Israel e Hamas trocaram acusações neste domingo (19) sobre a violação do cessar-fogo na Faixa de Gaza, onde o aumento da violência no sul do território palestino devastado ameaça a trégua em vigor há nove dias.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, denunciou uma "violação do cessar-fogo" e ordenou ao Exército agir "com força" contra os alvos "terroristas" na Faixa de Gaza.

Por sua vez, o Hamas reafirmou o compromisso de respeitar o cessar-fogo, mas advertiu que o agravamento da tensão "prejudicaria as operações de busca e recuperação dos corpos".

O movimento islamista palestino anunciou pouco depois que encontrou o corpo de mais um refém israelense, que será devolvido nas próximas horas.

Sob pressão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a trégua entrou em vigor em 10 de outubro, após dois anos de uma guerra devastadora no território palestino, desencadeada por um ataque sem precedentes do Hamas em 7 de outubro de 2023 em Israel.

Como estipulado pela primeira fase do acordo, o grupo islamista entregou na segunda-feira passada os 20 reféns que ainda estavam em Gaza, em troca de quase 2.000 prisioneiros palestinos e começou a devolver os restos mortais dos sequestrados que faleceram em cativeiro.

"Os terroristas lançaram mísseis antitanque e abriram fogo contra as forças Tsahal (as tropas israelenses), que atuavam para destruir infraestruturas terroristas na zona de Rafah, segundo as condições do acordo", afirmou o Exército israelense em um comunicado.

"Para neutralizar a ameaça, Israel efetuou ataques aéreos e disparos de artilharia na zona de Rafah", acrescenta a nota militar, que classifica o incidente como uma "violação flagrante do cessar-fogo".

- "Guerra!" -

Uma testemunha palestina contou à AFP que "aviões de combate executaram dois ataques aéreos em Rafah", em uma "zona sob controle militar israelense". Não foram divulgadas informações sobre possíveis vítimas.

Outra testemunha afirmou que antes dos ataques ocorreram "confrontos" entre membros do movimento islamista palestino Hamas e outro grupo armado palestino, também em uma zona "sob controle militar israelense". 

"Foram surpreendidos pela presença de tanques do Exército (nas proximidades). Parece que houve algum tipo de confronto", disse.

O braço armado do Hamas, no entanto, afirmou em um comunicado "não ter conhecimento de nenhum incidente ou confronto na área de Rafah". 

"É a ocupação sionista que segue violando o acordo", declarou Izzat al-Rishq, membro do gabinete político do movimento islamista.

Os confrontos aconteceram no momento em que Netanyahu mantinha reuniões com parte de seu gabinete. Alguns ministros reagiram imediatamente, como o titular das Finanças, Bezalel Smotrich, que escreveu "Guerra!" na rede social X.

O ministro da Defesa, Israel Katz, advertiu na mesma rede social que o Hamas "pagará um preço elevado por cada disparo e cada violação do cessar-fogo". 

Algumas horas antes do incidente, Israel anunciou a identificação dos dois corpos de reféns entregues no sábado pelo Hamas, por meio da Cruz Vermelha, no âmbito do acordo.

As vítimas identificadas são o repórter fotográfico Ronen Engel e o tailandês Sonthaya Oakkharasri. Os dois foram assassinados em 7 de outubro de 2023 e levados para Gaza.

Israel voltou a afirmar neste domingo que não fará "nenhuma concessão" e que condiciona a reabertura da passagem de fronteira de Rafah, entre Gaza e o Egito, à entrega de todos os reféns falecidos.

O Hamas respondeu que o fechamento da passagem de fronteira atrasará a devolução dos corpos, já que impede a entrada do equipamento necessário para procurar os cadáveres sob os escombros.

- Tarefa "monumental" - 

As agências humanitárias e a ONU insistem na necessidade de abertura da passagem de Rafah, essencial para transportar ajuda ao território palestino, devastado após dois anos de guerra. 

O diretor das operações humanitárias da ONU, Tom Fletcher, alertou no sábado, durante uma visita à Cidade de Gaza, que a comunidade internacional terá uma tarefa "monumental" para fornecer serviços básicos e alimentos ao território.

O enviado de Donald Trump, Steve Witkoff, visitará a região na próxima semana para supervisionar a aplicação do acordo de cessar-fogo.

O Exército israelense controla todos os acessos à Faixa de Gaza e apenas alguns foram reabertos, apesar de o acordo prever a entrada de ajuda humanitária.

O Hamas libertou a tempo os 20 sequestrados vivos, mas entregou apenas os restos mortais de 12 dos 28 reféns falecidos.

O ataque de 7 de outubro de 2023 deixou 1.221 mortos em Israel, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais.

A ofensiva israelense deixou mais de 67.900 mortos no território palestino, também em sua maioria civis, segundo os números do Ministério da Saúde de Gaza, considerados confiáveis pela ONU. 

As autoridades locais calculam que há quase 10.000 cadáveres sob os escombros.

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