MOBILIDADE URBANA

Acidentes com motos em ritmo acelerado

Dados mostram que, de 2019 a 2024, BH apresentou aumento constante de ocorrências. Plataforma promete tecnologia que identifica direção perigosa

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Para percorrer os 331 quilômetros de Belo Horizonte em seus 15.993 logradouros, incluindo ruas, avenidas e becos – conforme dados da Superintendência de Geoprocessamento Corporativo (SGS-PB) da Empresa de Informação e Informática de BH (Prodabel) –, e enfrentar o trânsito caótico da capital mineira, diversas pessoas optam por um modelo de transporte mais rápido: as motocicletas. No entanto, o meio não é o mais seguro e a quantidade de acidentes envolvendo motos tem aumentado expressivamente nos últimos anos, segundo o Observatório de Segurança Pública de Minas Gerais, da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).


O balanço mostra que no período de cinco anos, entre 2019 e 2024, o número de acidentes envolvendo motos cresceu 31%, passando de 15.487, em 2019, para 20.253 no ano passado. O aumento foi anual, exceto em 2020, ano de início do período de isolamento da pandemia de COVID-19, quando 13.055 ocorrências foram registradas.


A problemática demonstra crescimento também em 2025, uma vez que, até julho deste ano, 12.057 acidentes foram registrados, contra os 11.672 contabilizados no mesmo período de 2024. As vias mais temidas pelos motociclistas são a Avenida Cristiano Machado, que registrou 941 acidentes no último ano, seguida do Anel Rodoviário, com 818, e a Avenida Antônio Carlos, com 645. A ordem do ranking se mantém neste ano.

Garupa insegura

Dos mais de 12 mil acidentes com motos registrados neste ano em BH, 9.411 resultaram em vítimas, sendo a maioria com lesões leves – 7.172 –, mas somando 90 mortes. O perfil dos acidentados é majoritariamente masculino, sendo que 27% das vítimas são mulheres, o que representa 2.622 pessoas do sexo feminino em 2025. Na contramão, as mulheres compõem 70% do total de passageiros que se acidentam durante o transporte de moto por aplicativo na cidade, conforme dados apresentados, nesta terça-feira (2/9), pela 99 – plataforma que atua em todo o país. Dentre as motivações, a utilização da modalidade para se locomover na capital mineira é maior pelas mulheres que, muitas vezes, precisam de opções fáceis, rápidas e baratas.

“Facilita a vida das pessoas, então precisa ser seguro”

JUSSARA BELLAVINHA
Subsecretária de Operações de
Transporte e Trânsito de BH


Na visão da nutricionista Giovanna Moreira, de 22 anos, a possibilidade do transporte por aplicativo, sobretudo por moto, é um facilitador no dia a dia. Moradora de BH há quase quatro anos, ela passou a utilizar o meio de locomoção com mais frequência há pouco mais de dois anos. Inicialmente, utilizava apenas uma vez ao mês, mas, depois, começou a usar quase diariamente, devido à distância entre os locais que trabalhava e estudava. Residente no Bairro Sagrada Família, na Região Leste, ela precisava se deslocar para a área hospitalar de BH. Embora as regiões não sejam tão distantes, se locomover a pé não é tão viável e o valor da moto por aplicativo é mais atrativo do que o custo da passagem de ônibus, que, atualmente, está em R$ 5,75.


“Já aconteceu de eu perceber que a pessoa está irregular com o capacete, sem a trava de baixo, que é proibido. Da mesma forma a viseira. Isso me deixa mais preocupada, porque é um item essencial. Também já aconteceu de chegar a notificação no app de que seria uma moto e o motociclista chegar usando outra”, afirma a nutricionista.


Apesar de sentir medo, a opção segue sendo a mais viável para ela, já que o fator “tempo” é crucial em sua rotina. A partir da modalidade, ela economiza tempo, diferente do que gastaria utilizando carro ou ônibus, especialmente nos horários de pico. O valor também é considerado por ela, já que o preço cobrado pelas plataformas em uma viagem com carro pode ser até três vezes mais caro. Giovanna espera que a modalidade seja regulamentada em BH, uma vez que, na experiência dela, muitos motoristas andam “de qualquer jeito”.


“A moto é arriscada, é mais vulnerável. Quem está em cima de uma moto pode sofrer um grande estrago. Se tiver uma regulamentação mais firme para garantir que os itens estejam em bom estado, fará muita diferença. Ficaria mais tranquila”, destaca.

Quando será regulamentado?

A situação já é observada pelo Executivo municipal, que participou da apresentação do levantamento feito pelo Instituto Cordial, membro da Câmara Temática de Gestão e Coordenação do Plano Nacional de Lesões e Mortes no Trânsito (Pnatrans), na terça-feira (2/9), em parceria com a 99. A subsecretária de Operações de Transporte e Trânsito de BH, Jussara Bellavinha, esteve presente na ocasião e indicou que a Prefeitura de BH (PBH) está ciente do problema e pretende criar soluções para melhorar a segurança da modalidade.

“A realidade realmente é que [a categoria] é um serviço que veio para ficar. Vai crescer cada vez mais, na medida que as plataformas mostrarem esse cuidado de dar mais segurança e tranquilidade. Há um problema de baixa fiscalização no município. Quando as informações [sobre os acidentes] forem recrutadas, elas serão utilizadas em prol da segurança dos motociclistas. Facilita a vida das pessoas, então precisa ser seguro”, afirma Bellavinha.

Espaço exclusivo

Atualmente, BH tem uma legislação específica sobre o motofrete, respaldada nas leis 10.220/2011 e 10.751/2014, mas não possui uma regulamentação específica para o modo de transporte, assim como não há previsão para tal. Em nota, o Executivo municipal informou que realiza ações contínuas para aumentar a segurança dos motociclistas na cidade – entre elas, campanhas educativas, treinamentos específicos e intervenções voltadas à redução de acidentes envolvendo motos. No entanto, as ações são direcionadas a motofretistas e não a motociclistas que realizam viagens com passageiros.

“A telemetria será usada dentro da aplicação do sensor do próprio celular do motociclista, para a gente medir comportamentos”


IGOR SOARES
Diretor de Qualidade e Segurança da 99


Conforme a PBH, os principais corredores viários da cidade contam com motoboxes – áreas sinalizadas para a acomodação de motocicletas, localizadas entre a faixa de pedestres e a linha de retenção dos veículos. Atualmente, há mais de 500 motoboxes distribuídos em 20 vias da cidade. Além disso, equipes da Unidade Integrada de Trânsito fiscalizam motocicletas para garantir o cumprimento da legislação de trânsito. Em blitzes, os motociclistas são estimulados a usar equipamentos de segurança, como capacete e luvas.

Controle da direção

Diante do cenário, as plataformas que oferecem o serviço estão investindo em tecnologias para garantir a segurança dos motociclistas e usuários. A 99 pretende lançar, ainda neste semestre, uma funcionalidade inédita no Brasil: a telemetria. Denominado “Relatório de Direção”, o recurso analisa padrões de direção e ajuda os motociclistas parceiros a corrigir comportamentos de risco, como frenagens bruscas, curvas fechadas, mudanças abruptas de faixa e uso do celular ao pilotar.


A tecnologia ainda está em fase de testes e calibração, mas será pioneira no país. A 99 disponibiliza mais de 50 funcionalidades antes, durante e depois das corridas, com o intuito de aumentar a segurança. Além do monitoramento em tempo real, o app conta com alerta de velocidade, governança contra direção perigosa por meio de telemetria, checagem de dados de usuários e veículos, e central de segurança emergencial disponível 24 horas.


De acordo com o diretor de Qualidade e Segurança da plataforma, Igor Soares, o departamento de segurança deve investir, neste ano, mais de R$ 75 milhões em novas funcionalidades, ferramentas e ações voltadas para a segurança viária.


“A telemetria será usada dentro da aplicação do sensor do próprio celular do motociclista, para a gente medir comportamentos, como, por exemplo, a inclinação. Como o motociclista entra numa curva, se ele faz a troca de faixas de forma correta. Todos esses comportamentos a gente vai conseguir medir através disso. Não é uma funcionalidade que liga ou desliga, ela estará sempre disponível, mesmo que o motorista utilize outra plataforma também, como de mapa”, explica.

Estudo de sinistros

Segundo o diretor, os testes acontecem constantemente e, normalmente, são aplicados em algumas cidades e, depois, distribuídas em outras. Ele observa que o trânsito é feito para carros e que, em alguns municípios, é mais hostil do que em outros. Em Belo Horizonte, a taxa de sinistralidade é alta, considerando o número total de acidentes registrados. Em 2024, dos 84.647 acidentes contabilizados, 24% envolveram motos, segundo os dados da Sejusp. Já a pesquisa realizada pela 99 indica que o número de sinistros relacionados a viagens por aplicativo da plataforma, a cada 100 mil motociclistas, é seis vezes menor do que os acidentes com motos de uso geral.


De acordo com o estudo, os sinistros envolvendo corridas pela 99Moto corresponderam a apenas uma fração do total registrado em BH, em 2023, mesmo com o crescimento do número de viagens. Considerando os sinistros graves, em que há internação dos envolvidos, e fatais, as taxas são, respectivamente, 0,43% e 0%. A análise foi baseada em dados da 99, entre 2023 e 2024, com cerca de 36 milhões de viagens realizadas pela plataforma, da PBH, no ano de 2023, e da Secretaria Nacional de Trânsito do Ministério dos Transportes (Senatran). No entanto, a plataforma não divulgou o número total de acidentes registrados envolvendo os motociclistas parceiros.


“A 99Moto não é um fator de aumento da sinistralidade, mas sim uma oportunidade de, por meio de tecnologia de ponta e gestão, oferecer um serviço que facilita a mobilidade urbana e contribui para um trânsito mais seguro e democrático. Este estudo é um convite à colaboração entre a iniciativa privada e o poder público para que, juntos, possamos construir um sistema de mobilidade verdadeiramente seguro para todos”, reforça Soares.


Do outro lado, a Uber também afirma ter ferramentas de segurança para todas as modalidades de viagem, como seguro de acidentes pessoais e o limitador de tempo que os parceiros podem dirigir online pelo aplicativo. No caso da modalidade da Uber, a empresa disponibiliza recursos como a selfie de capacete, que verifica se o motociclista está utilizando o equipamento obrigatório antes de começar a fazer viagens, e o alerta de velocidade, que exibe o limite de velocidade, em tempo real, além de enviar um conteúdo educacional caso o parceiro tenha excedido o limite.

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Pilotos apontam falhas

A situação, entretanto, é observada de outra forma pelos motociclistas cadastrados nas plataformas. Profissionais ouvidos pelo Estado de Minas relatam que existem vários fatores que ocasionam acidentes em BH, incluindo falta de manutenção e até objetos deixados nas vias, que se transformam em obstáculos no momento da direção do veículo. No entanto, eles afirmam que os aplicativos aceitam “qualquer pessoa” para trabalhar, sem averiguar a condição das motos, influenciando diretamente nos acidentes. Outro problema apontado são as “contas fakes”, em que um motociclista cadastra o veículo de outra pessoa como se fosse dele. O Sindicato dos Condutores de Veículos que utilizam Aplicativos de Minas Gerais (Sicovapp) foi procurado pela reportagem, mas não se manifestou sobre o assunto. 

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