Antártida entra em fase crítica de mudanças aceleradas devido ao clima
compartilhe
Siga noA Antártida enfrenta uma série de mudanças "abruptas" que se reforçam mutuamente com consequências potencialmente catastróficas para todo o mundo, alertam pesquisadores em um estudo publicado nesta quarta-feira (20) na revista Nature.
Os cientistas, em sua maioria radicados na Austrália, destacam "o surgimento de evidências de mudanças rápidas" no ambiente antártico, como o recuo do gelo marinho, a desaceleração de uma corrente oceânica, o derretimento da camada de gelo e ameaças a algumas espécies, como os pinguins-imperadores.
"A Antártida mostra sinais preocupantes do ponto de vista do gelo, do oceano e dos ecossistemas. Algumas dessas mudanças abruptas serão difíceis de deter e terão efeitos para as gerações futuras", resume Nerilie Abram, pesquisadora da Universidade Nacional da Austrália e principal autora do estudo.
Os cientistas levam anos alertando sobre os riscos que a mudança climática causada por humanos representa para a Antártida e sobre suas consequências potencialmente catastróficas para o futuro, como o aumento do nível do mar causado pelo degelo.
O estudo também mostra como estas mudanças estão "interconectadas" e podem agravar a mudança climática, destaca Abram.
O retrocesso do gelo marinho reduz a sua capacidade de refletir a energia solar (efeito albedo), o que intensifica o aquecimento.
Em um estudo publicado em junho, o British Antarctic Survey mostrou também que as colônias de pinguins-imperadores estão diminuindo mais rápido que o previsto devido ao recuo do gelo marinho.
A desaceleração da corrente oceânica antártica e o derretimento das camadas de gelo também se reforçam mutuamente em um círculo vicioso.
Estes fenômenos contribuem, por sua vez, para o aquecimento global e para o aumento do nível do mar a longo prazo.
A camada de gelo da Antártida Ocidental já foi identificada pelos cientistas como exposta ao risco de um colapso irreversível devido ao aumento das temperaturas.
Ao contrário do gelo marinho, o seu derretimento eleva os níveis oceânicos, um fenômeno que pode se prolongar por séculos e continuar mesmo que o clima se estabilize.
Esta zona da Antártida contém água congelada suficiente para elevar o nível do mar global em cerca de seis metros. A metade dessa massa, equivalente a cerca de três metros, estaria em risco de um próximo colapso irreversível.
Os autores estimam que "a única forma segura de reduzir o risco de mudanças abruptas no ambiente antártico é realizar reduções rápidas e severas das emissões de CO? nesta década", limitando o aquecimento o mais próximo possível de 1,5 °C, o limite mais ambicioso do Acordo de Paris.
mh-jmi/uh/sp/mab/mb/jmo/aa