Brasileiros da flotilha presos em Israel não têm previsão de soltura, e 4 estão em greve de fome
A assessoria da flotilha afirmou, em um comunicado divulgado neste domingo (5/10), que quatro membros da delegação brasileira estão em greve de fome
compartilhe
SIGA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Itamaraty tem uma segunda visita marcada nesta segunda-feira (6/10) aos 13 brasileiros que participavam da flotilha Global Sumud, que tentava levar ajuda humanitária a Gaza, e foram presos por Israel. O grupo está na prisão de Ktzi'ot, no deserto de Negev, perto da fronteira com o Egito, e quatro membros da delegação estão em greve de fome.
Segundo membros da chancelaria ouvidos pela Folha, até a tarde deste domingo (5/10) não havia previsão de soltura dos brasileiros. Eles já passaram por uma primeira audiência. Membros do Itamaraty em Israel realizaram uma primeira visita aos brasileiros na sexta-feira (4/10), que durou mais de oito horas.
Leia Mais
A assessoria da flotilha afirmou, em um comunicado divulgado neste domingo (5), que quatro membros da delegação brasileira estão em greve de fome: Thiago Ávila, João Aguiar, Ariadne Telles e Bruno Gilca. A organização também disse que os detidos estão privados de tratamento médico essencial e de medicamentos.
Ávila, ainda segundo o comunicado, anunciou na audiência com autoridades de Israel que não beberia nem água até que os ativistas presos conseguissem as medicações necessárias.
A flotilha era composta por 41 barcos e mais de 400 pessoas de diversas nacionalidades, dos quais ao menos 170 já foram deportados. Ativistas de outras nacionalidades que já saíram de Israel e tiveram seus processos de deportação concluídos denunciaram supostos maus-tratos dentro da prisão. Tel Aviv nega.
Segundo a organização Adalah, que oferece assistência jurídica aos presos, vários participantes relataram ter sido interrogados por pessoas não identificadas, e outros relataram maus-tratos e abusos por parte dos guardas.
Ainda de acordo com os relatos, houve casos de presos que foram vendados e algemados por longos períodos, e uma mulher relatou ter sido forçada a remover seu hijab (véu islâmico) e recebeu apenas uma camisa como substituição.
Mara Conte Takahashi, mãe da vereadora de Campinas Mariana Conti (PSOL), que participou da missão e está presa, defende que o presidente Lula (PT) se pronuncie publicamente sobre o episódio e peça agilidade no processo dos brasileiros.
"Ativistas de países europeus onde os presidentes se pronunciaram oficialmente já foram deportados e já retornaram à Europa. Então, eu peço ao presidente Lula que ele se pronuncie oficialmente", diz ela à Folha.
O ativista Nicolas Calabrese também pediu que o governo brasileiro adote uma postura mais firme para libertar os integrantes da missão detidos por Tel Aviv. Ele chegou a Milão neste sábado (4). Ele vive no Brasil há mais de dez anos, mas nasceu na Argentina e tem cidadania italiana --por isso, sua passagem para a Turquia, a primeira parada após a saída da prisão, foi custeada pelo consulado da Itália em Israel, segundo a Adalah.
O ativista afirma que, nos três dias em que ficou detido, não pôde se comunicar com familiares e amigos, e que os agentes israelenses agiram com muita violência contra todo o grupo, inclusive apontando armas para os integrantes da missão. "Passamos mais de 20 horas sem alimentação durante a interceptação, e passamos uma humilhação muito grande quando chegamos ao porto."
Calabrese conta que os membros da flotilha foram deixados no chão, sob o sol, enquanto a ativista Greta Thunberg foi isolada do grupo. Ele corrobora o relato dos ativistas Hazwani Helmi, 28, da Malásia, e Windfield Beaver, 43, dos Estados Unidos, dois dos 137 integrantes libertados no sábado, de que a sueca teria sido forçada a vestir uma bandeira israelense.
"A cada hora passavam fazendo piadas com ela. Os policiais colocaram a bandeira de Israel e tiraram fotos dela. Estavam o tempo inteiro provocando a Greta, mas todo mundo sofreu maus-tratos."
Os membros da flotilha eram forçados a ficar com as cabeças abaixadas e voltadas para a parede, diz o ativista argentino-italiano, e eram agredidos sempre que saiam desta posição. "A cada vez que levantávamos a cabeça, eles abaixavam de forma violenta. Eles chutavam nossos tênis quando passavam andando entre uma pessoa e outra, e arrancaram nossas pulseiras e o meu colar."
Israel negou todas as acusações. "As acusações da Adalah são mentiras completas. Todos os detidos tiveram acesso a água, comida, banheiros e advogados, e seus direitos foram respeitados", disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores à agência de notícias Reuters.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
A flotilha partiu de Barcelona, na Espanha, no dia 31 de agosto, com cerca de 45 embarcações e ativistas de mais de 45 países. Os barcos começaram a ser interceptados na quarta (1º/10).
Na primeira visita, membros do Itamaraty narraram à Folha que o governo de Binyamin Netanyahu ofereceu aos presos a possibilidade de assinar um documento que, segundo as autoridades israelenses, facilitaria o processo de deportação, e 8 dos 13 brasileiros teriam se recusado a assinar.