Formada pela UFMG, atua no jornalismo desde 2014 e tem experiência como editora e repórter. Trabalhou na Rádio UFMG e na Faculdade de Medicina da UFMG. Faz parte da editoria de Distribuição de Conteúdo / Redes Sociais do Estado de Minas desde 2022
Hillary Clinton afirmou que os EUA não buscam combater o tráfico de drogas crédito: AFP
A ex-secretária de Estado dos Estados Unidos e ex-presidenciável Hillary Clinton afirmou que o governo de Donald Trump estaria “preparando o terreno para algum tipo de operação militarcontra o regime de Nicolás Maduro”, na Venezuela. A declaração foi feita durante um painel organizado pelo Conselho de Relações Exteriores (CFR), em Nova York, na noite de quarta-feira (8/10). Ela participava de uma conversa sobre política externa, tomada de decisões em crises e os desafios da diplomacia norte-americana.
Ao ser questionada sobre o aumento da atividade militar dos EUA na América do Sul, sob o argumento de combate ao narcotráfico, Clinton fez duras críticas à falta de transparência da administração Trump, dizendo que ele não pretende acabar com o tráfico de drogas, mas pressionar a política Venezuelana. “Acho que eles estão preparando o terreno para algum tipo de operação militar contra Maduro”, afirmou.
Segundo ela, o governo norte-americano não apresentou informações concretas sobre as embarcações atacadas na região, na semana passada. “Não temos ideia se esses barcos eram de pesca, de passeio ou de drogas. E nem eles sabem — é a minha avaliação, porque, se soubessem, ao menos compartilhariam essa informação”, disse. Clinton ressaltou que o Departamento de Defesa não forneceu nenhum detalhamento sobre os ataques, classificando a situação como “uma questão séria que a maioria no Congresso está determinada a ignorar”.
No domingo, Trump comemorou o ataque às embarcações, dizendo ter extinguido os barcos na região e estar realizando um grande trabalho contra as drogas. "Somos tão bons nisso, que não há mais barcos, nem mesmo de pesca. Ninguém mais quer entrar na água", disse, rindo.
De acordo com o governo americano, 21 pessoas morreram e quatro embarcações foram atacadas. Clinton ironizou a desproporção das ações militares, lembrando que o maior dos barcos supostamente alvos das operações comportava apenas 12 passageiros. “Há uma grande força naval na região. Você pode chamar a Guarda Costeira, parar o barco e ver o que há dentro. É assim que se deve agir, com base em tudo o que fizemos no passado”, pontuou.
“Parece haver um desejo de confrontar Maduro e, talvez, o pensamento deles seja que, se explodirem muitos desses barcos e enviarem uma mensagem, podem intimidá-lo a sair ou desistir do poder”, afirmou.
Ela alertou ainda para as possíveis consequências de uma intervenção externa na Venezuela. “Se Maduro for derrubado à força, o país pode se transformar em algo ainda mais instável do que a Líbia pós-Kadafi. Existem forças militares, milícias e cartéis de drogas. Se queremos nos livrar de Maduro, o que vem depois? Quem assume a responsabilidade? Vamos ter uma Somália gigante na costa da América do Sul?”, questionou.
Clinton também destacou que o argumento do combate ao tráfico carece de lógica geopolítica. “Se o objetivo é impedir o avanço do fentanil, ele não vem da Venezuela. Vem da China para o México”, explicou. “Então, há um alvo maior em mente — e acho que não se pensou o suficiente sobre isso”, completou.
“Temos que ser muito cuidadosos. A pressa em criar um inimigo externo pode custar caro, não só à Venezuela, mas a toda a região”, finalizou.
Por que Trump não gosta de Maduro?
A relação entre Donald Trump e Nicolás Maduro sempre foi marcada por hostilidade e ameaças. Desde o primeiro mandato (2017-2020), Trump transformou o presidente venezuelano em um de seus principais inimigos políticos na América Latina, descrevendo-o como “ditador socialista” e símbolo do fracasso da esquerda na região.
Segundo Trump, o governo Maduro é “ilegítimo” e “criminoso”, acusado de violar direitos humanos, reprimir opositores e arruinar a economia da Venezuela. Em várias ocasiões, o ex-presidente norte-americano afirmou que “todas as opções estão sobre a mesa” — inclusive intervenção militar — para “restaurar a democracia” no país.
Em 2019, Trump reconheceu Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela e liderou uma ofensiva diplomática e econômica contra Maduro, impondo sanções financeiras severas, bloqueando ativos do Estado venezuelano e pressionando aliados regionais a isolá-lo.
“Maduro é um fantoche de Cuba e um ditador que destruiu um país rico em petróleo. A Venezuela merece liberdade, não repressão”, disse Trump em 2020, durante um comício na Flórida.
Mesmo após deixar o cargo, Trump manteve o discurso agressivo. Desde o retorno à presidência, voltou a citar Maduro como exemplo de “regime comunista” que precisa ser enfrentado.
As mudanças climáticas afetaram diretamente a última geleira da Venezuela. Um único pequeno pedaço de gelo restou na rocha. São os últimos vestígios da geleira La Corona, localizada no Pico Humboldt. Reprodução X @RFI_Br
O governo anunciou o uso de mantas geotêxteis (malhas térmicas de polipropileno) para tentar mitigar a incidência dos raios solares na superfície do gelo. O que sobra dela poderá desaparecer completamente em 4 ou 5 anos. Flickr nelson castro
Um ciclo de recuo das geleiras começou no século XIX e se acelerou no século XX, devido às emissões de gases de efeito estufa. A inspiração para salvá-la foi uma técnica utilizada em estações de esqui de países como a França, Suíça e Itália. andresAzp/Wikimédia Commons
O declínio das geleiras têm impactado todo o mundo. No entanto, a Venezuela, localizada no coração dos trópicos, é o primeiro país na cordilheira dos Andes a perdê-las por completo. Flickr Luis Alfonso
Anteriormente, o país abrigava cinco geleiras, que cobriam aproximadamente mil hectares de gelo. Para salvá-la, as autoridades decidiram cobri-la com uma manta gigantesca para evitar seu derretimento. Um método controverso, segundo especialistas. Flickr Carlos García
“O recuo dos glaciares é um processo natural, acelerado pelas mudanças climáticas, mas neste caso o que resta do gelo está no topo e numa superfície muito pequena que não chega a dois hectares", explicou Sulbarán à RFI. Leandro Neumann Ciuffo/Wikimédia Commons
"Nessas condições, os especialistas consideram que “o processo de desaparecimento deste remanescente da geleira é irreversível”, completou. Geleiras - Flickr Wilfredorrh
Ecologistas e acadêmicos fizeram um abaixo-assinado para evitar a colocação da capa no glaciar. A cobertura pode atrapalhar os estudos de colonização da vegetação e apresenta riscos de contaminação. Fliclr Olya Liubimova
A Venezuela não é o único país da América do Sul afetado pelo derretimento dos seus glaciares. Segundo projeções científicas, os Andes perderão grande parte da sua massa glaciar até o final do século. wikimedia commons Beatrice Murch
É o pico mais alto dos Andes equatoriais, dominando uma região de 50 mil km² e apresentando uma base de 20 km de diâmetro. É o 17.º monte de maior proeminência topográfica do mundo. Imagem de ????Christel???? por Pixabay
A Upsala é uma geleira que cobre um vale composto e alimentado por vários glaciares, no Parque Nacional Los Glaciares, Argentina. O seu nome se deve ao fato da Universidade de Uppsala, da Suécia, ter realizado o primeiro levantamento da região no século XX. Flickr Lucila Maciel
Seus campos de gelo cobrem uma extensão de 765 km². O glaciar possui uma extensão de 53,7 km, sendo o terceiro mais longo da América do Sul (após o Pio XI e o glaciar Viedma), e suas paredes alcançam a altura de 40 metros em média. Flickr Lucila Maciel
A Sierra Nevada de Santa Marta é uma cadeia montanhosa que corre pela Colômbia, isolada dos Andes por zonas planas e semi-áridas. Alcançando 5775 metros de altitude e a apenas 42 km do Mar do Caribe, é a mais alta cordilheira costeira do mundo. Flickr Pablo Andrés Ortega
Nevado del Ruiz é um vulcão nevado (em seu cume possui neve eterna apesar de estar ativo), situado na cordilheira Central, na Colômbia, nas áreas de Caldas e Tolima. Atinge os 5.321 metros de altitude no cume e é o mais setentrional e maior desta cadeia vulcânica. Flickr Sebastián Arango
Sobrevivente da última glaciação e portador de 24 mil anos de existência majestosa, o Glaciar Torrecillas se desdobra como uma manta branca de gelo que corta as nuvens. Recebendo menos luz a sua formação glacial é preservada. Flickr myjenvacaciones
O Glaciar Torrecillas está localizado em uma zona de transição entre a floresta andina da Patagônia e a selva Valdiviana, onde a diversidade da paisagem muda com as estações, oferecendo uma vista de indescritível beleza majestosa e dinâmica. Flickr Leonardo Castiglioni
Com seus 5897m, Cotopaxi é considerado um dos vulcões ativos mais altos do mundo. No Equador, é um cone perfeitamente simétrico, coberto por uma grossa manta de neve e gelo, graciosamente sobe de um belo planalto páramo. Flickr Marcelo Quinteros Mena
Uma das geleiras da América do Sul deve seu nome ao botânico e micologista ítalo-argentino Carlo Luigi Spegazzini. Na frente do glaciar, é formada pela confluência de duas correntes de gelo distintas que descem lentamente para o leste da cordilheira dos Andes. Flickr Luciano Mendes
Suas paredes, as mais altas de todas as geleiras, chegam a 135 metros de altura e se estendem por 1,5 km. O Spegazzini cobre uma área de 66 km2. Geleir Luca Galuzzi /Wikimédia Commons
Quelccaya é uma bela geleira em Cusco, no Peru, que é a maior de toda zona tropical do mundo. Este gigante branco também é chamado de Calota de Gelo de Quelccaya. Flickr Doug Hardy
Quelccaya possui um comprimento superior a 17 km, uma área de 44 km² e uma camada de gelo de 200 m de espessura. - Flickr Ian van Coller
Patrimônio da Humanidade pela UNESCO desde 1981, o Glaciar Perito Moreno está localizado no Parque Nacional Los Glaciares, na Patagônia Argentina a cerca de 80 km da cidade de El Calafate, principal porta de entrada do parque. Imagem de Milena W por Pixabay
Com 250 km² de extensão, 30 km de comprimento e 74 metros de altura acima da superfície do Lago Argentino, Perito Moreno é uma das 48 geleiras alimentadas pelo Campo de Hielo Sur, a terceira maior reserva de água doce do mundo. Imagem de JDubya59 por Pixabay
O Nevado Pastoruri é uma montanha de 5240 metros de altitude, de onde começa a geleira de mesmo nome, que está derretendo e se transformando em um lago aos pés da montanha. A previsão para que o Glaciar Pastoruri suma de vez é de cerca de 10 anos. Imagem de u_8g06plhvm6 por Pixabay
O Nevado Pastoruri é uma destas joias que serão perdidas com o tempo. Infelizmente, as mudanças climáticas têm impactado a região drasticamente, causando o derretimento da maioria dos glaciais e de parte das montanhas nevadas da Cordilheira Branca. Psamathe/Wikimédia Commons
De acordo com os pesquisadores do MapBiomas, organização voltada para causas ambientais, o aumento no número de incêndios no bioma gerou uma maior liberação de carbono negro na atmosfera, elemento oriundo da combustão de madeiras ou combustíveis fósseis. - Imagem de JPierre Desvigne por Pixabay
O que Maduro diz sobre Trump?
Do outro lado, Nicolás Maduro sempre respondeu com o mesmo tom de enfrentamento. O líder venezuelano chama Trump de “imperialista”, “chefe do império do mal” e “líder do terrorismo econômico”, acusando-o de tentar promover um golpe de Estado e de conspirar para roubar as riquezas petrolíferas da Venezuela.
“Donald Trump é o responsável direto por uma política de agressão e bloqueio que causa sofrimento ao povo venezuelano”, declarou Maduro em 2020.
Maduro também afirmou que sobreviveu a tentativas de assassinato e sabotagem apoiadas pelos EUA, e chegou a dizer que Trump “autorizou mercenários” a tentar invadir o país.
Durante a campanha presidencial de 2020 nos EUA, Maduro ironizou Trump dizendo que “ele se acha o dono da América Latina, mas não manda na Venezuela”.