Áudios obtidos pela reportagem do Estado de Minas nesta quinta-feira (13/11) apontam que os responsáveis pelo ataque brutal a Alice Martins Alves — mulher transexual de 33 anos que morreu no último domingo (9/11) — podem ser funcionários de um bar na Savassi, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. A vítima foi espancada em 23 de outubro depois de, supostamente, não pagar uma conta de R$22.

Um funcionário do estabelecimento relata para alguém, em áudios, o que teria ocorrido naquele dia. "Toda vez que ela chegava, Zé, a gente podia vender cerveja pra ela, e ela pagava na mesma hora, entendeu? Não podia deixar ela pagar no final, que ela era muito doida e ia embora sem pagar. Aí, dessa vez, ela saiu sem pagar. Aí, os meninos [funcionários do local] foram atrás e bateram até ela quase morrer. Aí morreu, bota fé?”, aponta trecho dos áudios recebidos pelo EM. Ouça outras partes:

Após os desdobramentos desta quinta-feira, a reportagem retornou à região entre os cruzamentos das avenidas Getúlio Vargas e Contorno, onde Alice foi agredida. Funcionários de comércios da área afirmaram não ter conhecimento sobre quem são os possíveis suspeitos do crime.

No entanto, em um dos estabelecimentos, a equipe de reportagem ouviu funcionários trocando afirmativas como: "Aposto que sei quem foi o X9", em provável referência à pessoa que enviou o áudio relatando a motivação da agressão. No mesmo comércio, um trabalhador disse: "Não foi pelos R$ 22, foi pela tiração".

Questionada pela reportagem, a Polícia Civil não confirmou nem negou se funcionários do estabelecimento são tratados como suspeitos do crime. "A PCMG informa que a investigação está sob sigilo, a cargo do Núcleo Especializado de Investigação de Feminicídio. Outras informações serão repassadas em momento oportuno", declarou.

Em nota, o advogado da família de Alice, Tiago Lenoir, disse que não vai "poupar esforços para, junto com a Polícia Civil e o Ministério Público, esclarecer cada detalhe e conduzir todas as investigações necessárias". 

"Todos os envolvidos serão devidamente responsabilizados, e lutaremos incansavelmente para que a justiça seja feita", frisou. 

O dia do ataque

Alice foi atacada na madrugada de 23 de outubro. Segundo o boletim de ocorrência, registrado em 5 de novembro, a vítima havia identificado apenas um agressor, que seria um homem alto, branco e  com cabelos castanhos escuros ou pretos. Ele vestia calça jeans e blusa preta. A mulher afirmou não conhecê-lo e relatou ter sido agredida de forma inesperada, sem motivo aparente. 

Após a agressão, Alice perdeu a consciência e foi socorrida pelo Samu, sendo encaminhada à UPA Centro-Sul. Em 2 de novembro, ela foi levada de ambulância para o pronto-atendimento da Unimed, em Contagem, onde exames apontaram fraturas nas costelas, cortes no nariz e desvio de septo. Segundo o pai, ela passou os dias seguintes debilitada e com dores abdominais intensas.

No sábado (8/11), os médicos identificaram uma perfuração no intestino, possivelmente causada por uma das costelas quebradas. Alice foi submetida a uma cirurgia de emergência, mas acabou morrendo devido a uma infecção generalizada.

 
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