China anuncia redução de emissões de gases de efeito estufa após críticas de Trump
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Siga noA China anunciou nesta quarta-feira (24) suas primeiras metas absolutas para reduzir os gases que aquecem o planeta, um compromisso histórico do maior poluidor do mundo, enquanto os Estados Unidos apostam novamente nos combustíveis fósseis e a Europa enfrenta dificuldades.
O anúncio foi feito por meio de um vídeo do presidente Xi Jinping na ONU, onde cerca de 120 nações apresentam seus planos para frear o aquecimento global, que intensifica desastres em todo o mundo, desde inundações no Paquistão até incêndios florestais na Espanha.
Segundo o novo plano, a China reduzirá as emissões globais entre 7% e 10% até 2035, em relação ao ano de pico das emissões do país, que se acredita ser 2025.
Observadores apontaram que, embora a cifra absoluta possa parecer modesta, a China tem um histórico de prometer pouco e cumprir mais, impulsionada pelo seu avanço em tecnologia verde.
Isso ocorre enquanto os Estados Unidos, sob a presidência de Donald Trump — que classificou a mudança climática como uma "fraude" perante a ONU um dia antes —, promovem os combustíveis fósseis tanto internamente quanto no exterior.
"A transição verde e de baixo carbono é a tendência do nosso tempo", disse Xi em tradução oficial. "Enquanto alguns países agem em sentido contrário, a comunidade internacional deve permanecer focada na direção correta".
A China, responsável por quase 30% das emissões globais, havia prometido anteriormente atingir o pico de sua produção de carbono antes de 2030 e alcançar a neutralidade de carbono até 2060, sem ter estabelecido antes metas numéricas de curto prazo para a redução total de emissões.
A nova meta vem acompanhada de compromissos para expandir a energia eólica e solar seis vezes em relação aos níveis de 2020, aumentar drasticamente a superfície de florestas e acelerar a produção de carros elétricos.
A maioria dos países ricos, historicamente os maiores contribuintes para o aquecimento global, atingiu seu pico há décadas, mas ainda carece de planos críveis para alcançar a neutralidade de carbono até 2050.
- Atraso no cumprimento -
"O compromisso de Pequim é um passo cauteloso que prioriza estabilidade e cumprimento em vez de ambição", disse Li Shuo, especialista do centro de análise Asia Society, com amplas conexões em Pequim, à AFP.
"A boa notícia é que, em um mundo cada vez mais guiado pelo interesse próprio, a China pode estar melhor posicionada que a maioria para avançar na ação climática", acrescentou.
A China é um dos motores da economia climática, especialmente no setor de painéis solares e baterias, que domina amplamente a nível mundial.
Trump alertou em seu discurso que essa hegemonia industrial poderia colocar em risco, por sua dependência, as economias ocidentais.
Ao apresentar uma meta com antecedência suficiente antes da COP30, a principal reunião climática do ano que acontecerá em Belém, no Pará, a China demonstra seu compromisso contínuo com o processo internacional, após os Estados Unidos terem abandonado o Acordo de Paris pela segunda vez.
Sob esse acordo histórico de 2015 — ao qual quase todos os países aderiram —, as nações estabelecem livremente suas próprias metas, mas devem reforçá-las a cada cinco anos.
A maioria está atrasada, especialmente a União Europeia, onde vários Estados temem que avançar muito rápido possa prejudicar a indústria.
A França, por exemplo, enfrenta finanças instáveis e turbulência política, buscando mais clareza sobre os marcos de investimento antes de se comprometer com uma descarbonização mais profunda.
No entanto, o presidente francês, Emmanuel Macron, aproveitou seu turno na tribuna para refutar os ataques de Trump sobre a mudança climática, afirmando a outros líderes que a ciência é "suficientemente clara".
- Catástrofe versus esperança -
Enquanto isso, a ONU tenta equilibrar o alerta sobre a catástrofe com a manutenção da esperança.
Por um lado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse à AFP na semana passada que as chances de limitar o aquecimento a 1,5?°C estão à beira do "colapso", opinião compartilhada por climatologistas, com as temperaturas atuais já próximas de 1,4?°C acima dos níveis pré-industriais.
Mas nesta quarta-feira adotou um tom mais positivo, afirmando que o histórico acordo climático de Paris "fez a diferença", ao abrir a cúpula.
"Nos últimos 10 anos, o aumento projetado da temperatura global caiu de quatro graus Celsius para menos de três", afirmou.
Parte desse progresso vem da China. Há uma década, três quartos de sua matriz elétrica provinham do carvão — um número que agora foi reduzido pela metade.
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