LUTO

Joias afetivas: conheça o método que transforma cinzas em lembrança 

Funerária oferece serviço que transforma cinzas humanas e de pets em diamantes e peças que prometem ressignificar a dor da perda 

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A dor da perda de um ente querido transformada em uma peça que traga conforto e lembranças da pessoa. Esta é a ideia das joias afetivas, peças feitas com cinzas ou mechas de cabelo humano ou de pelos de pets que já morreram. O serviço ficou mais conhecido quando a família da cantora Preta Gil, que morreu em julho, aos 50 anos, em decorrência de um câncer no intestino, anunciou que parte das cinzas da artista foram transformadas em diamantes, entregues para amigos e familiares, desejo manifestado pela própria artista antes de morrer. 

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Em Belo Horizonte, o mesmo serviço é feito pela funerária Metropax. A gerente de Operações da empresa, Izabel Pereirinha, explica que as joias afetivas começaram a ser oferecidas aos clientes há cerca de cinco anos. 

A empresa oferece algumas opções de joias, mas, segundo ela, a que tem mais significado são os biodiamantes. Todas são produzidas das cinzas ou cabelo humano, mas também de cinzas e pelos de animais de estimação.

"É uma forma de ressignificar aquele amor que partiu. Sem dúvida, para as pessoas que estão na jornada do luto, é algo muito importante, ter aquele amor representado em forma de pedra preciosa ou de alguma joia efetiva. Traz um pouquinho daquela pessoa para junto de quem fica”, afirma.  


Tipos de joias 

A linha de joias afetivas é composta de biodiamantes, pedras preciosas idênticas às encontradas na natureza, e outras que podem ser feitas de cristais e peças em resina. 

“No processo de produção do biodiamante, o laboratório faz a extração do carbono existente nas cinzas ou no cabelo humano. E, como na natureza, a base do diamante é o carbono cristalizado. Nesse processo, há a cristalização desse carbono através de um equipamento super moderno”, descreve. 

Izabel destaca que a técnica existe na Suíça há muitos anos. Quando alguma família demandava a criação das joias, a matéria-prima era enviada para o país europeu. “Mas, há cerca de 4, 5 anos, um laboratório do Brasil trouxe esse equipamento e fizemos parceria com eles para produção do biodiamante afetivo.”

A gerente de Operações ressalta que o biodiamante tem as mesmas características do mineral encontrado na natureza. "Brilho, pureza, valor financeiro, tudo é idêntico. Só que é uma forma afetiva, uma transformação daquele amor que partiu em pedra preciosa.” 

Segundo ela, o biodiamante traz para a família inúmeras possibilidades. "Entregamos tanto a joia pronta no formato que a família deseja, quanto a pedra lapidada para ser inserida em alguma joia afetiva que a família queira fazer, com um ourives de confiança”, explica. 

Etapas do processo de criação do diamante:

  • Coleta e análise inicial: após a coleta da mecha de cabelo ou das cinzas, o material é cuidadosamente identificado e cadastrado. Isso permite acompanhar todo o processo desde a recepção da amostra até a criação do diamante. 

  • Análise química: no laboratório, o carbono, elemento essencial para a criação do diamante, é isolado e gerada uma “impressão digital” química, que serve como base para a certificação posterior. 

  • Transformação do carbono: o carbono isolado passa por um processo de transformação em grafite, o primeiro passo para a criação do diamante. Essa transformação simula um processo natural que levaria milhões de anos.

  • Formação do diamante: o grafite é compactado em uma cápsula e submetido a altíssimas pressões e temperaturas em um equipamento específico. Aos poucos, a estrutura química do grafite é alterada, transformando-o em um diamante. 

  • Lapidação e certificação: após a formação, o diamante é lapidado para alcançar a forma final e submetido a um processo de certificação, garantindo a qualidade e autenticidade da peça.

  • Entrega final: o processo completo pode levar de dois a quatro meses, dependendo do tamanho desejado. No fim, a pessoa receberá o diamante.  


Possibilidades de fabricação

A gerente de operações explica que as joias podem ser produzidas em diferentes ocasiões. Tem pessoas que manifestam o desejo ainda em vida de ter cinzas transformadas em pedras preciosas. Mas também é possível fazer joias de pessoas vivas, usando as mechas de cabelo.

Durante o acolhimento, a empresa apresenta para a família a opção das joias afetivas. Se a família passou pela perda há mais tempo e tem interesse, pode levar as cinzas ou mechas até a empresa. 

"Tem ainda a possibilidade, por exemplo, do ente querido que foi sepultado, quando for exumado, os restos mortais são cremados e transformados em biodiamante. As possibilidades são inúmeras”, afirma Izabel.

 A gerente de operações da empresa, Izabel Pereirinha, explica que as joias afetivas começaram a ser oferecidas aos clientes há cerca de cinco anos
Gerente de Operações da empresa, Izabel Pereirinha explica que as joias afetivas começaram a ser oferecidas aos clientes há cerca de cinco anos Mannu Meg/EM/DA. Press


Ela diz que, com a divulgação do caso da cantora, houve um aumento nas ligações e interações nas redes sociais da empresa à procura do serviço. O laboratório da funerária é o mesmo que produziu os diamantes de Preta Gil. Mas, de acordo com Izabel, há outras no Brasil que disponibilizam serviço semelhante. 

O processo de transformação das cinzas em diamantes dura cerca de 120 dias. "A partir do momento que enviamos a matéria-prima para o laboratório, eles fazem uma análise da quantidade de carbono que tem naquela matéria-prima. Caso o material enviado não tenha quantidade de carbono suficiente, a família tem a opção de completar aquela matéria-prima com uma mecha de cabelo de outro familiar ou o laboratório trabalha com o que chamamos de carbono sintético, que também pode ser inserido nesse processo para completar a quantidade de carbono para que a pedra seja concluída.” 

Segundo Izabel a média de quantidade de matéria-prima necessária são 300g de cinzas ou uma mecha de cabelo. Para se ter uma ideia, a medida seria a quantidade de material que caberia em um punho fechado. Isso é para a fabricação de um diamante. 

O valor das pedras varia conforme tamanho e cor. O primeiro é o diamante amarelo de 0.1 quilate. A gerente de Operações explica que a cor é uma etapa do processo, que ainda tem a presença de nitrogênio. Por isso a coloração amarela. “Quando o processo de fabricação continua e se retira o nitrogênio, é que surge o diamante branco. Que é o diamante mais puro nessa linha de produção. Por último e, mais raro, é o diamante azul.” 

Para que a gema fique com essa coloração, o laboratório coloca um elemento químico chamado boro, para a cor ficar azul. O diamante amarelo de 0.1 quilate, lapidado, custa em torno de R$ 5.800. Já as joias afetivas variam. Um pingente de resina simples custa a partir de R$ 380. Um pingente de resina, com acabamento banhado ouro e cinzas no meio do crucifixo, sai em torno de R$ 600. 

Histórias 

A gerente de Operações, que trabalha na empresa há 17 anos, conta que cada entrega de joia é única. “Em todas as entregas que acompanhei, a sensação que temos é que aquele amor está de volta. Para a família que está atravessando essa jornada do luto, não deixa de ser um pouquinho daquela pessoa em forma de amor precioso, perto dela novamente.”

Ela lembra do caso de uma bebê que marcou a equipe. A gestação foi descoberta durante um tratamento de câncer de colo de útero de uma mãe muito jovem. A bebê viveu por apenas alguns minutos. 

“A família realizou a cremação e produzimos um biodiamante muito especial. Durante toda a gestação ela era chamada de 'passarinho'.”

A ideia da produção foi uma joia em ouro branco, em formato de passarinho e o diamante cravejado no coração da ave. “Nós sabíamos o significado que essa joia tinha para os pais, mas, principalmente, por conta da história de superação e de um amor infinito que uma mãe sente por um filho. Logo após a produção, fizemos a entrega”, relembra. Poucos dias depois, a mãe da bebê também morreu. 

O pai da menina e viúvo da mulher, Bernardo Brasil, de 26 anos, conta como foi receber a joia das cinzas da filha. “É uma representação para senti-la um pouquinho mais perto e ainda ter contato, diferentemente do que ocorre no sepultamento. Ter esse carinho é muito melhor. Para mim foi uma surpresa grande, fiquei muito feliz de poder sentir que ela estava ali comigo, sei que é ela.”    

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