Um helicóptero com um equipamento pendurado chamou a atenção de moradores de distritos de Ouro Preto, como São Bartolomeu e Amarantina, na Região Central de Minas Gerais. Além do estranhamento causado pela estrutura, que tem formato hexagonal e é levada por um cabo, moradores entrevistados relataram ao Estado de Minas que temem que o sobrevoo seja para prospecção de novas áreas para a mineração. À reportagem, a Vale, responsável pelo aeronave, informou que o equipamento foi utilizado para mapear características geológicas exclusivamente das áreas da empresa.
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A aeronave foi avistada por moradores do distrito de São Bartolomeu, como a jornalista Andrea Castello Branco. Ela afirma que o helicóptero tem sobrevoado a região há mais de um mês, e que a comunidade está preocupada com um possível avanço da mineração, especialmente pela Floresta Estadual do Uaimií estar localizada no distrito.
“A gente está com medo de que estejam sendo prospectadas novas explorações e que coloque tudo em risco. Ali, a gente tem o Rio das Velhas, a cabeceira do Rio das Velhas, milhares de nascentes”, afirma ela, que é representante da sociedade civil no Conselho Consultivo da Área de Proteção Ambiental (APA) dos Andorinhas e Floresta do Uaimií.
Também morador de São Bartolomeu, Luiz Fortes, dono de uma agência de turismo na região, corrobora com a afirmativa de que a população teme que as áreas de preservação ambiental sejam colocadas em risco. Além disso, acredita que houve falta de diálogo com a população sobre o objetivo dos sobrevoos.
Amarantina
“A gente não sabe o que realmente eles estão sondando. De repente eles querem uma área, por exemplo, que é habitada”, pontua Denizete de Fátima dos Santos, presidente da Frente Popular em Defesa de Amarantina, distrito onde mora. Ela afirma que a aeronave tem sobrevoado a região há mais de um mês, e que, eventualmente, paira sobre pontos específicos por alguns minutos.
Denizete afirma que o medo de uma possível expansão da mineração é intensificado pela presença da exploração de gnaisse no distrito. O material é utilizado especialmente na construção civil. “Nossa vida aqui foi totalmente afetada”, afirma Denizete sobre a atividade mineradora em Amarantina. Entre os impactos, ela cita o barulho, a poeira, o fluxo de carretas carregadas de material da pedreira e o medo constante de ter que sair de suas moradias.
Função do helicóptero
Em nota, a Vale informou que realizou, na segunda quinzena de outubro, atividade de aerolevantamento geofísico em operações da empresa no entorno de Mariana, na Região Central de Minas. “Esse procedimento utiliza sensores para mapear as características geológicas exclusivamente das áreas da Vale. Os dados obtidos apoiam estudos e o planejamento das atividades da empresa”, explicou a mineradora. Apesar da mineradora informar que já terminou o aerolevantamento, Denizete conta que "a última vez que viu o helicóptero foi ontem (quinta-feira, 6/11)".
A empresa afirmou que utiliza essa tecnologia para coletar e atualizar informações sobre seus ativos. A Vale informou ainda que a aeronave sobrevoou distritos próximo a Ouro Preto e Mariana enquanto realizava o deslocamento para as áreas da empresa. “Importante destacar que, em observância às normas vigentes, durante os deslocamentos não são coletados quaisquer dados”, ressaltou.
De acordo com a Vale, o procedimento seguiu todas as diretrizes regulatórias e contou com autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e do Ministério da Defesa. “A Vale mantém diálogo aberto com as comunidades e reforça seu compromisso com a transparência e o cumprimento das normas”, concluiu a mineradora.
O que é o equipamento?
O geólogo Caio Paula afirma que a estrutura pendurada no helicóptero é um “equipamento para aquisição de dados geofísicos, mais especificamente dados eletromagnéticos, que permitem identificar contrastes de resistividade ou condutividade elétrica em subsuperfície.” De acordo com o profissional, a tecnologia é “composta por um transmissor que gera um campo magnético e um receptor que mede as variações de correntes elétricas produzidas por esse campo, que podem ser medidas pelo tempo ou pela frequência.”
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Caio Paula explica que as informações obtidas são importantes para o conhecimento geológico local. Ele cita como exemplo a capacidade do equipamento de realçar a presença de estruturas e corpos rochosos que podem concentrar minério de ferro. “Esse é um método geofísico muito útil para delimitar alvos e definir diretrizes de campanhas de pesquisa e exploração mineral”, afirma o geólogo.
Além desse método, ele explica que o equipamento pode ser utilizado para detectar cavernas ou cavidades, mapear locais onde houve aterramento e mapear plumas de contaminantes — caso haja um vazamento de óleo. “Ele também é útil em pesquisas envolvendo água subterrânea e aquíferos”, conclui o geólogo.
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