PERIGO NOS MANANCIAIS

Afogamento na RMBH repete cena de tragédias em Minas

Morte de homem na represa de VargeM das Flores engrossa lista de óbitos de banhistas no estado. Até 30 de setembro, número chegava a 201

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A morte de um homem, cujo corpo foi resgatado ontem no lago da represa de Vargem das Flores, em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), engrossa as trágicas estatísticas de óbitos nos mananciais de Minas Gerais. De janeiro de 2016 até 30 de setembro deste ano, 2.863 pessoas perderam a vida em rios, lagos, lagoas e cachoeiras do estado, aponta o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG).

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Nesses quase 10 anos, a média mensal foi de 24,5 afogamentos fatais no estado, em episódios que, em muitos casos, segundo a corporação, tiveram como pano de fundo o uso de álcool ou uma autoconfiança exacerbada das vítimas. Somente nos nove primeiros meses de 2025, foram 201 óbitos, o que significa uma média 22,3 por mês, contra 19,7 de igual período do ano anterior (178).


Na tarde de ontem (16/10), os bombeiros encontraram o corpo do pedreiro Rainer Talles Nunes da Silva, de 30 anos, que se afogou no lago da represa de Vargem das Flores. Testemunhas informaram que o jovem submergiu pouco depois de começar a nadar no lago, na tarde de quarta-feira. O Corpo de Bombeiros foi acionado e fez buscas no local até o anoitecer, sem sucesso. Uma outra guarnição retornou ao local na manhã de ontem e localizou o corpo no início da tarde, no mesmo ponto em que havia desaparecido, a cinco metros de profundidade. Familiares da vítima que estiveram no local preferiram não dar entrevistas.


A morte de Rainer Silva se soma a outros 16 afogamentos fatais registrados na RMBH de janeiro a setembro deste ano. Somente no nono mês, que coincide com a elevação das temperaturas no estado, o número chegou a seis na Grande BH e a 21 no interior do estado.


Desde 2016, os anos completos com mais mortes por afogamento no estado foram 2016 (385), 2020 (328) e 2023 (326). No mesmo período, a região com mais óbitos foi a Central (667), seguida do Vale do Jequitinhonha (137) e Campo das Vertentes (108).


De acordo com o sargento do Corpo de Bombeiros Alan Azevedo, que atua na 5ª Seção do Estado Maior, a elevação das temperaturas e as férias representam aumento dos riscos. É justamente nesses momentos que as pessoas buscam cachoeiras, lagos, lagoas e rios para a recreação com amigos, muitas vezes sem a preocupação de saber se aquele espaço é seguro para nadar.


Além da recreação em locais perigosos, o uso de bebidas alcoólicas ou de substâncias psicoativas potencializa os riscos. “As pessoas ingerem bebida alcoólica em excesso e resolvem ir aos balneários. Criam coragem, com uma espécie de espírito de aventura, e resolvem atravessar o rio, às vezes de modo exibicionista, para chamar atenção de quem está por perto”, aponta o militar.


De acordo com o oficial, os dados sobre afogamentos indicam que homens, especialmente os mais jovens, entre 18 e 29 anos, são o grupo com maior potencial de colocar em situação de risco, pautados por uma autoconfiança desmedida. Como resultado, esse grupo é o que concentra o maior número de mortes por afogamento.


Do total de vítimas entre 2016 e setembro deste ano, 2.596 eram homens, contra 258 mulheres. Em cinco casos, o sexo da vítima não pôde ser identificado. Ainda segundo os dados do Corpo de Bombeiros, do total de pessoas que morreram afogadas entre 2016 e setembro deste ano, nada menos que, uma vez que os corpos foram encontrados em adiantado estado de decomposição.


Integrante da parcela da população à frente das estatísticas de afogamentos no estado, um jovem de 27 anos morreu em abril, após entrar na Lagoa da Pampulha. Uma amiga da vítima relatou que o rapaz a chamou para andar pela orla da lagoa e, ao chegar próximo à entrada do Parque Ecológico, decidiu entrar na água para nadar. Após um tempo, submergiu e não foi mais visto. O corpo do jovem foi encontrado no em 3 de abril, dois dias após o desaparecimento.


SALVAMENTO DE RISCO


Tentativas de salvamento sem preparo para esse tipo de ação também estão na lista dos episódios que terminam em mortes trágicas em Minas Gerais. Foi o que ocorreu em Brasilândia de Minas, na Região Noroeste do estado, a 380 quilômetros de BH, em 28 de setembro, quando um casal perdeu a vida ao tentar resgatar a filha de 5 anos das águas, no Rio Paracutu. A criança também morreu.


A menina Rebecca, de 5 anos, estava na parte rasa do rio, quando foi levada para a área mais funda pela correnteza. Desesperada, a mãe da criança, Edileia Rocha, de 32, pulou na água para tentar salvar a filha, mas não conseguiu nadar. O marido, Rodrigo Rocha, de 34, tentou socorrer as duas e também se afogou. O casal deixou outros dois filhos, de 8 e 4 anos.


A tragédia que envolveu a família de Brasilândia de Minas não é recorrente. No início de setembro, por exemplo, o padrasto de uma criança de 6 anos morreu depois de entrar na água para salvar a enteada, que se afogava no Rio Tijuco, em Ituiutaba, no Triângulo Mineiro, cidade localizada a 685 quilômetros de BH. O corpo do rapaz, de 30, foi encontrado no dia 9, 24 horas após o seu desaparecimento nas águas do manancial. O da menina foi localizado no quarto dia de buscas, a 700 metros do ponto em que a criança submergiu.


O sargento Alan Azevedo alerta para o perigo envolvido em casos como esses. Segundo ele, pular na água para resgatar alguém que esteja se afogando exige especialização. O conselho, nesses casos, é adotar medidas que possam ajudar no salvamento sem colocar a própria vida em risco.


“De imediato, a orientação é acionar o Corpo de Bombeiros por meio do número 193”, recomenda o sargento, que cita ainda outras medidas úteis para tentar ajudar a vítima, como lançar uma corda, um pedaço de galho, várias peças de roupas amarradas ou até mesmo um estepe de carro para que ela possa ser puxada para a margem.


CONSCIENTIZAÇÃO


Todos os anos, o Corpo de Bombeiros faz campanhas de conscientização em períodos de maior risco de afogamentos – junho e julho, período de férias e ao longo do carnaval. Nessas operações, os agentes mapeiam as regiões que com maior número de afogamento – açudes, lagos e cachoeiras – e orientam os banhistas sobre os riscos de nadar em determinados lugares.


“Os militares ficam naquele local, instalam placas que mostram os riscos no espaço, orientam as pessoas a não entrar na água, fazem a sinalização até mesmo dentro da própria cachoeira, na lagoa e no rio, com uma fita zebrada, para impedir que as pessoas frequentam aquele lugar”, explica o bombeiro.


A corporação ainda produz cartilhas e vídeos, que são divulgados pelas redes sociais, com as operações sendo realizadas in loco. Essas ações buscam demonstrar o quão arriscado é nadar sem o preparo necessário.


Publicadas no site da corporação, as recomendações para prevenir acidentes destacam que “embora o afogamento pareça ter sua causa simplesmente na falta de habilidade em nadar, as estatísticas apontam um dado alarmante: afogamentos também acontecem com pessoas que sabem nadar”.

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Para evitar o risco, os bombeiros recomendam que os banhistas procurem sempre local onde haja a presença de guarda-vidas ou do Corpo de Bombeiros Militar, seguro e apropriado para o lazer. Na lista de orientações estão ainda atitudes como não entrar em águas poluídas ou em locais onde há aviso de perigo e ficar atento e respeitar as placas e faixas de advertência.


Algumas mudanças de comportamento podem evitar acidentes, alerta ainda o site do CBMMG: nunca nade sozinho; se ingerir bebida alcoólica não entre na água; permaneça próximo à margem; nunca salte de locais elevados para dentro da água; não faça brincadeiras de mau gosto (caldos, trotes, saltos); obedeça as orientações dos bombeiros ou dos salva-vidas; e evite fazer refeições pesadas antes de entrar na água.


Aos pais e responsáveis, a recomendação é que não deixem as crianças sozinhas e evitem permanecer com próximo de onde haja embarcações. E como alertou o sargento Azevedo, “não entre na água para tentar salvar outra pessoa! Você pode se transformar em mais uma vítima.”


*Estagiário sob supervisão da subeditora Rachel Botelho

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