Com cânticos e orações, foram veladas Ester Coelho Linhares Cira, mulher de 32 anos que jogou a  filha, Anna Luísa, de 6 anos, do 10º andar de um hotel, no Centro de BH, e se jogou logo em seguida. Mãe e filha foram veladas na sala de velório 2 do Cemitério Parque Terra Santa, em Sabará, na Grande BH. O sepultamento ocorreu nesta terça-feira (2/12), às 15h.

A pequena Anna Luísa Martins Linhares completaria 7 anos no próximo dia 15. Perguntada sobre a criança, a amiga da família Sheila Brandão descreveu Anna como uma menina alegre e inteligente: “Ela era muito esperta, brincalhona, bem atrevidinha. Era muito, muito linda”.

Sheila acrescentou que Ester enfrentava uma depressão há cerca de cinco anos. Ao Estado de Minas, a mulher afirmou que a doença surgiu depois que as filhas de Esther passaram por um trauma. "(Isso) mudou a vida dela", disse. Segundo a amiga, antes disso, Ester era “super pra cima, família e alegre”. Sheila foi a única pessoa autorizada pela família a conversar com a imprensa.

De acordo com a amiga da família, Ester trabalhava em um centro de saúde à época do trauma e os médicos que trabalhavam lá perceberam uma mudança de comportamento dela. “Ela teve surtos e foi medicada. Mas ela saiu desse emprego há cerca de um ano e, desde então, parou de tomar a medicação de uma vez”, contou. Segundo Sheila, os remédios foram substituídos por álcool.

Para a família, o quadro depressivo de Ester foi silencioso. “Ela não deixava demonstrar, a gente não percebia tanto. A questão da bebida foi uma fuga dela. E a gente não conseguiu perceber justamente por isso, né? Ok, que não é normal uma pessoa ficar bebendo, mas como ela sempre foi pra cima, sempre foi muito alegre, a gente não conseguiu associar uma coisa com a outra”, relatou Sheila, abalada.

A tragédia

A morte das duas aconteceu na tarde de segunda-feira (1º/12) em um hotel localizado na Rua Espírito Santo, na Região Central da capital. De acordo com o boletim de ocorrência, Ester teria se hospedado em um apartamento do 10º andar com as duas filhas, de 6 e 13 anos, no domingo (30/11), depois de um desentendimento com o companheiro.

Na tarde de segunda, conforme os registros, Ester chamou a filha mais velha para conversar e lhe deu três opções: escolher entre ingerir remédios junto com a mãe e a irmã, ir morar com a avó ou pegar um ônibus para encontrar com o pai biológico no Espírito Santo.

A adolescente negou várias vezes a hipótese de suicídio, dizendo que não queria perder a vida. A mãe então disse que a irmã mais nova não teria escolha, por ser muito nova para decidir seu destino, e deu uma grande quantidade de medicamentos à menina, que ficou sonolenta.

Segundo o relato da filha mais velha à Polícia Militar, a mãe disse: “Já que você decidiu ficar, primeiro eu vou jogar sua irmã, depois eu me jogo. Um beijo. Te amo”. A mulher jogou a criança já inconsciente, que caiu na marquise do terceiro andar, e se jogou em seguida, caindo na rua.

A filha mais velha foi encontrada sem lesões e entregue aos cuidados da avó.

Histórico de depressão

Em depoimento, o companheiro de Ester afirmou aos militares que o casal teve um desentendimento em um bar. O homem chamou a companheira para ir embora, mas ela permaneceu no bar com as filhas. Ele relatou que acreditou que as três tinham ido para a residência da sogra, uma vez que não dormiram em casa, e afirmou que tentou ligar diversas vezes para ela, sem sucesso.

No dia seguinte, um familiar o informou sobre o acontecido e ele se dirigiu ao hotel. Ainda conforme o relato, Ester sofria de depressão e já havia falado sobre suicídio diversas vezes.

CVV (Centro de Valorização da Vida)

A recomendação dos psiquiatras é que a pessoa que pensa em suicídio busque um serviço médico disponível. O Centro de Valorização da Vida (CVV) dá apoio emocional e preventivo ao suicídio. Voluntários atendem ligações gratuitas 24h por dia no número 188, por chat, via e-mail ou diretamente em um posto de atendimento físico.

*Com informações de Izabella Caixeta, Laura Scardua, Alexandre Carneiro e Júlia Melgaço

compartilhe