Serra de São José: incêndio vai para o 4º dia de combate
As chamas se propagaram rápido e exigiram reforços de pelo menos quatro municípios vizinhos. Em sete dias, outubro já teve 950 ocorrências de incêndios.
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O incêndio de grandes proporções que atinge a Serra de São José, no Campo das Vertentes, em Minas Gerais, desde último domingo (5/10), retrata o cenário que persiste no estado. De acordo com dados do Corpo de Bombeiros (CBMMG), apenas na primeira semana deste mês, período de auge do tempo seco, o estado registrou 950 ocorrências de fogo em vegetação. As chamas na Serra se propagaram rapidamente e exigiram reforços de pelo menos quatro municípios que abrangem a Área de Proteção Ambiental.
As chamas começaram no fim de semana em uma área situada entre São João del-Rei e Tiradentes. A Serra de São José ainda acompanha parte das cidades vizinhas de Santa Cruz de Minas e Prados. Na segunda-feira (6/10), quatro militares e 15 brigadistas atuaram no monitoramento e visualização do local. O comandante do Corpo de Bombeiros em São João del-Rei qualificou a situação como grave e anunciou reforços.
O fogo atingiu principalmente as regiões conhecidas como Mangue, Trilha do Carteiro e Solar da Serra. Por causa do tempo seco e dos ventos fortes, o fogo se alastrou rapidamente. “Há muitos focos espalhados por toda a região, o que dificulta bastante a organização do combate. O relevo acidentado torna muito difícil o acesso às áreas atingidas. Trata-se de um trabalho muito complexo”, explicou o sargento Bruno Teófilo Dias, chefe da equipe que atua no local.
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Ainda na segunda-feira, devido ao risco à segurança dos combatentes, os trabalhos foram suspensos e retomados pela manhã de ontem, “momento em que a temperatura mais baixa e a menor intensidade dos focos favorecem as ações de combate”, conforme justificou a corporação.
Apesar dos esforços, o incêndio entrou no 4º dia de combate, nesta quarta-feira (8/10), com perspectiva de ser debelado. Em imagens feitas pelo Estado de Minas na Serra, é possível ver a fumaça alta saindo de diferentes pontos da mata, e próximo do local em que aparecem algumas casas. Os registros também mostram os militares chegando com caixas de suprimentos e vestindo farda, capacetes e viseiras.
Efetivo
Ontem, o tenente Radamés Lucas Hipólito, comandante do 2º Pelotão de Bombeiros de São João del-Rei, anunciou reforços. “Além de uma equipe de combate do Pelotão de São João del-Rei, virão mais militares do Núcleo de Incêndios Florestais (NIF) da Companhia Independente de Barbacena”, afirmou. Ao todo, o incêndio continua sendo debelado com cerca de 27 combatentes, utilizando bombas costais e abafadores. Em função dos riscos aos militares e a baixa visibilidade, as atividades foram interrompidas durante o período noturno.
Além da equipe em terra, a operação contou com apoio aéreo. Duas aeronaves Air Tractor e Guará 01, do Instituto Estadual de Florestas, lançaram água diretamente nos focos inacessíveis. “Elas provocam o resfriamento, abaixando as chamas e permitindo o acesso efetivo dos agentes. No início da manhã (ontem) tivemos mais sucesso, combatendo uma frente. Mas no período da tarde, com o aumento das temperaturas, alguns focos voltaram, houve reignição em alguns pontos. O incêndio vai entrar no 4º dia de combate, a previsão é que seja debelado hoje”, comunicou Radamés. Um helicóptero também trabalhou colocando as equipes em campo.
Reforços municipais
A situação chamou a atenção e comoveu as prefeituras municipais. Em Tiradentes, o Executivo informou em nota publicada nas redes sociais, que tem acompanhado de perto a situação, prestando total atenção e suporte às equipes que atuam no local.
“A Defesa Civil, sob coordenação de Raimundo Noronha, está em campo realizando o monitoramento contínuo e adotando as medidas emergenciais possíveis. No entanto, diante da gravidade e da extensão dos focos, os recursos locais se mostram insuficientes para conter o avanço das chamas”, disse. Por esse motivo, a prefeitura afirmou que encaminhou solicitação urgente aos órgãos estaduais e federais competentes, pedindo o reforço de equipes especializadas, apoio técnico e equipamentos adequados para o combate ao fogo.
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À reportagem, o prefeito de Santa Cruz de Minas, Wagner de Almeida, comentou que a cidade é parceira de Tiradentes há muitos anos, e por isso, não mediu esforços para ajudar. O município contribuiu, conforme solicitado, com garrafinhas de Gatorade e paçocas. “Faço um apelo para que as pessoas não provoquem incêndios. Todo ano é esse sufoco. Imagine os animais. Todo incêndio não nasce sozinho, alguém fez alguma coisa”, sugeriu ele. Já o prefeito de São João del-Rei, Aurélio Suenes de Resende, mobilizou a brigada voluntária, Defesa Civil, Secretaria de Meio Ambiente e dois caminhões-pipa.
Patrimônio verde
A Serra de São José é considerada um patrimônio de Tiradentes, e uma moldura para a cidade. Localizada na bacia hidrográfica do Alto do Rio Grande, a área abrange, além de São João del-Rei e Tiradentes, os municípios de Prados, Coronel Xavier Chaves e Santa Cruz de Minas.
Incluindo mata atlântica, cerrado e campo rupestre em uma rica diversidade de ecossistemas, a Serra tem 13 quilômetros de extensão e uma altitude máxima de 1.400 metros.
A Área de Proteção Ambiental (APA) São José e o Refúgio Estadual de Vida Silvestre (REVS) Libélulas da Serra de São José possuem 4.648,3 e 3.709,79 hectares, respectivamente, formando as duas unidades de conservação no local. Elas resguardam as nascentes do Rio das Mortes e do Rio Carandaí, que juntos formam a bacia do Rio Grande.
O Corpo de Bombeiros ainda não mensurou o tamanho da área queimada, o que deve ser apurado com o término do combate ao fogo. Também não há informações acerca do impacto ambiental causado pelo incêndio.
Calor e propagação
Minas Gerais caminha para o fim da estação seca. Nessa época do ano, as temperaturas elevadas e a ausência de chuvas tornam o aumento das queimadas, comum. De acordo com a meteorologista Anete Fernandes, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), isso acontece por duas razões: tempo seco e período de preparo de terrenos para plantio. “A situação está condizente com a época. Entre o final de setembro e início de outubro é comum aumentar”, afirmou.
Segundo ela, as condições meteorológicas não estão críticas como há dois anos. “Tivemos estações muito próximas da normalidade. Tivemos chuvas ainda que leves, pontuais e passageiras, durante os meses de outono e mesmo os meses de inverno, e agora no início da primavera”, descreve a meteorologista.
Anete explica que o auge dos incêndios costuma se dar ao final do período seco, quando são registradas as maiores temperaturas do ano. “É comum a ocorrência de ondas de calor, mas não é isso o que está acontecendo. As temperaturas elevadas estão associadas a uma situação pré-frontal. Tem uma frente fria avançando em direção ao litoral da região Sudeste, mas não vai conseguir avançar sobre a região, portanto não vai causar chuva no estado”, destacou. Ela reforça que os termômetros registrando valores altos favorecem, não a ocorrência de queimadas, mas a propagação dos focos, especialmente em áreas vegetadas.
Segundo a corporação, o fogo pode ter origem em mata e se propagar para o meio urbano ou ao contrário. “Quase em sua totalidade, os incêndios em vegetação são provocados por ações humanas voluntárias ou involuntárias. Os poucos casos de exceção podem ser provocados por queda de raios e rompimento de cabos ou fiações elétricas”, informou a instituição. Da série de registros, o maior atendimento do Corpo de Bombeiros está concentrado na região metropolitana de Belo Horizonte.
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Em 2024, o estado registrou 29.358 incêndios em vegetação, sendo 2048 apenas em outubro. O valor anual representa um aumento de 71,31% em relação às ocorrências de 2023 - quando Minas fechou em 17.136 chamados. Já este ano, até o momento, os bombeiros contabilizaram 20.339 registros, sendo 950 nos primeiros sete dias do mês. Por outro lado, a quantidade registrada na semana é menor que no ano passado. De 1º a 7 de outubro de 2024, o estado teve 1693.
Dicas preventivas
- Evite atitudes que possam causar incêndios
Ao fazer a limpeza de lotes ou terrenos vagos, opte sempre pela capina ou roçamento. Nunca utilize o fogo, pois se ele fugir ao controle e atingir uma área com vegetação, pode se tornar um grande incêndio. Ao dirigir em rodovias, não jogue pontas de cigarro para fora de veículos. Ao deixar locais de camping, certifique-se de que as fogueiras foram totalmente apagadas. Se possível, aplique uma boa quantidade de água ou terra/areia.
- Denuncie
190: Polícia Militar - 193: Corpo de Bombeiros Militar - 181: Disque Denúncia Unificado
- Em caso de incêndio em vegetação, ligue para o Corpo de Bombeiros Militar pelo telefone 193. O rápido acionamento garante a mobilização das equipes para o combate ao incêndio e minimiza os prejuízos causados ao meio ambiente.
O QUE É PERÍODO DE ESTIAGEM OU PERÍODO SECO?
Época do ano marcada por mudanças climáticas significativas com:
- - temperatura do dia mais elevada
- - umidade relativa do ar mais baixa
- - maior incidência de ventos
- - longo período sem chuvas
Estas condições fazem com que a vegetação fique mais seca e, consequentemente, mais suscetível a incêndios. Tais fatores, aliados à ação negligente ou mesmo criminosa de algumas pessoas, favorecem a ocorrência de incêndios em vegetação.