Abusos sexuais, agressões diárias e alimentos estragados: a Venezuela denunciou nesta segunda-feira (21) "torturas" aos migrantes do país enviados pelos Estados Unidos à mega prisão para membros de gangues de El Salvador.

Esses 252 venezuelanos foram repatriados na última sexta-feira como parte de uma troca de prisioneiros entre Washington e Caracas, que, por sua vez, libertou 10 cidadãos e residentes americanos detidos na Venezuela.

O procurador-geral, Tarek William Saab, anunciou uma investigação contra o presidente Nayib Bukele e outros funcionários de seu governo, aos quais acusou de cometer crimes contra a humanidade.

Ele indicou que 80 funcionários do Ministério Público entrevistaram os migrantes em seu retorno ao país.

Saab apresentou vídeos de migrantes retornados que mostraram hematomas por todo o corpo e marcas de balas de borracha. Um tinha a boca ferida, outro uma cicatriz no ombro. 

Andry Hernández Romero, um estilista de 32 anos que acabou no temido Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot), disse em um vídeo que foi abusado sexualmente.

"Estivemos lá passando por tortura, sofrendo agressões físicas, agressões psicológicas", afirmou Hernández no vídeo. "Fui abusado sexualmente pelas próprias autoridades salvadorenhas." "Achávamos que nunca mais íamos ver nossos familiares".

Saab também relatou o "isolamento em celas desumanas (...) sem contato com a luz solar, sem ventilação" e "ataques sistemáticos com balas de borracha".

Ele também destacou o fornecimento de comida estragada e água imprópria para consumo. Nunca tiveram acesso a advogados ou contato com familiares.

- Negociação -

Estes venezuelanos repatriados foram acusados de pertencer ao Tren de Aragua, uma quadrilha criminosa que o presidente Donald Trump declarou como "organização terrorista".

O presidente republicano invocou uma lei de inimigos estrangeiros de 1798 para expulsar os venezuelanos rapidamente em março.

A libertação foi resultado de uma negociação com representantes dos Estados Unidos. O acordo foi finalizado apenas horas antes da troca, segundo o governo venezuelano.

 "As negociações foram exclusivamente com os Estados Unidos da América, com o governo dos Estados Unidos da América", assegurou no domingo o negociador e presidente do Parlamento venezuelano, Jorge Rodríguez, ao canal estatal Telesur.

"Jamais, nem remotamente, nos passou pela cabeça falar com o palhaço", acrescentou em referência ao presidente salvadorenho, Nayib Bukele. "Era o subordinado de quem havia decidido pela presença dos venezuelanos nesse campo de concentração". 

A troca incluiu a libertação de outros 80 venezuelanos detidos na Venezuela, considerados "presos políticos" por detratores do governo de Nicolás Maduro. Rodríguez, no entanto, garantiu que essa medida coincidiu com um processo de negociação interno paralelo.

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