Equipes de resgate foram enviadas às remotas encostas tibetanas do Monte Everest, na fronteira entre o Tibete e o Nepal, onde uma tempestade de neve deixou centenas de pessoas presas em acampamentos, segundo a mídia estatal chinesa.

Centenas de moradores locais e equipes de resgate foram mobilizados para remover a neve que bloqueia o acesso à área, localizada a mais de 4,9 mil metros de altitude.

Cerca de 350 pessoas foram resgatadas e levadas para um local seguro na pequena cidade de Qudang, segundo informou neste domingo a agência de notícias Reuters, com base em informações da mídia local.

Nesta segunda-feira (6/10), a mídia estatal chinesa informou que cerca de 200 pessoas que estavam fazendo uma trilha — e estão presas no local — haviam sido contatadas.

As fortes nevascas começaram na sexta-feira à noite e intensificaram-se nas encostas orientais do Monte Everest, no Tibete, uma zona popular entre alpinistas e caminhantes.

"Estava tão úmido e frio que a hipotermia era um risco real", declarou à Reuters Chen Geshuang, que faz parte de um grupo que chegou a Qudang.

"O clima deste ano não está normal. O guia comentou que nunca tinha visto um clima assim em outubro. E que aconteceu de forma tão repentina", disse ela.

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Os socorristas forneceram comida às pessoas que estavam sendo resgatadas.

Chen, uma entusiasta de atividades ao ar livre de 29 anos, partiu do município de Qudang em 4 de outubro com a intenção de chegar cinco dias depois ao acampamento de Cho Oyu, uma rota que oferece vistas dos picos do Himalaia.

O plano inicial era abandonar as montanhas em 11 de outubro.

Mas tudo mudou quando uma forte nevasca se abateu sobre a região.

Quando Chen consultou a previsão do tempo, esperava-se neve no dia 4 de outubro, mas que o tempo melhorasse no dia 5 e que o dia seguinte fosse ensolarado.

Seu grupo de mais de 10 pessoas decidiu ficar no local, como havia planejado.

No entanto, durante a noite, a tempestade piorou, trazendo trovões, ventos fortes e neve incessante.

'Quando acordei, a neve tinha um metro de profundidade'

Seu guia ajudou a sacudir a neve das tendas e cavar ao redor delas para evitar que desabassem.

"Quando acordamos na manhã seguinte, a neve já tinha cerca de um metro de profundidade", lembrou Chen, acrescentando que seu grupo decidiu voltar.

O grupo passou quase seis horas caminhando de volta no dia 5 de outubro, pois a trilha havia ficado soterrada sob uma espessa camada de neve.

O alpinismo é importante fonte de renda no Nepal, pois movimenta o turismo na região, já que muitos trabalhadores atuam como guias na região montanhosa. O país possui oito dos 14 picos mais altos do mundo. Reprodução/Instagram
Em maio de 2024, o guia nepalês Kami Rita Sherpa, de 54 anos, escalou o Everest pela 30ª vez, um recorde na história da montanha. A informação é da autoridade de turismo do Nepal. Reprodução/Instagram
Há pouco mais de 50 anos, em 29 de maio de 1953, o neozelandês Edmund Hillary e o guia nepalês Sherpa Tenzing Norgay foram os primeiros aventureiros a completar a escalada do Everest com sucesso Jamling Tenzing Norgay/Wikimedia Commons
Desafio para alpinistas do mundo inteiro, o Everest tem duas rotas de acesso principal, uma pela sudeste do Nepal e outra via nordeste do Tibete. Markrosenrosen wikimedia commons
O nome pelo qual é conhecido atualmente é uma homenagem ao geógrafo George Everest (1790 - 1866). Antes, a montanha era conhecida como Pico XV. shrimpo1967 - Papa Lima Whisley - wikimedia commons
Localizado na Cordilheira do Himalaia, entre o Tibet e o Nepal, no continente asiático, o Monte Everest se formou há mais de 60 milhões de anos. Mick Lissone / public domain pictures
O documentário Everest Sustentável, exibido no Canal Off em 2020, mostrou ação de moradores de uma comunidade local para triturar o lixo. Eles sugerem a turistas que levem de três a quatro quilos desses resíduos para o sistema de coleta do aeroporto. Vyacheslav Argenberg/Wikimedia Commons
De acordo com a National Geographic Society, oito quilos são o peso médio de lixo produzido por uma pessoa durante a escalada da montanha. Reprodução Instagram @tenzi_sherpa1999
Antes de iniciar a escalada, os alpinistas devem fazer um depósito de coleta de lixo para o governo do Nepal no valor de 4 mil dólares . O montante é devolvido integralmente ao fim da expedição caso o turista acondicione na bagagem oito quilos de resíduos. - Creative Commons/Dominio Publico /Hippopx.com
O cenário de detritos é sortido, com barracas abandonadas, instrumentos de escalada, cilindros de oxigênio vazios, lixos plásticos, sapatos, talheres (!!!) e quantidade assombrosa de excrementos. - Creative Commons/Dominio Publico /Hippopx.com
Em entrevista à revista Newsweek, Sherpa disparou: "Acho que o governo deveria estabelecer regras rígidas para aqueles que deixam lixo no Everest. E elaborar um projeto de campanha de limpeza mais eficaz". - Reprodução Youtube
Tenzi Sherpa é guia de trekking ("caminhada") no Everest desde 2019 e compartilhou um vídeo no Instagram para mostrar o lixão na montanha. Reprodução Instagram @tenzi_sherpa1999
Em uma postagem que viralizou na internet, o alpinista Tenzi Sherpa definiu assim um trecho da montanha nepalesa: "Acampamento mais sujo que já vi". Reprodução Instagram @tenzi_sherpa1999
A medida foi tomada porque o governo recebeu queixas sobre o mau cheiro na montanha e fezes visíveis sobre as rochas, já que a temperatura de 60 graus negativos impede a deterioração. Há até um caminho que já é chamado de "trilha do papel higiênico". Reprodução Instagram
Por isso, uma medida recente é a obrigatoriedade de os alpinistas retornarem da escalada carregando as fezes num saquinho apropriado. Esse recipiente contém um produto químico que retira o mau cheiro e preserva as fezes para que elas sejam "conferidas" . Reprodução Instagram
O Exército do Nepal informou que em 2022 removeu cerca de 34 toneladas de resíduos do Everest e das montanhas adjacentes. Em 2021 haviam sido 27,6 toneladas. Reprodução Instagram
A dificuldade de acesso complica a organização de um sistema eficaz de coleta e reciclagem. O jornal britânico Daily Mail publicou que, anualmente, entre 900 e 1.000 toneladas de resíduos sólidos são levadas ao parque pelos turistas. Reprodução Instagram @tenzi_sherpa1999
A sujeira na montanha transformou o Everest no mais alto depósito de lixo do planeta. Estima-se que, a cada temporada, cerca de 50 toneladas de lixo sejam deixadas no Everest e 75 toneladas sejam produzidas no acampamento base. Reprodução Instagram @tenzi_sherpa1999
Montanha mais alta do mundo, o Monte Everest, com seu pico a a 8.848 metros de altitude, atrai centenas de alpinistas anualmente. Mas os ambientalistas estão preocupados com a integridade da região por causa do acúmulo monumental de resíduos. Reprodução Instagram @tenzi_sherpa1999

Durante a descida, encontraram aldeões tibetanos que subiam a colina carregando suprimentos para as equipes de resgate. Os aldeões contaram que centenas de moradores locais tinham se juntado à operação de busca e resgate.

"Muitas pessoas vêm aqui para fazer caminhadas durante a Semana Dourada [um feriado chinês], mas a neve deste ano foi excepcional", disse ela. Seu guia também comentou que um clima como esse na encosta oriental do Everest era muito incomum.

"Somos todos caminhantes experientes", disse Chen. "Mas essa nevasca foi extremamente difícil de enfrentar. Tive muita sorte de conseguir escapar."

Chen Geshuang
Imagem feita por Chen Geshuang mostra o clima ruim no Everest

A equipe de resgate Blue Sky do Tibete recebeu uma chamada de socorro informando que muitas tendas haviam desabado devido às fortes nevascas e que alguns caminhantes já estavam sofrendo de hipotermia, segundo os meios de comunicação estatais chineses.

A Companhia de Turismo do Condado de Tingri suspendeu a venda de ingressos e o acesso à área cênica do Everest desde sábado, informou a Reuters.

A região enfrenta condições meteorológicas extremas. No vizinho Nepal, fortes chuvas provocaram deslizamentos de terra e inundações repentinas que destruíram pontes e causaram a morte de pelo menos 47 pessoas nos últimos dois dias.

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Na última semana, houve um boom de turismo interno na China, que está no meio de seu feriado de uma semana pelo Dia Nacional, conhecido como a Semana Dourada.

Na China, o tufão Matmo atingiu o continente e obrigou cerca de 150 mil pessoas a evacuarem suas casas.

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Os resgatados receberam avisos para se dirigirem a um local seguro

O Monte Everest é o pico mais alto do mundo, com 8.849 metros.

As autoridades locais investiram no desenvolvimento turístico da área cênica do Monte Everest, um destino popular entre os praticantes de caminhadas.

Isso inclui o Acampamento Base do Everest, um mirante e um mosteiro, além de vários vales e outros locais.

Esses esforços deram frutos: em 2024, a área cênica do Monte Everest recebeu um número recorde de 540.200 visitantes, de acordo com a mídia estatal.

Esses visitantes geralmente não aspiram alcançar o pico mais alto do mundo. Em 2024, quase mil pessoas chegaram ao topo do Everest, a grande maioria pela encosta nepalesa.

Mas chegar ao topo é algo considerado extremamente perigoso.

Nos últimos anos, o Monte Everest tem sido afetado por preocupações com a superlotação, questões ambientais e uma série de mortes na escalada.

Por que é difícil verificar as informações da região

Mesmo nas melhores circunstâncias, obter informações precisas sobre a Região Autônoma do Tibete (RAT) pode ser muito difícil.

Nenhum estrangeiro pode entrar sem uma autorização especial, e os jornalistas só têm acesso para participar de excursões oficiais organizadas pelo governo, que também são pouco frequentes.

Portanto, quando os jornalistas tentam entrar em contato com pessoas dentro da RAT, são rotineiramente bloqueados. As pessoas simplesmente desligam ou se recusam a responder até mesmo a perguntas básicas.

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As fortes nevascas começaram na sexta-feira à noite

Durante uma crise de qualquer tipo, como uma emergência de resgate, esse controle é reforçado ainda mais.

O governo chinês prefere que o fluxo de informações seja controlado pelo Partido Comunista por meio de seus próprios órgãos.

No entanto, os meios de comunicação estatais chineses informaram sobre o clima perigoso nesta parte do Himalaia durante as férias de outubro e os trabalhos de resgate subsequentes.

Reportagem adicional de Stephen McDonell em Pequim e Ewe Koh em Singapura

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