Empresas ampliam investimentos em inteligência artificial
Adoção da tecnologia cresce, impulsionada por ganhos em produtividade, decisões mais estratégicas e novas exigências do mercado
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Siga noA inteligência artificial deixou de ser uma promessa futurista para se tornar uma ferramenta estratégica essencial para empresas que buscam competitividade em um mercado cada vez mais dinâmico, regulado e orientado por dados. Segundo a pesquisa The State of AI in Early 2024, 72% das organizações já utilizam IA em pelo menos uma área de seus negócios — um salto expressivo em relação aos 55% do ano anterior. O uso de IA generativa também cresceu de 33% para 65%.
No Brasil, empresas de setores variados — da construção civil à saúde pública, passando por energia, tecnologia e petróleo — vêm adotando soluções próprias e inovadoras para transformar processos, aumentar a eficiência operacional e sustentar vantagens competitivas.
IA na construção
Segundo Cássio Lapertosa, diretor de Tecnologia e Segurança da Informação da Emccamp Residencial, empresa que atua há mais de 48 anos no setor da construção com forte presença em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, a IA não é mais uma promessa de futuro — ela já é uma realidade em todos os setores da empresa. "Na Emccamp, a IA já está presente desde a venda até o canteiro de obras. Hoje, todas as áreas têm um projeto de IA rodando — inclusive construção, compras, Tecnologia da Informação e atendimento".
No canteiro, drones com IA vistoriando obras, identificando falhas e garantindo o uso correto dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) se somam a ferramentas sem fio inteligentes que alertam gestores quando são removidas ou ficam inativas, ajudando a prevenir desperdícios e furtos. "A ferramenta, literalmente, fala com a gente. Se for desligada ou usada de forma errada, ela avisa", diz Cássio.
Esses equipamentos são integrados a sistemas de rastreamento que monitoram, em tempo real, uso e localização, permitindo identificar gargalos de produtividade e otimizar recursos.
A empresa também utiliza modelos preditivos que cruzam dados como renda média, perfil socioeconômico, crescimento da região e histórico de valorização para avaliar a viabilidade de novos lançamentos, transformando decisões antes baseadas em intuição em escolhas fundamentadas por dados.
A Emccamp criou também bots internos que auxiliam os colaboradores com respostas rápidas e técnicas no dia a dia das obras. "Se alguém perguntar 'quanto tempo demora para o cimento secar?', o bot responde na hora. Isso otimiza o trabalho de quem está na obra", completa Cássio.
Combate à dengue com inteligência artificial
A guerra contra o Aedes aegypti entrou em uma nova fase e agora conta com drones e inteligência de dados. Unindo equipamentos, algoritmos preditivos e uma plataforma de Business Intelligence, o Techdengue, programa desenvolvido pela Aero Engenharia, está revolucionando a vigilância epidemiológica, em Minas e no Brasil, e já entrega resultados expressivos. Em áreas tratadas, a redução dos focos do mosquito chega a 96%. "Estamos propondo uma virada de chave. Em vez de reagir aos surtos da doença, queremos antecipar os riscos. E isso só é possível com tecnologia, dados confiáveis e inteligência aplicada ao território", afirma Cláudio Ribeiro, CEO da Aero Engenharia.
Em operação, os drones mapeiam áreas críticas com precisão e aplicam larvicida com eficácia superior a 95%. O diferencial está no dispenser inteligente, capaz de identificar depósitos fora do campo de visão dos agentes, como lajes e caixas d'água elevadas, e realizar a aplicação diretamente nesses pontos com rotas e alvos definidos por IA.
Toda a operação gera um grande volume de dados, processado por uma plataforma de BI que oferece aos gestores municipais relatórios completos e mapas interativos. A partir dessas informações, é possível priorizar áreas, intensificar campanhas educativas e otimizar o uso de recursos públicos. De acordo com Cláudio Ribeiro, mapear é só o começo. "A inteligência está em como interpretamos esses dados e entregamos soluções aplicáveis, respeitando a realidade de cada município. Nosso objetivo é democratizar o acesso à tecnologia de ponta", afirma.
O programa já alcançou mais de 150 mil hectares mapeados e mais de 600 municípios atendidos. Em Matozinhos (MG), após a implementação do Techdengue em 26% da área urbana, o número de focos caiu 99,29%. O impacto foi tão expressivo que, para cada real investido, estima-se um retorno de R$ 28,60 em economia para o SUS, evitando internações e tratamentos de casos graves.
IA no coração do setor de energia
A Elysian Petroleum está colocando a inteligência artificial no centro de suas operações, com a criação de um Centro de Inteligência Artificial em Belo Horizonte, com foco em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias voltadas inicialmente para o setor de petróleo e gás, mas com aplicações multiplataforma. "O objetivo é desenvolver nossas próprias tecnologias, com menor dependência de atores externos, isso nos permite evoluir com mais rapidez", afirma Ernani Machado, presidente da empresa.
O centro será multidisciplinar e contará com a colaboração de universidades, centros de pesquisa e startups em projetos específicos, ampliando a capacidade de entrega de soluções em menor tempo. Segundo o executivo, o centro já nasce com mais de 50 projetos em andamento e outros 22 específicos para o setor de petróleo e gás que devem começar assim que o espaço estiver em operação.
A Elysian Petroleum projeta que 80% de suas operações de extração sejam automatizadas com robótica aplicada à IA nos próximos anos. Atualmente, a inteligência artificial já atua no controle e gestão de operações, e o plano é expandir sua aplicação a todas as etapas da cadeia produtiva. "Reduzir consumo, aumentar a eficiência e tomar decisões com base em dados, mesmo os imperceptíveis ao olho humano, é o que a IA nos permite. Essa combinação nos permite operar de forma mais eficiente e com menor impacto ambiental", destaca Machado.
Website: https://www.instagram.com/techdengue/