MG: estagiária de museu encontra carta especial de ex-presidente
O documento foi encontrado dentro de um livro, durante uma atualização do acervo. A carta de Juscelino Kubitschek foi enviada à uma governanta
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Siga noDurante uma atualização na catalogação do arquivo do Museu Histórico e Geográfico de Poços de Caldas, no Sul de Minas, uma estagiária de museologia se deparou com uma carta especial do ex-presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976) dentro de um livro.
O museu é dividido em três espaços: acervo museológico, biblioteca com obras raras da cidade e um arquivo. O documento foi encontrado em 28 de agosto deste ano por Jussara Soares, historiadora, doutoranda em Patrimônio Cultural na Unirio e graduanda em museologia. Ao Estado de Minas, ela explicou que estava trabalhando no acervo neste dia, quando encontrou a carta.
“Nós estamos fazendo uma atualização do nosso acervo. Estamos inventariando, catalogando, atualizando o estado de conservação das obras. Estava organizando a parte do acervo histórico nesse dia e, enquanto fazia a higienização para uma conservação preventiva, encontrei esse livro. Me chamou atenção que era um livro bonito, com uma capa de couro verde. Quando abri, na primeira página tinha um papel dobrado, que era a carta”, contou.
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Trechos da carta
A carta é original, contendo um selo em alto relevo e a assinatura do ex-presidente. Aparentemente, foi enviada para vários colaboradores do governo de Juscelino Kubitschek, que esteve à frente do cargo entre os anos de 1956 e 1961. Escrita no último ano do mandato, ele registrou um discurso de despedida presidencial. No texto, expressa sua gratidão ao povo brasileiro, faz uma análise positiva de sua gestão e diz ter cumprido os compromissos assumidos durante os cinco anos de governo.
Remetida de Brasília, o documento se inicia assim: “Ao aproximar-se o término do meu mandato, venho manifestar-lhe, de modo especial, o meu reconhecimento pelo seu patriótico apoio à luta que travei para conduzir a pleno êxito a causa do desenvolvimento nacional”.
“Mercê de Deus, em muitos setores realizei além do que prometi, fazendo o Brasil avançar, pelo menos, cinquenta anos de progresso em cinco anos de governo. Pude ainda através da operação Pan-Americana, despertar as esperanças e energias dos povos americanos para o objetivo comum do combate ao subdesenvolvimento”, continua o ex-presidente em um trecho.
“Sejam quais forem os rumos da minha vida pública, levarei comigo ao deixar o honroso posto que me confiou a vontade popular, o firme propósito de continuar servindo ao Brasil com a mesma fé, o mesmo entusiasmo e a mesma confiança nos seus altos destinos”, assinado Juscelino Kubitschek – Brasília, 1961, finaliza a carta.
Destinatário misterioso
A carta foi encontrada solta dentro do livro, nomeado “Livro de Ouro”, sem nenhum envelope ou com as informações sobre o destinatário. Dias depois da descoberta, a historiadora, intrigada, voltou para o arquivo. Analisando novamente os objetos, percebeu que, na verdade, o livro se tratava de um “caderno de assinaturas” e, logo na primeira página, estava uma dedicatória, escrita por JK, destinada à Teresa Bonifácio.
“Esse caderno tem várias assinaturas, desde a Miss Brasil de 1959, até a do presidente da Indonésia da época. Logo a primeira mensagem era de Juscelino, que escreveu: ‘à Dona Teresa Bonifácio, pelos serviços prestados durante o meu governo’. Era uma mensagem de carinho e agradecimento, assinada não só por ele, mas também pelas filhas e pela esposa”, relata a estagiária do museu.
Agora, os colaboradores do Museu Histórico e Geográfico de Poços de Caldas buscam “reconstruir essa narrativa”, como descreve a estudante. “Fomos atrás de quem foi Teresa Bonifácio e descobrimos que era uma das governantas de Juscelino durante todo o seu mandato. Na próxima semana, combinamos de encontrar com alguns parentes e conhecidos dela, que já faleceu”, conta.
Escrever e reescrever a história
Para Jussara Soares, encontrar esse documento depois de seis décadas só reforça que a história está sempre sendo escrita. “Sempre há novas descobertas, novos olhares, porque um documento não fala por si só. A nossa história está sendo escrita e reescrita a partir desses achados. Acho que isso é o mais valioso”, destaca.
A carta e o livro ainda não estão expostos para o público. A estudante explica que a organização do museu está se planejando para encontrar a melhor forma de expor os objetos. “É importante para compor a nossa história. Pensar não só em uma história nacional, mas como pessoas comuns também fazem parte dela, como a dona Teresa Bonifácio, que recebeu essa mensagem, essa gratidão de uma pessoa tão importante para o nosso país”, conta.
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Museu Histórico e Geográfico de Poços de Caldas
- Endereço: Rua Padre Henry Mothon, s/n. Centro, Poços de Caldas (MG)
- Horário de Funcionamento:
- Terça a sexta-feira: das 9h30 às 17h;
- Sábado: 12h30 às 16h30;
- Domingo e feriado: 9h às 13h.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice