Organizações não governamentais (ONGs) lamentam a morte de Christina Maciel Oliveira, de 45 anos, mulher trans que foi espancada nessa segunda-feira (20/10), na Rua Padre Pedro Pinto, Região de Venda Nova, em Belo Horizonte. A vítima foi atingida por socos e chutes – ação flagrada por câmeras de segurança no local.

Nas redes sociais, o Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável (Insea) lamentou a morte de Cristina, vítima de feminicídio. Segundo o instituto, ela era muito amada e sonhadora e “inspirou muitas pessoas que precisavam dela”. “É doloroso perder alguém que fez tanto por quem mais precisava”, diz a publicação.

“Chris era nossa amiga, companheira e mobilizadora social em nosso projeto, que compartilha das mesmas lutas que ela: o direito à vida e à dignidade de pessoas trans e travestis. Não podemos nos calar diante de uma tragédia como essa, é indignante. Precisamos ser fortes como ela, nos mobilizar e fazer com que a luta de Chris siga adiante”, continua o post.

Para o Insea, a morte não pode ser tratada como mais uma estatística, pois é “resultado direto da negligência social e institucional diante da vida e da dignidade de pessoas trans”. Em imagens compartilhadas pelo instituto, é possível observar a mulher sorrindo no seu último aniversário, em julho, conforme o Insea.

Já a deputada federal Duda Salabert (PDT), ativista na luta pelos direitos LGBTQIAPN+, manifestou solidariedade com o caso, em redes sociais. De acordo com a deputada, elas se conheceram em 2017, quando Christina encontrava-se na Penitenciária Professor Jason Albergaria, em São Joaquim de Bicas (MG), na Região Metropolitana de BH.

Na ocasião, Salabert identificou a vítima como “um furacão”, pois tudo nela era “muito intenso”, como dança, afeto e fala, e associou a mulher como um verso do cantor Cazuza – “pra mim é tudo ou nunca mais”. Depois de sair da penitenciária, ela foi aluna de Duda em uma ONG e dizia que “nunca mais voltaria para cela”, conforme relatado pela parlamentar.

“Cris foi contratada [no Insea] e lá trabalhou nos últimos meses. Quando a vi pela última vez – semanas atrás – ela estava bastante melancólica. Nunca tinha visto Cris assim… Ontem, após eu publicar um vídeo de uma trans assassinada em BH, descubro tragicamente que essa trans era Cris. As imagens são traumáticas, virulentas, violentas. Dizem os jornalistas que ela foi morta em espaço público pelo ex-companheiro que não aceitou o fim do relacionamento. Transfeminicídio”, lamenta.

Como ocorreu o crime?

De acordo com o boletim de ocorrência registrado pela Polícia Militar (PMMG), populares as equipes policiais logo depois de Christina ser brutalmente agredida. Os policiais encontraram a vítima na calçada e logo depois identificaram o suspeito, de 24 anos, ex-companheiro da vítima que não se conformava com o término do relacionamento.

A mulher apresentava grande sangramento na cabeça. O serviço de atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e constatou a morte no local. O homem foi preso em flagrante a poucos metros de distância do local do crime. A audiência de custódia deve ocorrer na tarde desta terça-feira (21/10).

Uma testemunha informou aos policiais que o ex-casal estava discutindo, quando o suspeito atacou a vítima com socos e depois, com ela no chão, a agrediu com chutes na região da cabeça, prensando-a contra o solo. Outra testemunha afirmou que viu o homem dando uma rasteira na vítima.

O autor do crime disse à polícia que tinha um relacionamento com a vítima e que estariam tendo discussões constantes, pois a vítima não queria continuar com a relação e pediu para que ele saísse de casa. Ele afirmou que não concordava com o término, porque tinha um projeto junto e que seria “sacanagem querer que ele fosse embora”. Ele confirmou as agressões depois de ter discutido com ela.

O corpo da vítima foi removido pela perícia da Polícia Civil (PCMG) e a ocorrência foi encaminhada para a Segunda Central Estadual do Patrão Digital.

O que é transfeminicídio?

Transfeminicídio é o termo utilizado em casos de assassinato de travestis e mulheres transexuais motivado por ódio e desprezo à sua identidade de gênero. É uma forma de feminicídio, que ocorre devido à transfobia e à negação da cidadania dessas mulheres.

O transfeminicídio é a expressão mais extrema de um sistema de violência e exclusão que atinge pessoas trans, sendo agravado por fatores sociais como racismo e preconceito.

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