A história 'europeia' do Coliseu de Minas Gerais que poucos conhecem
Construída com material importado da Escócia e da França, a rotunda de Ribeirão Vermelho guarda segredos de uma era de ouro da engenharia.
compartilhe
Siga noNo sul de Minas Gerais, uma estrutura monumental evoca a grandiosidade da engenharia europeia do início do século 20. Conhecida como o "Coliseu de Minas Gerais", a rotunda ferroviária de Ribeirão Vermelho se prepara para um aguardado renascimento, com o recente anúncio de seu projeto de restauração.
Leia: Novo tempo para o ‘Coliseu’ de Minas
Inaugurada em 1906, a construção circular impressiona não apenas por suas dimensões, mas pela origem de seus materiais. Sua estrutura metálica foi forjada na Escócia, e as telhas que a cobriam vieram diretamente da França, testemunhas de uma era em que o Brasil importava o que havia de melhor para expandir sua malha ferroviária, impulsionada pela riqueza do café.
Uma joia da engenharia ferroviária no Brasil
A rotunda de Ribeirão Vermelho foi projetada para ser o coração operacional da Estrada de Ferro Oeste de Minas. Sua função era essencial: abrigar, reparar e manobrar as imponentes locomotivas a vapor, conhecidas como "Mariquinhas", que percorriam os trilhos da região. Com um diâmetro de quase 74 metros, a estrutura possui 16 baias, que são os "boxes" onde as máquinas eram estacionadas para manutenção.
Leia: Chuva alaga patrimônio ferroviário em Ribeirão Vermelho, no Sul de Minas
No centro, um girador mecânico permitia que as locomotivas fossem posicionadas com precisão em qualquer uma das linhas que partiam radialmente. Esse mecanismo era uma peça-chave da logística ferroviária, otimizando o fluxo de trens que transportavam café, mercadorias e passageiros, conectando o interior de Minas ao resto do país.
A escolha de materiais importados não foi um capricho. A tecnologia siderúrgica escocesa era referência mundial na época, garantindo a durabilidade e a resistência necessárias para suportar o peso e a operação constante das locomotivas. Da mesma forma, as telhas francesas, do tipo Marselha, eram conhecidas pela qualidade e capacidade de vedação, protegendo o valioso maquinário das intempéries.
Do auge ao abandono
O apogeu da rotunda durou algumas décadas, período em que o som dos trens e o vapor das caldeiras ditavam o ritmo da cidade. Ribeirão Vermelho cresceu ao redor da ferrovia, e a vida de muitas famílias estava diretamente ligada ao complexo. Além de prédio industrial, a rotunda também era um símbolo de progresso e um importante centro gerador de empregos.
Contudo, a partir da metade do século 20, o modelo de transporte brasileiro mudou. O governo passou a priorizar as rodovias em detrimento das ferrovias, um processo que levou à desativação gradual de muitas linhas. A chegada das locomotivas a diesel também tornou obsoletas as estruturas projetadas para as máquinas a vapor.
Com a redução drástica do tráfego ferroviário na região, a rotunda perdeu sua função. O gigante de aço e tijolos foi aos poucos silenciando, até ser completamente abandonado. O tempo e a falta de manutenção cobraram seu preço, e o que antes era um centro de inovação se transformou em uma ruína imponente, com o telhado parcialmente desabado e a vegetação tomando conta do espaço.
O renascimento de um gigante
Apesar do abandono, a importância histórica e arquitetônica da rotunda nunca foi esquecida. Tombada como patrimônio histórico, a estrutura aguardava por uma iniciativa que pudesse devolver seu antigo esplendor. Esse momento finalmente chegou com o anúncio de um complexo projeto de restauração, que promete transformar o local em um polo cultural e turístico.
O plano de recuperação vai além da simples reforma estrutural. A ideia é preservar ao máximo as características originais, recuperando a estrutura metálica escocesa e restaurando a fachada de tijolos aparentes. O espaço será adaptado para receber eventos, exposições, um museu ferroviário e áreas de convivência, integrando o patrimônio histórico à vida contemporânea da cidade.
O que é a rotunda de Ribeirão Vermelho?
É uma antiga oficina e garagem de locomotivas, de formato circular, localizada na cidade de Ribeirão Vermelho, no sul de Minas Gerais. Foi inaugurada em 1906.
Sua função era abrigar, realizar a manutenção e manobrar os trens a vapor da antiga Estrada de Ferro Oeste de Minas.
Por que a rotunda é chamada de 'Coliseu de Minas Gerais'?
O apelido popular se deve à sua arquitetura monumental e ao formato circular, que lembram as ruínas do Coliseu de Roma.
A estrutura imponente, com suas 16 entradas em arco, reforça a semelhança com a famosa arena romana, tornando-se um marco visual na paisagem da região.
Qual a origem dos materiais usados na construção?
A rotunda foi construída com tecnologia e materiais importados da Europa, o que era comum em grandes obras de engenharia no Brasil no início do século 20.
Toda a estrutura metálica, como vigas e pilares, foi fabricada e trazida da Escócia. As telhas de cerâmica do tipo Marselha vieram da França.
Qual a importância da restauração da rotunda?
A restauração é fundamental para preservar um dos mais importantes exemplares do patrimônio ferroviário e industrial do Brasil.
Além do valor histórico, o projeto visa transformar o local em um centro cultural e turístico, gerando empregos e movimentando a economia de Ribeirão Vermelho e região.