Cardeais de preto: entenda o que é a igreja católica do rito oriental
Com o início do Conclave que irá eleger o sucessor do papa Francisco, cinco cardeais se destacaram com suas roupas pretas em meio ao mar vermelho
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Siga noO Conclave que irá eleger o sucessor do papa Francisco teve início na manhã dessa quarta-feira (07/05). Em meio ao mar de batinas vermelhas, cinco cardeais se destacaram por usarem vestes pretas.
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Durante celebrações especiais, os cardeais usam um roquete branco rendado por cima de uma batina vermelha, acompanhado de uma mozeta e um solidéu também vermelhos, cor que simboliza o sangue de Cristo. A batina apresenta 33 botões na frente e cinco nas mangas, simbolizando a idade e as chagas de Jesus respectivamente. Entretanto, cardeais de ritos orientais têm permissão de usar trajes tradicionais de suas regiões.
O Cardeal Mykola Bychok, por exemplo, adentrou a capela Sistina com uma roupa vermelha com listras douradas e um longo adereço preto na cabeça. Ele é Eparca da Eparquia de São Pedro e São Paulo de Melbourne dos Ucranianos. Já Baselios Cleemis Thottunkal, Arcebispo-Maior de Trivandrum dos Siro-Malancares na Índia, apareceu com uma capa preta sobre a batina vermelha e um chapéu preto e vermelho.
Outros três cardeais pertencem ao rito oriental e são votantes neste Conclave, são eles: Louis Raphaël I Sako, Patriarca de Bagdá dos Caldeus no Iraque, George Jacob Koovakad, Prefeito do Dicastério para o Diálogo Interreligioso atuando na Itália e na Índia, e Berhaneyesus Demerew Souraphiel, Arcebispo Metropolita de Addis Abeba dos Etíopes na Etiópia.
O padre da Paróquia Coração Eucarístico e professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas) Junior Vasconcelos do Amaral explica que, apesar da diferença das vestes, todas apresentam algum elemento vermelho remetendo ao martírio de Jesus.
“O colégio cardinalício é o colégio dos apóstolos que são chamados a dar testemunho de Cristo, e o maior testemunho de Cristo à humanidade foi seu martírio, a sua vida entregue para o mundo, por isso o vermelho”, diz o pároco.
Atualmente, a igreja católica é formada pela igreja latina, a mais popular e adotada pelos católicos ocidentais, e outras 23 igrejas católicas orientais, como os ritos bizantino, alexandrino, armênio, siríaco e maronita. Padre Júnior explica que todas seguem os mesmos fundamentos, mas apresentam particularidades como liturgia feita em outra língua, adoração à ícones ao invés de imagens, uso intenso de incenso e outras práticas específicas.
“Eles têm ritos litúrgicos diferentes, tradições e práticas que são próprias do mundo deles. Porém, não se contradizem ao essencial da fé: a divindade de Jesus Cristo, a encarnação do verbo, a fé e a devoção a Nossa Senhora, por exemplo. Então, as celebrações são diferentes, mas a teologia é a mesma”, afirma Junior.
Caso um dos cardeais do rito oriental seja eleito neste Conclave, Júnior acredita que o sumo pontífice usaria a tradicional vestimenta do papa mas com alguns elementos de suas vestes tradicionais. Entretanto, ele acredita que a roupa vem em segundo plano e não deve ser relevante para escolha do novo líder da igreja.
“O Papa tem que expressar a universalidade, essa acolhida a todos, o afeto e carinho por todas as pessoas. A veste que ele usa não vem ao caso. O essencial é ele ser um símbolo de unidade, alguém que fale ao coração dos cristãos”, analisa.
O padre lembra, ainda, que a palavra “católico” tem origem do termo grego “katholikós”, uma junção de kata, que significa junto, e holos, que significa inteiro ou todo. Dessa forma, a igreja católica tem a missão de ser universal, sem fronteiras e para todos.