Acidentes com elevador mais que dobram em Minas
Dados mostram que em 2019, último ano antes do isolamento, foram 412 ocorrências, número que saltou para 840 em 2024, pós-pandemia. Em BH, há pressão para mudar
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Siga noO número de acidentes com elevadores em Minas Gerais mais do que dobrou no ano passado em relação a 2019 – último ano antes do isolamento social imposto pelo coronavírus – e acende um alerta na capital, com a pressão sobre os vereadores por uma mudança na lei. Segundo dados do Corpo de Bombeiros Militar (CBMMG), em 2019 foram registrados 412 acidentes, número que saltou 104% em 2024, com 840 ocorrências.
Desde a volta à rotina pós-pandemia, no início de 2022, os números vieram em uma crescente. A situação chama a atenção do Sindicato dos Condomínios Comerciais, Residenciais e Mistos ( MG), que solicitou uma audiência pública na Câmara Municipal de BH, realizada no mês passado, para debater o assunto.
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Os dados preocupantes mostram que os registros do ano passado representam mais de dois acidentes por dia (2,29). A média foi mantida neste ano, já que, até 21 de agosto, Minas contabilizava 533 acidentes – também 2,29 por dia. O número de 2025 já supera o total de 2019 inteiro.
Houve ainda um aumento de 7,8% no primeiro semestre de 2025 comparado ao anterior, passando de 399 para 430. Das 840 ocorrências de 2024, 456 foram registradas na Região Metropolitana de BH, ou seja, mais da metade. A concentração também foi observada neste ano, uma vez que, dos 533 registros, 299 foram na Grande BH.
Cada vez pior?
Outro balanço, realizado pela Associação de Engenharia Mecânica e Industrial de Minas Gerais (Abemec-MG), mostra um resultado discrepante comparado ao órgão estadual, mas também foi fundamental para a discussão entre os vereadores de BH, que debatem a modernização da lei de elevadores. Conforme o levantamento da Abemec-MG, o estado teve 69 acidentes com elevadores desde 2007, que resultaram em 22 mortes, sendo 15 passageiros e sete técnicos.
Segundo o presidente da Abemec-MG, Ronaldo Chaturni Bandeira, quando eles são notificados sobre os acidentes solicitam que o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-MG) vá até o local do acidente, contabilizando os números. De acordo com ele, pode haver mais sinistros do que os registrados, uma vez que nem todos são notificados. No entanto, a avaliação da associação é que, caso não haja mudanças na lei, a situação fique cada vez mais letal.
Normas antigas
“O objetivo da mudança na legislação é mostrar à sociedade que alguma coisa deve ser feita. Entendemos que isso vá acontecer através de leis e fiscalização técnica, com gerenciamento. De acordo com a nossa Constituição, quem deve fazer isso é a prefeitura. Por isso, estamos cobrando”, disse Bandeira, que esteve presente na reunião.
Na audiência, ocorrida em 20 de agosto, vereadores, representantes de condomínios, empresas de manutenção e bombeiros reforçaram a importância de uma nova lei que priorize a segurança dos usuários e trabalhadores, já que a norma vigente na cidade é de 1999.
A mudança na legislação atualizaria as regras de instalação, manutenção e fiscalização de elevadores em BH, estabelecendo critérios mais rigorosos para a homologação das empresas de manutenção, com o intuito de tornar o transporte mais seguro e prevenir acidentes.
Sem banco de dados
A Lei nº 7.647/99 regulamenta a instalação, conservação, reforma, modernização, funcionamento e fiscalização de elevadores e outros aparelhos de transporte em BH. Ela estabelece obrigações para os proprietários e responsáveis técnicos, como a manutenção e o uso do Livro de Registro Obrigatório, o que foi considerado ultrapassado e burocrático pelas pessoas presentes na audiência na Câmara, uma vez que é necessário preencher livros de ocorrências manualmente, além de definir infrações e penalidades. A lei também exige a segurança dos equipamentos e o atendimento a pessoas com deficiência.
Um dos problemas identificados é que não existe um banco de dados centralizado que colete e gerencie informações sobre os elevadores, como histórico de manutenção, responsáveis técnicos e status. Além disso, a fiscalização não consegue cobrir a totalidade dos elevadores da cidade – estimados em mais de 25 mil – e os fiscais nem sempre têm conhecimento técnico aprofundado em elevadores, o que dificulta a avaliação. Isso porque, conforme a legislação, qualquer pessoa, mesmo sem qualificação, pode abrir uma empresa de manutenção de elevadores, pois não há exigências claras de estrutura, estoque de peças e corpo técnico qualificado, o que favorece empresas que não seguem as normas e cobram preços muito baixos.
“Na verdade, é difícil saber se os elevadores estão em perfeito funcionamento, a não ser que ele apresente sinais físicos de problemas. Muitas empresas colocam técnicos e não engenheiros como responsáveis pela manutenção. Já tivemos conhecimento de casos de empresas que não tinham registro no Crea-MG nem na Prefeitura de BH para funcionar”, disse o presidente do Sindicon MG, vice-presidente da Comissão de Direito Condominial da OAB-MG, o advogado condominialista Carlos Eduardo Alves de Queiroz.
Poucas vistorias
Conforme a Secretaria Municipal de Política Urbana, as ações fiscais em elevadores têm sido intensificadas, integrando a prioridade da Fiscalização de Controle Urbanístico e Ambiental. A atuação é baseada na legislação vigente e, segundo a PBH, visa garantir a segurança. Nas vistorias, o fiscal pode atuar sozinho ou em dupla, e deve portar crachá de identificação ou carteira funcional.
“São verificados aspectos como a validade do contrato de manutenção, a existência do livro de registro de ocorrências, a anotação da responsabilidade técnica do engenheiro responsável e a periodicidade das manutenções, além da inspeção dos itens obrigatórios, como os avisos de capacidade máxima”, disse em nota.
De acordo com a PBH, foram realizadas 2.852 vistorias em elevadores na capital em 2024, além do recebimento de 45 denúncias. Entre janeiro e julho deste ano, foram registradas 22 denúncias e realizadas 933 vistorias. No entanto, o número está muito aquém do ideal, visto os cerca de 25 mil equipamentos presentes na cidade. Queiroz pontua que a falta de fiscalizações ocorre porque não há uma estrutura física para checar os equipamentos. Com a ausência de manutenção adequada, o sindicato pede regulamentação.
“A legislação é antiga. Está desatualizada. Todos os condomínios com elevador também pagam uma taxa de fiscalização. A PBH alegou que fiscalizou quase 3 mil elevadores. Em BH tem mais de 25 mil, mas pode ter mais, já que a prefeitura não tem controle de quantos elevadores tem”, diz.
Segundo o advogado, que participou da elaboração da lei, em 1999, há uma resistência na modernização da regulamentação, pois o assunto é debatido com a administração municipal há cerca de 10 anos. Ele informa que foram feitas reuniões com a prefeitura, mas, até o momento, sem avançar.
Do outro lado, os próprios condôminos pedem uma manutenção adequada. Queiroz comenta que algumas empresas vendem elevadores bonitos, com espelhos, corrimão e outros itens, mas a parte técnica, que realmente importa, não é boa. Por isso, os elevadores continuam parando com pessoas dentro.
Histórico de casos
No último dia 14 de agosto, três trabalhadores ficaram feridos na queda do elevador em uma empresa no bairro Carajás, em Uberlândia, no Triângulo. Estima-se que a altura da queda tenha sido entre 5 metros e 6 metros, o equivalente a dois andares. Eles tiveram ferimentos que demandaram cuidados em unidades de saúde.
Já em janeiro deste ano, um homem morreu quando um elevador de um prédio em construção caiu do quarto andar em uma obra no bairro Jaraguá, na mesma cidade. Outro trabalhador ficou ferido e materiais de construção também eram içados no momento da queda.
Um mês antes, no início de dezembro de 2024, um técnico de manutenção de elevadores morreu na queda do elevador da Justiça Federal em BH, no Bairro Santo Agostinho, Região Centro-Sul. A vítima, de 40 anos, estava no 17° andar e realizava a manutenção no equipamento.
Em novembro do ano passado, uma funcionária do Hospital Felício Rocho, no Bairro Barro Preto, também na Região Centro-Sul de BH, ficou ferida após o ascensor do local “deslizar” do terceiro para o segundo andar, o que corresponde a uma distância aproximada de 1,7 metro. Com o impacto, a mulher bateu a cabeça e sofreu um corte na perna, sendo necessário levar dois pontos.
Outro acidente ocorreu no Edifício Mirafiori, no Centro da capital. Em junho de 2024, um elevador caiu devido a superlotação. Havia 22 pessoas dentro do equipamento, cinco a mais do que a capacidade máxima, de 17 ocupantes, segundo os bombeiros. Na ocasião, oito pessoas foram atendidas, mas ninguém ficou ferido gravemente.
Chamadas ao Corpo de Bombeiros
Ocorrências atendidas em Minas
2017.....................................331
2018.....................................478
2019.....................................412
2020.....................................331
2021.....................................442
2022.....................................635
2023.....................................739
2024.....................................840
2025 ......................(até 21/8)533
.. Aumento de 13,7% entre 2023 e 2024
.. Aumento de 152% em oito anos
Ocorrências atendidas na Grande BH
2024.....................................456
2025.......................(até 21/8)299
Fonte: CBMMG
O que fazer
A recomendação do Corpo de Bombeiros é não sair pelo teto ou pelo espaço entre as portas do elevador. O resgate deve ser feito pelos bombeiros, que orientam manter a calma, acionar o botão de emergência ou interfone para pedir socorro.
PANE COM VÍTIMAS SEM FERIMENTOS
Mantenha a calma e comunique-se utilizando o interfone da cabine ou um telefone celular
Forneça informações precisas, como o número de pessoas presas e as condições de saúde de cada uma
Ocorrência com vítimas feridas
Acione imediatamente o Corpo de Bombeiros, informando os detalhes possíveis para agilizar o atendimento e o resgate
Quando acionar os bombeiros?
De acordo com a NBR 16083, o resgate de pessoas presas em elevadores deve ser realizado exclusivamente por técnicos da empresa responsável pela manutenção do equipamento, em caso de panes simples, ou pelos bombeiros
O acionamento pelo Corpo de Bombeiros é prioritário em casos de acidentes, presença de vítimas com ferimentos, risco iminente ou quando a situação ultrapassar a capacidade de resposta dos técnicos
Orientações gerais
Não tente realizar o resgate por conta própria e aguarde a chegada da equipe especializada
Mantenha comunicação constante com as pessoas envolvidas e ofereça apoio emocional, ajudando todos a permanecerem seguros e tranquilos até a chegada do socorro
Sinalize e isole o local, evitando a presença de curiosos até a chegada das equipes especializadas
Após o resgate, o equipamento deve permanecer interditado e só pode ser liberado depois da autorização da empresa de manutenção