De sacos de cimento a vestidos dos sonhos: arte sustentável é exposta em BH
Estilista mineira transforma sacos de cimento em vestidos de noiva de luxo únicos, desafiando percepções e encantando olhares
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Siga noJá imaginou um saco de cimento sendo transformado em algo delicado e cheio de sofisticação? Parece impossível, mas é exatamente isso que Iáskara Oliveira faz. A estilista mineira conquistou atenção nacional ao criar vestidos de noiva feitos a partir do que muitos considerariam apenas lixo de construção.
Um acervo pessoal que une luxo, arte e sustentabilidade será exposto na Casa de Jornalistas, na capital mineira, durante a Feira de Arte, Artesanato e Sustentabilidade que começou nesta sexta-feira (26/9) e vai até sábado (27/9), das 9h às 17h.
A ideia surgiu durante a graduação em Design de Moda na UFMG, quando Iáskara buscava integrar sustentabilidade e experimentação artística em seu trabalho de conclusão de curso. “Comecei a pesquisar moda sustentável ainda na universidade. Fiz disciplinas de arte da fibra e encadernação, e isso me ensinou a trabalhar com reciclagem de papel e a pensar em materiais alternativos para a moda”, conta a estilista.
Um ano e meio de pesquisa depois ela apresentou dez peças únicas, inicialmente experimentais, sem intenção de venda, mas com um objetivo claro. “Eu queria criar algo que fosse bonito, delicado e surpreendente, mas que também levantasse discussões ambientais”, explica.
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O ponto de partida foram os sacos de cimento descartados nas obras. “O cimento demora para degradar, é resistente, pouco processado industrialmente e, ao mesmo tempo, um dos resíduos mais descartados nas obras. Conversei com mestres de obras, recolhi o material e comecei a processá-lo”, explica.
A partir daí, a estilista desenvolveu um método para transformar a fibra do saco de cimento em tecido maleável, combinando-o com a fibra de bananeira, mais longa e resistente, garantindo durabilidade e flexibilidade às peças.
O processo de transformação é artesanal, primeiro, o saco de cimento é lavado, rasgado e batido em um liquidificador industrial até voltar a ser fibra. Em seguida, a fibra é descolorida, misturada com a fibra de bananeira e passa por tingimentos. Por fim, a estilista usa a pasta para desenhar manualmente sobre o tule, que serve de base para o vestido.
Durante a fabricação o cuidado com a sustentabilidade vai além do material principal. “O objetivo da marca é sempre trazer o menor impacto possível para o meio ambiente. Na hora de fazer uma peça, sempre penso em uma forma que sobre o mínimo de tecido possível, e os retalhos são reutilizados sempre reaproveito fazendo acessórios. Até o tingimento é natural, com produtos como açafrão, urucum, casca de cebola e folhas”, detalha Iáskara.
Para produzir os vestidos, a estilista leva em média seis meses para ser finalizado, desde o preparo da fibra até os últimos ajustes. "Cada peça é única, pensada sob medida para quem irá usá-la, respeitando as proporções do corpo e conforto. Mesmo que a padronagem pareça igual, nunca vai ser 100% igual, porque é feito a mão livre”.
A paulistana Alessandra Lopasso Ricci queria que seu casamento não fosse nada convencional. Com a temática voltada para a sustentabilidade, procurando na internet, encontrou a tese de conclusão de curso de Iáskara e decidiu fazer o vestido em BH.
“Desde encontrar a Iáscara até a modelagem do vestido e a primeira prova, todo o processo foi realmente emocionante. Saber que aquele vestido que seria usado uma única vez, seria totalmente feito de material reaproveitado. E, ao vestir, era como se estivesse usando o mais fino tecido que pudesse existir. O conforto é o mesmo que um vestido normal e a estética não deixa nada a desejar de um tecido convencional”, conta a administradora.
Quando contou que seu vestido de casamento seria de saco de cimento, Ricci ressaltou que as pessoas ficaram espantadas. “A princípio, quando falei do vestido, antes do casamento, causei espanto e minha sogra ficou preocupada com o que eu estava querendo fazer. Mas, no dia do evento, ao verem o vestido todos amaram, muitas fotos e muitos elogios”.
Apesar da delicadeza, os vestidos são resistentes. Iáskara conta que algumas clientes ainda preservam peças com mais de dez anos. A manutenção também é simples: basta dobrar, passar e usar novamente, como um tecido convencional, embora os cuidados sejam semelhantes aos exigidos por tecidos finos, como a seda. Ricci é uma de suas clientes que têm o vestido até hoje. “Me casei em 2023 e o vestido está muito bem preservado”.
Cada vestido custa a partir de R$ 10 mil. Embora possa parecer caro, a reportagem contatou três estabelecimentos da capital mineira, que informaram que os modelos tradicionais de tecido custam a partir de R$ 20 mil.
Moda sustentável em exposição
Durante os dois dias de exposição na Casa de Jornalista, localizada na Avenida Álvares Cabral, 400, no Lourdes, Região Centro-Sul da capital, além dos vestidos de noiva, serão expostas saias, kimonos e bolsas produzidas a partir do mesmo processo sustentável. Segundo a estilista, a proposta é mostrar que moda e responsabilidade ambiental podem caminhar juntos.
A Feira de Arte, Artesanato e Sustentabilidade vai reunir artesãos de várias regiões da capital, que irão expor criações em tecidos, bijuterias e objetos feitos à mão com materiais diversos.
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Serviço:
- Feira de Arte, Artesanato e Sustentabilidade de Casa do Jornalistas
- Data e horário: 26 e 27 de setembro. das 9h ás 17h
- Local: Avenida Alvares Cabral, 400 – Lourdes
- Entrada: Gratuito
*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice