De Belém a BH, o sonho de uma cidade
A capital dos mineiros nasceu sob a "batuta" do engenheiro paraense Aarão Reis, chefe da Comissão Construtora que começou seu trabalho em 1894
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Os olhos do mundo estão voltados, a partir de hoje, para Belém (PA), que sedia até dia 21 a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP 30. Mesmo a milhares de quilômetros do epicentro das discussões e painéis internacionais, Belo Horizonte pode se orgulhar de manter um laço profundo com a capital paraense – na verdade, forte conexão desde antes da sua inauguração em 12 de dezembro de 1897. Era natural de Belém o chefe da Comissão Construtora da Nova Capital (CCNC), o engenheiro Aarão Leal de Carvalho Reis (1853-1936), mais conhecido na nossa história por Aarão Reis.
Em BH, tem bairro com o nome de Aarão Reis (na Região Norte de BH), rua na Praça Rui Barbosa (Praça da Estação) e busto no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, no Centro. Ao lado do engenheiro paraense, são homenageados, no monumento, mais três personagens importantes na construção da capital: Augusto de Lima (1859-1934), Afonso Penna (1847-1909) e Chrispim Jacques Bias Fortes (1847-1917).
“O trabalho em Belo Horizonte, que substituía Ouro Preto como capital de Minas, foi um grande desafio para Aarão Reis, engenheiro civil formado na Escola Politécnica do Rio de Janeiro e com vasto currículo de obras. Ele começou atuando na Comissão das Localidades (1892) e teve apenas três anos, a partir de 1894, para construir a cidade e entregá-la a tempo da inauguração”, diz o historiador e professor do Instituto de Educação Continuada (IEC) da PUC Minas, Yuri Mello Mesquita. Além de encarar uma série de obstáculos, como recursos limitados e falta ainda de uma ferrovia, o engenheiro uniu técnica e criatividade para buscar soluções locais, especialmente na questão sanitária.
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A palavra técnica é a chave para se entender melhor a trajetória do construtor de BH, “primeira capital planejada no Brasil republicano e não a primeira cidade planejada do país”, ressalta Yuri Mesquita. “Aarão Reis era um profissional eminentemente técnico, que guiava seus projetos pela técnica para transformação de espaços públicos. Mais tarde, ocupou cargos de expressão (presidente do Banco do Brasil e do Lloyd Brasileiro) e entrou para a política (eleito deputado federal em 1911 e 1927), mas era fiel ao que aprendeu na Escola Politécnica do Rio de Janeiro”, conta o historiador e professor. A escola foi fundamental para a formação da primeira geração de urbanistas no país.
TRABALHO TÉCNICO
Patrono da Cadeira 01 da Academia Nacional de Engenharia, Aarão Reis era filho de Anna Leal de Carvalho Reis e Fábio Alexandrino de Carvalho Reis, que chegou à presidência da Província do Pará. Quando o menino nasceu, Fábio exercia o cargo de inspetor da alfândega. No Rio, o jovem Aarão se matriculou na Escola Central, futura Escola Politécnica do Rio de Janeiro, na qual concluiu os cursos de engenheiro geógrafo (1872) e engenheiro civil (1874), recebendo o grau de bacharel em ciências físicas e matemáticas.
Com a Proclamação da República (1889), Aarão Reis colocou sua formação a serviço do progresso e modernização do país. Foi engenheiro-chefe da Estrada de Ferro de Pernambuco (1889) e diretor-geral da Secretaria de Estado da Agricultura, Indústria, Viação e Obras Públicas (1890), do estado nordestino. Antes de vir para Minas, trabalhou no Maranhão e Rio.
Como chefe da CCNC, foi responsável pelo planejamento de planimetria, arquitetura e construção de BH, antigo Arraial de Curral del-Rey. O plano do engenheiro para a criação da nova capital consistia na definição de uma avenida (Contorno) para delimitar a futura área urbana da cidade. O tempo, no entanto, mostrou ser isso impossível, e a capital dos mineiros, hoje com 2,3 milhões de habitantes, foi muito além dos limites da Avenida do Contorno. O projeto original ficou mesmo como um precioso documento da cidade.
JUSTIÇA DETERMINA PERMANÊNCIA EM MINAS...
Vitória importante para nosso patrimônio cultural. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que o busto-relicário de São Boaventura, esculpido pelo “mestre do barroco” para a Igreja de São Francisco de Assis, de Ouro Preto, seja mantido sob guarda da Arquidiocese de Mariana, à qual o templo do século 18 está vinculado. A decisão confirma entendimento, de 2017, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. O caso remonta a 2011, quando foi proposta ação pelo Ministério Público de Minas Gerais pedindo a devolução da escultura então em poder de um colecionador do interior de São Paulo. Atuaram a 4ª Promotoria de Justiça da Comarca de Ouro Preto e a Coordenadoria de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico (CPPC/MPMG), sendo a sentença proferida pelo Juízo da 1ª Vara Cível da Comarca de Ouro Preto.
DE PEÇA ESCULPIDA PELO “MESTRE DO BARROCO”
Conforme a ação civil pública, Aleijadinho, natural de Ouro Preto, teria produzido um conjunto formado por quatro bustos-relicários representando os doutores franciscanos – Venerável Duns Scott, Santo Antônio de Pádua, São Tomás de Aquino e São Boaventura – para integrar a Igreja São Francisco de Assis. Bem tombado desde a década de 1930 e localizado no Centro Histórico de OP, protegido pelo Iphan e reconhecido como Patrimônio Mundial. Estudos mostram que a obra em cedro teria sido concluída na terceira fase de produção de Aleijadinho, entre 1791 e 1812.
PAREDE DA MEMÓRIA
E já que falamos na página ao lado sobre o engenheiro paraense, mostramos, aqui, o monumento dedicado ao quarteto importante na construção de BH – Aarão Reis, Augusto de Lima, Afonso Penna e Bias Fortes –, numa história dividida em dois tempos e dois espaços. A ideia de prestar a homenagem partiu do vereador Geraldo Pontes, 60 anos após a inauguração da capital. Seu projeto foi aprovado e sancionado pelo então prefeito Celso Mello de Azevedo, embora o monumento, obra do escultor Hildegardo Leão Veloso, feita no Rio de Janeiro, só tenha ganhado forma na gestão seguinte, de Amintas de Barros. A inauguração ocorreu em 1963, quando as peças foram instaladas na Praça Sete. Sete anos depois, os quatro bustos foram levados para o Parque Municipal e migraram novamente, em 2005, para a atual Praça dos Fundadores, na mesma área de preservação ambiental.
PATRIMÔNIO DILAPIDADO
“Devoções Apropriadas – Dilapidação e retorno do patrimônio sacro de Minas Gerais” (Appris editora) é o título do novo livro de Thales Vargas Gayean. Na obra, o autor conta a história do monumental extravio do nosso patrimônio sacro e as tentativas de recuperar imagens, alfaias, pinturas e elementos de talha retirados das igrejas para abastecer antiquários, leilões e casas de colecionadores. Amparado em ampla documentação, Thales aborda a trajetória e o contexto em que se deu o processo de dilapidação a partir da década de 1950. “Do escandaloso furto do Museu da Prata, de 1973, aos anjos de Santa Luzia, em 2003, passando pela quadrilha do falsário José Timótheo, são diversos os casos registrados, demonstrando a continuidade histórica da espoliação do patrimônio mineiro, bem como da luta pela sua restituição”, explica. O livro está em pré-venda na Amazon, com lançamento em 15 de novembro.
CULTURA E ARTE
Novidade em Nova Lima, com a criação do Macro-Mural do Bairro Vila São Luiz. Unindo arte e cultura, a obra forma uma imensa serpente colorida nas fachadas de dezenas de casas, e pode ser vista do mirante do Espaço Cultural Piero Garzon Henrique. Projeto contemplado pela Plataforma Semente, banco de projetos socioambientais do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), e realizado pelo Instituto Cura, com apoio do município. A iniciativa envolveu o Mahku (Movimento dos Artistas Huni Kuin) – grupo de artistas indígenas da Terra Indígena do Rio Jordão (AC) –, artistas nova-limenses, moradores, famílias e comerciantes. “O Macro-Mural é uma expressão coletiva que transforma o espaço urbano, fortalece a identidade cultural e movimenta o turismo e a economia local”, diz a promotora de Justiça Cláudia de Oliveira Ignez, da 1ª Promotoria de Justiça de Nova Lima.
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ENCONTRO EM SABARÁ
A Academia de Ciências e Letras de Sabará recebeu o escritor Paulo Stucchi, duas vezes finalista do Prêmio Jabuti, para uma conversa sobre seu novo romance, “A dança da serpente”, que conta a história de Luzia Pinta, mulher condenada pela Inquisição no século 18. Participaram também o historiador e pesquisador da história local, José Arcanjo Bouzas, Argemiro Afonso Ramos, autor de “Luzia Pinta: a mulher que enfrentou a inquisição no Brasil” e Massuelen Cristina, diretora do curta-metragem “Curar Tempo – Saravá Luzia Pinta”. O encontro foi na Casa Amarela Centro Cultural, no Centro Histórico de Sabará.