Plano de ataque ao parlamento expõe avanço da extrema-direita em Portugal

Grupo neonazi preso em Lisboa revela risco crescente de radicalização violenta no país

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Uma operação da Polícia Judiciária portuguesa prendeu, no dia 17 de junho, seis integrantes do Movimento Armilar Lusitano (MAL), grupo neonazi que preparava um atentado contra o Parlamento. Entre os detidos estavam Bruno Gonçalves, agente da PSP (Polícia de Segurança Pública), e Manoel Matias, ex-assessor do partido de extrema-direita Chega. A ação, realizada em Lisboa, apreendeu explosivos, dispositivos eletrônicos e armas ilegais — algumas produzidas com impressoras 3D. As investigações apontam que o grupo se articulava por meio do aplicativo Telegram e agia com motivação política.

O caso veio à tona em um momento de alerta para o avanço da extrema-direita no país. Segundo relatório da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (ECRI), divulgado em junho de 2025, as queixas por crimes de ódio em Portugal aumentaram de 63, em 2018, para 347, em 2023. O mesmo documento mostra que 46% da comunidade cigana relatou ter sofrido assédio baseado em preconceito — e alerta para o crescimento de manifestações hostis contra pessoas negras, LGBTI+ e imigrantes.

Para Pedro Prola, jurista e coordenador do Núcleo do PT em Portugal, o episódio não é um ponto fora da curva. Em entrevista à coluna, ele afirmou que o crescimento do Chega foi precedido por um processo de legitimação pública, que incluiu ampla exposição midiática. “Antes mesmo de atingir 20% dos votos, o Chega já tinha visibilidade nas manchetes e discussões políticas”, disse.

André Ventura, líder do partido de extrema-direita Chega / Foto: Sérgio Lemos

Na avaliação de Prola, partidos tradicionais também contribuíram para esse avanço ao incorporar pautas extremistas em busca de votos. A estratégia, segundo ele, é conhecida: captar o descontentamento popular e direcioná-lo contra minorias. “Culpam os imigrantes por problemas como habitação e segurança. Mas os dados mostram que cometem menos crimes que a população portuguesa.”

O plano frustrado do MAL trouxe outro dado preocupante: o uso de armas fantasmas. Impressas em 3D, sem número de série e de difícil rastreabilidade, essas armas representam um desafio novo para as autoridades. Ainda pouco comuns em Portugal, elas já preocupam outros países. Nos Estados Unidos, há cidades discutindo a exigência de antecedentes criminais para quem compra impressoras 3D capazes de produzir material bélico.

Além da estrutura organizacional do grupo, o uso de canais fechados como o Telegram também chamou a atenção. A reprodução de discursos e a lógica de mobilização são, segundo o jurista, elementos de uma rede internacional. Os paralelos com os atos golpistas de 8 de janeiro no Brasil não seriam coincidência, mas parte de uma tática que têm sido replicada pela extrema-direita ao redor do mundo.

A degradação das condições de vida e a ausência de políticas públicas são apontadas por Pedro Prola como um dos sintomas do crescimento da extrema-direita. Enfrentar esse avanço, diz, exige mais do que discursos: exige reação institucional, articulação política e vigilância democrática: “O neoliberalismo criou a antessala do fascismo”.

O jurista acrescenta que o enfrentamento deve, além de passar pela responsabilização de crimes, prevenir a radicalização. “Um dos elementos fundamentais é dar respostas para a população. Envolver a população em processos políticos, para que tenham voz e que haja uma participação popular efetiva na política. E não só votarem de quatro em quatro anos e irem para a casa.”

O caso segue sob investigação. Os próximos passos devem esclarecer o alcance do grupo e possíveis conexões com redes extremistas fora do país.

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