“Você está querendo vender seu carro. Pode deixar com a gente. Fazemos um contrato de consignação e te repassamos o dinheiro da venda. Pode passar aqui na nossa loja, na Raja Gabaglia, 2.000. Somos uma empresa séria, a WMotors”.

Essa era a conversa dos proprietários da referida loja de revenda de veículos usados, ambos chamados William, W. R. A., de 29 anos, que está preso, e W. D. T. de 38, que está foragido, para convencer as pessoas a deixarem com eles os carros que pretendiam vender. O prejuízo estimado, até aqui, é superior a R$ 2 milhões.

Assim começava o golpe. Hoje, segundo o delegado Roberto Veran, da Delegacia de Furtos de Veículos, já são 20 vítimas que procuraram a delegacia, mas que não conseguiram nem recuperar o veículo e nem receber o dinheiro da venda. “Mas acreditamos que existam mais vítimas”. 

As investigações tiveram início há quatro meses. Segundo o delegado Veran, tudo foi muito bem armado pelos golpistas. Primeiro, montaram uma loja num ponto que facilitava ludibriar as vítimas. Os William, como passaram a ser chamados pelas vítimas, então os procuravam com uma proposta para deixassem com eles os veículos, para a venda.

As vítimas 

A psicóloga Cândida Viana, de 54 anos, conta que anunciava seu carro, um Amarok, nas redes sociais. Foi em março. Um dia, recebeu uma ligação, de W. D. T., que lhe fez uma oferta para que deixasse o veículo com ele, pois ele se encarregaria de efetuar a venda.

“Ele me chamou pelo celular. Escutei a proposta e fizemos três reuniões, antes que eu entregasse o carro para a venda. Procurei um advogado, para tentar descobrir se a empresa era idônea, e a resposta foi positiva, que não havia nada contra ela. Fizemos um contrato e neste dizia, que se não vendesse em um mês, me pagaria pelo carro. Achei super vantajoso”, diz ela.

Depois de um mês, a psicóloga voltou a anunciar o carro na internet. A quem a procurasse mostrando interesse no veículo, ela dizia que fosse até a loja. “Só que eles nem mostravam o carro para o pretendente. Foi quando percebi que se tratava de um golpe e resolvi procurar a delegacia.”

A psicóloga descobriu que seu carro estava numa loja, Burrinhos Car, em Bela Vista de Minas. “Descobri que tinha sido vendido. Ele valia R$ 70 mil e foi repassado por R$ 35 mil”, diz revoltada.

O policial militar aposentado Eymard Anunciação, de 58 anos, foi outra vítima. “Eu estava anunciando o carro para vender, para pagar uma dívida, quando eles me ligaram e eu acabei entregando o carro”.

Ele conta que os donos da WMotors fizeram um contrato de consignação, o que aumentou a confiança de que o negócio seria sério. “Eles entraram em contato comigo, para que levasse o carro para eles venderem. Descobri depois que era golpe e que o veículo tinha sido vendido em João Monlevade”, conta.

A musicista Ana Flávia Bastos Nogueira, de 27 anos, é outra vítima do golpe. E fala com raiva. “Caí no golpe”. Segundo ela, aconteceu em maio, quando foi procurada pelos criminosos.

Sua situação foi ainda mais impressionante. Ela diz que toda vez que reclamava pelo veículo não ter sido vendido e que não podia ficar sem ele, os donos da WMotors, emprestavam-lhe um carro.

“Emprestaram três. No terceiro, desconfiei que já conhecia. Era de um amigo meu. Entrei em contato com ele e percebi que era vítima de um golpe. Devolvi o carro pra ele. Voltei na loja, mas não encontrei os dois proprietários. Um funcionário disse, apenas que não estavam lá, que estavam fora. Foi quando procurei a polícia”, conta a musicista.

Investigações

Segundo o delegado Roberto Veran, a partir dos depoimentos a polícia conseguiu chegar a um dos sócios. “Solicitamos, à Justiça, mandados de prisão, que foram deferidos. Fomos até a casa dele e o prendemos. Morava numa cobertura no Bairro Cinquentenário. O outro está foragido. Ainda não temos pistas.”

Ainda de acordo com o delegado, tanto o sócio preso quanto o foragido têm passagens pela polícia. W. R. A., que está detido, já havia sido preso por tentativa de homicídio e por estelionato. W. D. T., que está foragido, tem uma passagem por furto e várias por estelionato.

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Outro detalhe, segundo o delegado, é que quando perceberam que o nome da WMotors estava começando a queimar, eles trocaram o nome da empresa para Lions Car.

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