Zoológico de BH ajuda na preservação de espécies ameaçadas de extinção
Um dos casos mais populares de ´reservação no Zoo de BH é o dos gorilas. Em 2014, nasceram os primeiros filhotes da espécie no Brasil e da América do Sul
Zoológico de BH ajuda na preservação de espécies ameaçadas de extinção.
. crédito: Tulio Santos/EM/D.A.Press
O Zoológico de Belo Horizonte (MG) abriga, atualmente, mais de 3.500 animais. Dentre as tantas aves, répteis, mamíferos e peixes, algumas espécies vivem em família, com mais de um exemplar no zoo. Outras vivem sozinhas, e muitas delas correm o risco de extinção.
O espaço acolhe tanto animais nativos quanto espécies internacionais ameaçadas. Um exemplo popular é a onça-pintada Maya, do Cerrado brasileiro, que chegou em abril deste ano e já virou uma das maiores atrações do zoo.
Outro caso recente envolve a chegada de umanova macaca da espécie sauim-de-coleira, um dos 25 primatas mais ameaçados do planeta segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
As novidades podem cultivar a curiosidade do público em saber quais outros animais do zoológico estão ameaçados.
Espécies ameaçadas ganham chance de sobrevivência no zoo de BH. Tulio Santos/EM/D.A.Press.
Preservação das espécies
O Zoológico de BH tem um histórico de sucesso na conservação de espécies ameaçadas. Um dos casos mais populares é o dos gorilas. Em 2014, nasceram os primeiros filhotes da espécie no Brasil e da América do Sul.
Esse feito foi resultado de um trabalho iniciado décadas antes, com a chegada do gorila Idi Amin em 1975. No entanto, a reprodução só foi possível após a chegada de fêmeas vindas da Europa, em 2010.
Entre 2014 e 2021, nasceram quatro filhotes, um marco histórico na conservação: o único registro de reprodução da espécie na América do Sul. Atualmente, vivem no local as fêmeas Imbi, Lou Lou e Anaya, além do novo membro, o macho Bu Bu, que chegou em 2025 da Hungria.
Segundo a bióloga e diretora da Zoobotânica do Zoo de BH, Sandra Cunha, essas reproduções tornaram o zoológico de Belo Horizonte uma referência internacional no manejo da espécie por mais de 10 anos.
Apesar da notoriedade dos gorilas, outros animais ameaçados também têm apresentado sucesso reprodutivo no zoológico.
O cervo-do-pantanal, maior cervídeo da América do Sul, está classificado como “vulnerável” (VU) tanto na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) quanto na Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção.
Quem visita o Zoológico de Belo Horizonte talvez nem imagine que, entre os mais de 3 mil animais que vivem ali, alguns já somam décadas de histórias. É o caso de um simpático hipopótamo que há anos reina tranquilo nas águas do recinto, e de um casal de araras-canindé, tão fieis um ao outro quanto às árvores em que vivem Divulgação/Suziane Brugnara
Esses verdadeiros "vovôs da selva" testemunharam gerações de visitantes, mudanças na paisagem do parque e transformações no cuidado com os animais Divulgação/Suziane Brugnara
Fundado em 1959, o Jardim Zoológico da Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica, localizado na região da Pampulha, se consolidou como um espaço de lazer e educação ambiental em Belo Horizonte Divulgação/Suziane Brugnara
Mas hoje, o destaque vai para os anciões do local, animais que encantam não apenas pela beleza, mas pela longevidade e pelas histórias que carregam. Confira a seguir os 10 animais mais velhos do Zoo
Divulgação/Suziane Brugnara
Arara-vermelha: O animal chegou ao Zoo em 1997 e agora conta com pelo menos 28 anos. Em geral, são animais monogâmicos, sendo encontrados vivendo em pares, voando juntos quase encostando as asas. Se comunicam de forma complexa por meio de vocalizações barulhentas Divulgação/Suziane Brugnara
Papagaio-galego: Com pelo menos 31 anos, o animal chegou ao Zoo em 1994. Caracteriza-se pela plumagem verde-clara, com barriga e cabeça de cor amarela, e bico rosado. O papagaio-galego é tímido e não aprende a falar Divulgação/Suziane Brugnara
Mutum-do-norte: também com 31 anos, mede cerca de 84 cm, possuindo penas negras, sendo as da região do ventre e a ponta das penas da cauda de tons castanhos Divulgação/Suziane Brugnara
Casal de araras-canindé: Ambos com 36 anos, podem viver cerca de 70 anos em cativeiro.
Uma vez que formam casal, a espécie não se separa mais. Se em sua região os locais para nidificação são escassos, casais podem expulsar ou matar ocupantes de ninhos já estabelecido Divulgação/Suziane Brugnara
Chimpanzé "Serafim": Com 37 anos, o animal faz parte da família Hominidae, possuindo uma semelhança genética de mais de 99% com os humanos. A espécie mede entre 95 cm e 140 cm, e seu peso varia entre 25 e 60 kg Divulgação/Suziane Brugnara
Aperema: Com pelo menos 37 anos, essa espécie de cágado semiaquático possui uma carapaça marrom escura e preta. Atinge o tamanho máximo de 26 cm e pesa em média 2 kg Divulgação/Suziane Brugnara
Elefante "Axé": Com 38 anos, Axé faz parte da espécie de maiores animais terrestres que existem, pesando até 12 toneladas e medindo em média quatro metros de altura Divulgação/Suziane Brugnara
Jabuti-tinga: Aos 40 anos, está no Zoo desde 1994. O jabuti-tinga é uma das duas espécies de jabuti existentes. Conhecido por seu casco brilhante, esse réptil é onívoro, se alimentando de vegetais, frutas e proteína animal (tais como insetos e minhocas) Divulgação/Suziane Brugnara
Hipopótamo "Geriza": Com 41 anos, Geriza passa grande parte do dia na água. Sua espécie do ambiente aquático, entre outros motivos, para assegurar que sua pele fique úmida. Quando exposta ao ar, a pele desses animais pode apresentar rachaduras Divulgação/Suziane Brugnara
Harpia: Sendo o animal mais velho do Zoológico, a harpia macho de 45 anos, chegou ao espaço em 1979. A ave, comum na mitologia grega, é considerada a ave mais forte do planeta e a maior ave de rapina brasileira Divulgação/Suziane Brugnara
No zoo de BH, três filhotes da espécie nasceram nos últimos anos: um macho, Anakin, em 2023; uma fêmea, Viola, em 2024; e outro macho, Ibere, em 2025.
Outro caso importante envolve o sagui-da-serra-escuro, espécie endêmica da Mata Atlântica que é altamente dependente de ambientes florestais preservados. A destruição do bioma coloca o animal em sério risco de extinção. Em 2024, nasceram dois filhotes da espécie, batizados de Dudu e Mari.
Sandra afirmou que a sexagem, processo que descobre o sexo dos animais, demora mais nessas espécies. O motivo se dá pelo apego dos filhotes com suas mães. “Não desgrudam”, relatou.
Além desses, o zoológico também registrou nascimentos de outras espécies ameaçadas nos últimos anos:
Uma mico-leão-preto chamada Preta, em 2021;
Um mico-leão-de-cara-dourada chamado Lupi, em 2023;
Um tamanduá-bandeira batizado de Curumim, também em 2023;
Um bugio ruivo, nomeado de Bruno, em 2024;
E uma macaca-prego-do-peito-amarelo chamada Maria Teresa novamente em 2024.
Espécies que sofrem risco de extinção. Tulio Santos/EM/D.A.Press
Animais escondidos
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) é o órgão responsável pela gestão e destino desses animais.
A instituição atua para evitar o cruzamento entre animais com a mesma linhagem genética, prevenindo hibridismos e acasalamentos indevidos, o que é essencial para garantir a preservação das espécies.
Atualmente, o zoológico participa de diversos planos de conservação, tanto nacionais quanto internacionais. Algumas espécies brasileiras, por exemplo, são consideradas internacionais por também serem manejadas em outros países. Um exemplo recente é o da ararinha-azul-de-Spix, espécie nativa do Brasil que nasceu em um zoológico, o Pairi Daiza, na Bélgica.
Alguns animais, como a arara-azul-de-lear, espécie do nordeste do estado da Bahia, que enfrenta alto risco de extinção, não são expostos ao público. Eles ficam em setores exclusivos, com o objetivo de reprodução e posterior reintrodução na natureza. A prioridade, nesses casos, é a conservação extrema.
O lince ibérico (Lynx pardinus), um dos felinos mais raros do mundo, deixou de aparecer na lista dos animais ameaçados de extinção. wikimedia commons Diego Delso
A boa notícia foi divulgada no dia 20/06/24. Agora, o número de linces ibéricos supera os 2 mil indivíduos. wikimedia commons
Diego Delso
Em 2001, havia apenas 62 adultos dessa espécie. Um ano depois, esse número aumentou para 648. wikimedia commons http://www.lynxexsitu.es
A classificação do lince ibérico foi alterada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) de "em perigo" para "vulnerável". O órgão é responsável por analisar o grau de ameaça às espécies. Andrea Bohl por Pixabay
"A Lista Vermelha da UICN é uma ferramenta essencial para medir o progresso no sentido de travar a perda de natureza e alcançar os objetivos globais de biodiversidade para 2030", destacou a Diretora Geral da UICN, Dra. Grethel Aguilar. Alexa por Pixabay
"A melhoria no estado de conservação do Lince Ibérico demonstra que a conservação bem-sucedida funciona tanto para a vida selvagem quanto para as comunidades”, concluiu. Zden?k Machá?ek Unsplash
Originários de regiões de Portugal e da Espanha, os linces ibéricos começaram a enfrentar sérios desafios a partir dos anos 1960. pexels patrice schoefolt
A expansão agrícola invadiu seus habitats naturais e a caça intensiva levou a uma drástica redução de população da espécie. kenny goossen unsplash
Durante as décadas de 1980 e 1990, Portugal foi o centro de uma campanha intitulada "Salvem o Lince e a Serra da Malcata", que deu início aos esforços de conservação do lince ibérico. wikimedia commons
Diego Delso
De acordo com a UICN, desde 2010, mais de 400 linces ibéricos foram reintroduzidos em várias áreas de Portugal e Espanha; os felinos agora ocupam pelo menos 3.320 km², um aumento de 449 km² em relação a 2005. wikimedia commons http://www.lynxexsitu.es
No mundo todo, diversos felinos lutam contra a ameaça de extinção. Relembre alguns! montagem / wikimedia commons
Gato-dos-pampas: É considerado o felino mais ameaçado do planeta, com apenas 35 a 50 indivíduos na natureza. Habita o Pampa brasileiro e sofre com a perda de habitat e caça desenfreada. wikimedia commons Jairmoreirafotografia
Gato-do-mato: Presente na Mata Atlântica e Cerrado, esse felino é classificado como "vulnerável". Ameaças como perda de habitat, atropelamentos e doenças colocam a espécie em risco. wikimedia commons Groumfy69
Gato-mourisco: Também conhecido como jaguarundi, esse felino é encontrado em diversos países da América do Sul. Apesar da ampla distribuição, está ameaçado devido à perda de habitat e caça. wikimedia commons thibaudaronson
Gato-bravo-de-patas-negras: Menor felino da África, com cerca de 9.707 indivíduos, esse animal é "vulnerável" à extinção. Habita a região árida do sudoeste da África Austral e sofre com a perda de habitat, caça e atropelamentos. wikimedia commons Patrick Ch. Apfeld
Leopardo-das-neves: Está ameaçado devido à caça furtiva, mudanças climáticas e perda de habitat. A convivência com populações humanas também leva a conflitos, pois os leopardos atacam o gado. wikimedia commons domínio público
Leão Asiático: Sua condição hoje encontra-se "em perigo" por conta da escassez de presas, perda de habitat e conflitos com humanos. wikimedia commons Derek Ramse
Guepardo: O felino está classificado como "vulnerável" e existem cerca de 6.700 indivíduos na natureza. Além da caça ilegal, os guepardos também sofrem com a baixa diversidade genética. pexels Magda Ehlers
Leopardo-de-Amur: Em "perigo crítico", o leopardo-de-amur (ou leopardo-siberiano) só conta com cerca de 100 indivíduos na natureza, tudo graças ao desmatamento, à caça furtiva e à perda de presas naturais. wikimedia commons Fabio Usvardi
Onça-pintada: Muito conhecida do Pantanal brasileiro, a onça-pintada está classificada como "quase ameaçada" por conta do desmatamento e da perda das florestas tropicais. Rogério Cunha de Paula ICMBio
Puma (onça-parda): Embora ainda seja classificada como "pouco preocupante", a perda de habitat e conflitos constantes com agricultores tem provocado uma diminuição da população da onça-parda. Bas Lammers wikimeida commons
“O território deste animal é extenso, mas tem diminuído cada vez mais. No futuro, vamos realizar as solturas nas áreas de preservação”, relatou Sandra.
Há ainda outros animais ameaçados no zoo de BH, como o lobo guará, espécie de canídeo endêmico da América do Sul. Um catálogo da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) contabilizou 24 mil indivíduos sobreviventes em todo o Brasil.
Cuidados especiais
Ainda de acordo com Sandra Cunha, as dietas e os cuidados veterinários são individualizados, variando conforme a espécie e suas necessidades específicas.
Um exemplo é o do chimpanzé Serafim, um primata de 37 anos, diagnosticado com diabetes tipo 1, que recebe uma alimentação especial e mais restrita para garantir uma vida plena e saudável.
“O compromisso do Zoológico de BH é garantir a melhor qualidade de vida possível sob cuidados humanos e a preservação das espécies. Toda espécie merece o melhor tipo de cuidado.”, destaca Sandra.