, passou a ser estudado também no tratamento de dor crônica refratária e de depressão grave resistente - quando o uso de antidepressivos não conseguem tirar a pessoa de um quadro grave da doença.

Segundo o médico Carlos Marcelo de Barros, diretor clínico da Santa Casa de Alfenas e responsável pela equipe que acompanha a jovem, o objetivo é bloquear receptores no sistema nervoso que amplificam os sinais de dor.

“Estudos mostram que a cetamina pode aliviar a dor, reduzir o uso de opioides e melhorar o humor, mas é indicada apenas para pacientes selecionados e sempre sob supervisão de profissionais especializados, garantindo segurança e eficácia”, explicou em entrevista à Folha de São Paulo.

A condição de Carolina ganhou repercussão nacional quando ela decidiu abrir uma vaquinha on-line com o objetivo de arrecadar valores para realizar morte assistida na Suíça, pois, no Brasil, o procedimento é proibido.

Em entrevista ao Estado de Minas no início deste ano, a veterinária explicou que a decisão foi tomada porque as dores, cada vez mais intensas, haviam tirado sua paz e sua dignidade. A repercussão fez com que médicos recomendassem outros tratamentos que reduziram as dores por um breve momento.

“(A morte assistida) ainda é uma opção para mim. Infelizmente, não queria fazer isso. Ninguém quer tirar a própria vida. Não quero tirar minha vida, quero tirar minha dor, mas, infelizmente, a vida anda junto. Ainda não desisti e acho que vou deixar essa opção em stand-by até ter a certeza de que cheguei no fim do tratamento”, disse Carolina na época.

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