O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estaria usando a política tarifária para pressionar aliados da China e favorecer empresas americanas de aliados, segundo revela uma investigação do jornal The Washington Post publicada nesse sábado (9/8). A matéria destacou que documentos do governo republicano revelam que o uso da sobretaxa sobre outras nações vai além da justificativa inicial de corrigir o déficit da balança comercial americana.
A reportagem, assinada pelos jornalistas David J. Lynch e Hannah Natanson, mostra que neste mês o Departamento de Estado considerou exigir que parceiros comerciais dos Estados Unidos votassem contra um esforço internacional para reduzir as emissões de gases de efeito estufa pelos navios cargueiros, base do comércio bilateral. Os funcionários do departamento, que é o equivalente ao Ministério das Relações Exteriores, sugeriram incluir a medida nas negociações com países marítimos, como Singapura.
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Em outra frente, os Estados Unidos exigiram que Israel tomasse a administração de um porto controlado por uma empresa chinesa. O governo Trump também teria insistido para que a Coreia do Sul apoiasse o envio de tropas americanas à região para atuar em questões de segurança contra a China e a Coreia do Norte, além de ampliar o gasto com defesa e comprar equipamentos americanos.
“As autoridades do governo viram nas negociações comerciais uma oportunidade para alcançar objetivos que iam muito além do declarado por Trump de reduzir o déficit comercial dos EUA. Nas primeiras semanas, depois que o presidente pausou suas tarifas recíprocas, em 9 de abril, para permitir negociações, as autoridades elaboraram planos para pressionar países próximos à China para uma relação de defesa mais próxima, incluindo a compra de equipamentos dos EUA e visitas a portos”, disse a reportagem.
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Um documento de oito páginas citado pelos jornalistas também mostra “objetivos suplementares de negociação”, em que as autoridades americanas reconheceram que os acordos comerciais poderiam incluir outras questões, como a criação de bases militares. Tradicionalmente, essas medidas não fazem parte de negociações comerciais.
O governo dos EUA também discutiu pressionar os outros países para favorecer concessões para empresas americanas, como a Chevron, uma das maiores produtoras de petróleo do mundo, e a Starlink, provedora de internet do bilionário Elon Musk. Cabe lembrar que o Washington Post é de propriedade de Jeff Bezos, dono da Amazon que em janeiro doou US$ 1 milhão para a posse de Trump.
Índia e Rússia
A matéria também cita outros países do Brics, bloco político formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e outros seis países. No caso, as recentes tarifas de 25% anunciadas por Trump contra a Índia tiveram como justificativa o comércio de petróleo com a Rússia que, segundo os EUA, estaria financiando a guerra na Ucrânia.
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A reportagem cita ainda as tarifas de 50% impostas ao Brasil como forma de pressionar pelo fim do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF), onde ele é réu por uma tentativa de golpe de Estado. As duas medidas são vistas como exemplo do uso diplomático das tarifas comerciais.
Em resposta à pressão contra a Rússia, o presidente Vladimir Putin ligou para todos os parceiros dos Brics nos últimos dias. Na quinta-feira (7/8), ele conversou com Cyril Ramaphosa, da África do Sul; na sexta (8/8) telefonou para Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, e para Xi Jinping, presidente da China.
Nesse sábado (9/9), Putin teve uma conversa de 40 minutos com o presidente Lula (PT). Entre outras coisas, os dois falaram sobre as discussões em curso entre Rússia e Estados Unidos, e os recentes esforços pela paz com a Ucrânia. “O presidente Putin agradeceu o empenho e interesse do Brasil nesse tema”, disse a nota do governo federal.
No fim da semana passada, Donald Trump anunciou que terá um encontro com Putin no dia 15 de agosto, no estado do Alasca, fronteira com a Rússia. Segundo o Wall Street Journal, eles irão debater a proposta apresentada pelo líder russo para encerrar a guerra em troca da região de Donbass, no leste da Ucrânia.
Em resposta, o presidente Volodymyr Zelensky criticou a reunião entre os dois sem a presença da Ucrânia. O ucraniano destacou que o local do encontro é muito longe da “guerra, que está devastando nossa terra, contra nosso povo, e que, de qualquer forma, não pode ser resolvida sem nós, sem a Ucrânia”, escreveu em sua conta no X.