BH: após polêmica, nova arte do canão é entregue no Aglomerado da Serra
Intervenção artística deveria ter sido entregue na última semana, mas moradores discordaram do desenho inicial feito na tubulação
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Siga noDepois de um protesto feito por moradores do Aglomerado da Serra sobre a pintura da adutora que atravessa a Avenida Mem de Sá, no Bairro Santa Efigênia, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, uma nova arte está sendo finalizada no local nesta segunda-feira (15/9). O canão, como é conhecido pelos moradores, agora exibe a mensagem “Bem-vindo à Serra”.
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A intervenção artística faz parte do projeto Morro Arte Mural (Mamu), que faz megamurais em fachadas de casas. A quarta edição da iniciativa entregou um mosaico composto por 34 casas do Aglomerado da Serra com uma arte homenageando os cursos d’água que passam por ali e fazem parte da história local.
Além da entrega do megamural, o projeto iniciado em 18 de agosto também previa a pintura do canão com os dizeres “Bem-vindo à Serra” de um lado e “Volte sempre” do outro. Entretanto, na última semana, o artista Cossi havia pintado seu próprio nome em toda a extensão da tubulação, gerando revolta em alguns moradores que interpretaram a atitude como uma falta de respeito pela comunidade.
Na quinta-feira (11/9), um vídeo compartilhado nas redes sociais mostrou o canão coberto por uma lona preta e manifestantes estendendo uma faixa onde podia ser lido: “Respeita a Serra”. Segundo a organização do Mamu, ocorreu um “ruído” entre os moradores e os artistas, o que levou à interrupção dos trabalhos para restabelecer o diálogo e alinhar o desenho a ser entregue.
Na manhã desta segunda-feira (15/9), já era possível ver o novo desenho. Para quem chega ao Aglomerado, há a mensagem de boas vindas em laranja e uma referência à água em azul. Do lado de quem desce a avenida, os artistas locais Luan e Zeko estavam finalizando a escrita do “volte sempre” com uma representação das casas da comunidade.
“A base da arte pública é o diálogo. Dessa vez não foi diferente para chegar a um entendimento. Acho que todo mundo saiu melhor desse debate, entendendo todos os lados e que para fazer um trabalho tem que ter respeito de todas as partes”, disse Juliana Flores, coordenadora do Mamu.
O Estado de Minas tentou contato com Cossi, mas não obteve resposta.
O canão
A tubulação que marca o início do Aglomerado da Serra na Avenida Mem de Sá é uma adutora da Copasa que leva água da Estação de Tratamento de Água (ETA) do Rio das Velhas até o reservatório de água no Bairro São Lucas. O local marca o ponto de encontro do bloco de carnaval Seu Vizinho e outros eventos da comunidade.
“A água que passa no Canão abastece grande parte dos moradores da capital, porém, o Canão tem uma simbologia bem mais significativa, emblemática e mística para os moradores do território. Ele é considerado um portal espiritual, energético e dimensional, uma passagem para outra realidade da cidade, um portão de entrada para o Aglomerado da Serra, local marcado por sua forte resistência artística e diversidade, com expressões como samba, pagode, capoeira, funk e soul, que o tornam uma espécie de ‘caldeirão cultural’", conta a diretora do Mamu, Fatini Forbeck.
Mamu
Esta é a quarta edição do Mamu em BH. O primeiro painel, de 2018, está localizado no Alto Vera Cruz, Região Leste da cidade, e foi realizado pela dupla Cosmic Boys. Em 2022, foi feito o mural na Vila Nova Cachoeirinha pela artista belo-horizontina Criola, que pode ser visto da Avenida Antônio Carlos. Por fim, em 2024, a terceira edição do Mamu contou com uma arte inspirada em pipas e símbolos afro-diaspóricos da artista capixaba Kika Carvalho no Morro do Papagaio.
No domingo (14/9), o Mamu entregou oficialmente o megamural intitulado “Águas da Serra”, em homenagem aos três córregos que cortam a encosta e garantiu o abastecimento das casas da região. Jorge dos Anjos, artista responsável pela arte, usou elementos que remetem aos cursos d’água e, coroando o mosaico, o grande leque de Oxum, orixá conhecida como a Rainha da Água Doce.
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Ao longo de um mês, 34 casas foram rebocadas e pintadas. Além disso, foram realizadas uma caminhada ecológica no território para o resgate da memória da relação da comunidade com os mananciais, uma oficina de pintura para crianças com a artista Raquel Bolinho e um mutirão para limpeza das ruas.