"Sempre que eu tinha dúvida, ele trazia algo para me deixar com medo de sair da relação". A afirmação é da mulher que se "casou" com André Lefon Ribeiro de Souza Martins, de 24 anos. Ele fingiu ser major do Exército para aplicar um golpe de R$ 51 mil na companheira e na família dela.
O homem foi preso nessa quinta-feira (20/11) pela Polícia Civil de Minas Gerais, mas teve a liberdade provisória decretada pela Justiça. Em conversa com o Estado de Minas, a mulher afirmou que sofreu violência psicológica.
Segundo a vítima, os dois se conheceram há 10 meses por aplicativo de relacionamento e marcaram de se conhecer. "Quando saímos ele me falou que era engenheiro e trabalhava em uma empresa grande. Com o passar do tempo, fomos nos conhecendo e nos relacionando, ele me contou que era engenheiro do Instituto Militar de Engenharia (IME), do Rio de Janeiro", disse.
Conforme ela, a relação foi uma cadeia de mentiras. "Ele dizia que era militar, tinha finalizado como segundo tenente, mas não estava atuando. Depois contou que tinha sido chamado para trabalhar na Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (Adesg) como conselheiro de segurança e, para isso, ele tinha que ser promovido a capitão", relembrou a namorada.
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A mulher contou que não tinha acesso a documentos e provas de nada, até que soube por um conhecido que André usava um nome falso. "Ao confrontá-lo vieram as documentações falsificadas. Ele me mostrou um dossiê de todas as operações que ele já havia feito e todos os perfis dele, com o CPF e onde cada um atuava, e havia nome dos pais. Para mim, não havia dúvida de que ele estava sendo honesto, porque me deu documentos que até autenticados eram", alegou ela.
Interpol
A vítima ainda mencionou que o companheiro também inventou que iria atuar na Interpol. "Ele disse que teria que se mudar para a Amazônia porque ia ter que começar a fazer muitas operações", afirmou. Foi quando André informou que eram necessários realizar cursos obrigatórios para ser aceito.
"Segundo ele, esses cursos nem eram feitos aqui em BH, tinham alguns no Rio de Janeiro, Vitória, Brasília, e que era mais de R$ 30 mil para serem pagos de uma vez. Segundo ele, por causa do sucesso da Interpol veio o endossamento para major. Foi aí que ele falsificou outro documento, do Diário Oficial da União", destacou a mulher. Com isso, conseguiu que os parentes da namorada o “ajudassem” com R$ 51.852,97.
De acordo com a companheira, no certificado constava o nome de André, o currículo, medalhas e o posto que ocuparia, com código de verificação e "tudo correto". "Não deixava dúvidas. Como eu não entendia essas coisas, deixava para ele resolver. Todo o dinheiro ia diretamente para ele", lamentou a mulher, que alegou não saber se André tinha uma profissão real e como conseguia dinheiro.
Desconfiança
Ainda conforme o relato, as suspeitas só vieram durante a festa de despedida organizada pelo casal. "A mãe dele falou com meu pai que André era filho único. E ele me falou que ele tinha três irmãos. Ele também havia me dito que a mãe era uma mulher com doutorado e mestrado, mas era mentira", recordou.
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Os pais da vítima começaram a ficar desconfiados e contrataram um advogado criminalista. "Descobriu-se que ele foi preso em Varginha por toda essa falsificação ideológica, falsificação dos documentos, a questão dele usar fardamento do Exército e medalhas que não poderia", disse ela.
Relação familiar
A mulher também contou à reportagem que só conheceu a sogra e que sempre algo impedia de conhecer o restante da família de André. "Ele me falava que era de São Paulo e, quando íamos para lá, dava algum problema na hora de conhecer a família. Sempre tinha alguma coisa que impedia", ressaltou.
Além da mãe, a namorada conheceu o principal amigo do suspeito. "Ele foi o juiz de paz do casamento. Eles se conheciam há 12 anos. Depois descobriu-se que ele não era e que a certidão de casamento muito menos era válida", lembrou.
Pressão psicológica
A Polícia Militar foi acionada após receber uma denúncia de que um morador de um prédio no Bairro Nova Suíça, Região Oeste de Belo Horizonte, estava armado e fazia ameaças à namorada. A vítima, no entanto, desmentiu boatos de violência física.
Por outro lado, ela afirmou que o homem fazia violências psicológicas. "A qualquer instante que eu desse algum indício de término, ele ameaçava atentar contra a própria vida. Fazia muita chantagem emocional. Sempre que eu tinha dúvida ou via alguma inconsistência ele trazia algo para me deixar com medo de sair da relação", concluiu ela.
Prisão e golpe
Após ser acionada e comparecer no endereço no Bairro Nova Suiça, os militares questionaram André, que negou ser oficial do Exército e disse que apenas tinha se alistado e tentado concursos. O boletim de ocorrência também registra que o homem se casou usando farda do exército e apresentou uma certidão de casamento falsa.
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André foi preso em flagrante pelos crimes de falsificação de documento público, estelionato, usurpação de função pública e uso indevido de uniforme, distintivo ou insígnia militar.
Conforme a PC, o suspeito foi ouvido nessa quinta por meio da 2ª Central Estadual do Plantão Digital e preso em flagrante pelo crime de ameaça, no contexto da Lei Maria da Penha. "O caso será investigado pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, integrante do Departamento Estadual de Investigação, Orientação e Proteção à Família (Defam)".
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Após os procedimentos de polícia judiciária, ele foi encaminhado ao Sistema Prisional, à disposição da Justiça. Nesta sexta-feira (21), o juiz Valter Guilherme Alves Costa determinou que André poderá ser solto mediante pagamento de fiança de R$ 3 mil.
Para além disso, o homem deve seguir medidas cautelares que incluem manter uma distância de pelo menos 200 metros da vítima, comparecer a todos os atos processuais a que for intimado e manter o endereço atualizado. Caso as ordens não sejam cumpridas, ele poderá ser preso preventivamente.
