Deepfakes: vídeos criados por IA estão circulando e criando ilusões
Desenvolvido pela Google DeepMind, Veo 3 permite gerar cenas realistas a partir de comandos por texto; especialista em tecnologia Diogo Archanjo explica
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Siga noRecentemente, a internet foi tomada por diversos vídeos que apresentavam situações inesperadas e extremamente realistas, criados com o auxílio do Veo 3, uma ferramenta da Google DeepMind. Cenários bíblicos, fragmentos históricos e personagens que moldaram a história da humanidade, como Adão e Eva, a arca de Noé e até a construção das pirâmides do Egito, foram retratados com trilhas sonoras e sotaques brasileiros. Essa aproximação com o público gerou encantamento, mas também dificultou a identificação do que era real ou fruto da inteligência artificial.
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Trata-se de uma IA generativa multimodal, com foco principal na criação de vídeos. A ferramenta permite transformar descrições em linguagem natural em clipes de alta fidelidade. Apesar de ser amplamente utilizada para produção de conteúdo, cresce a preocupação com a facilidade de personalização e mimetização das emoções humanas, o que pode confundir os usuários e gerar conteúdos enganosos, como os deepfakes. Basta digitar um comando em texto, e a plataforma transforma isso em imagem e som.
“Após o advento da inteligência artificial e da popularidade alcançada com os acessos, automação e otimização de processos, a maioria das artes criadas por esses sistemas carregava algum tipo de ‘bug’. Por exemplo, imagens com número excessivo de dedos ou outras irregularidades corporais, o que facilitava a identificação de uso indevido ou de possíveis farsas,” explicou o especialista em tecnologia, Diogo Archanjo.
O software permite a criação de vídeos com até um minuto de duração, em resolução 4K. Além disso, ele é capaz de captar nuances da linguagem, o que possibilita ao criador implementar estilos próprios, impressionando pela coerência narrativa. O Veo é apenas uma das ferramentas exploradas nesse universo; outras semelhantes incluem Runway AI, Synthesia, Pika AI, DeepBrain AI, D-ID Studio e Sora.
Para aumentar o senso crítico da população, ferramentas de detecção de vídeos falsos estão sendo desenvolvidas, a fim de facilitar a separação entre o que é real e o que é gerado por IA. Pesquisadores do Laboratório de Inteligência Artificial da Unicamp criaram uma tecnologia que analisa rostos e outros elementos visuais, já em fase de adaptação para auxiliar investigações do Ministério Público. No entanto, essa tecnologia ainda precisa ser atualizada para reconhecer vídeos criados pelo Veo 3.
“As empresas que desenvolvem essas ferramentas impõem limites éticos, comandos que envolvam violência, abuso ou desinformação são bloqueados. Mas o ponto crucial é o caráter de quem as utiliza. A IA não identifica um prompt aparentemente inofensivo que pode, na prática, ser usado para outros fins. É algo que precisa ser levado muito a sério. O hype é tão grande que a situação pode sair do controle. Por isso, é essencial promover orientação, tanto para quem usa quanto para quem consome. Precisamos também avançar na educação digital, para que todos desenvolvam o feeling de buscar sua própria segurança,” concluiu Diogo.