PERIGO

Adultização nas redes sociais: vídeo denuncia exploração de adolescentes

Adultização infantil está associada a maior risco de transtornos emocionais e comportamentais, além de normalizar a sexualização de menores

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A conta do influenciador digital Hytalo Santos no Instagram, que contava com cerca de 17 milhões de seguidores, foi desativada nesta sexta-feira (8/8) após denúncias de exploração e sexualização de adolescentes em conteúdos publicados nas redes sociais.

A remoção ocorreu dois dias após divulgação de um vídeo do também influenciador Felipe Bressanim Pereira, o Felca, que expôs práticas envolvendo jovens de 12 a 17 anos em realities online. As denúncias contidas no vídeo somam-se a uma investigação já em andamento pelo Ministério Público da Paraíba que apura suspeitas de exploração infantil envolvendo Hytalo Santos.



O vídeo, que já acumula milhares de visualizações, apresenta trechos de realities promovidos por Hytalo com adolescentes de 12 a 17 anos, autorizados pelos pais, mas com conteúdo que inclui beijos, insinuações sexuais e falas que sugerem relações íntimas.

Um dos casos mais citados é o da adolescente conhecida como “Kamilinha”, que aos 17 anos passou por uma cirurgia de implante de silicone. Todo o procedimento, incluindo o pós-operatório, foi publicado nas redes sociais, exibindo momentos em que a jovem estava grogue e vulnerável, além de imagens do resultado com sutiã cirúrgico.

Para a psiquiatra da infância e adolescência Jaqueline Bifano, o cenário descrito no vídeo é alarmante. “Quando uma criança ou adolescente é exposta a esse tipo de situação, há uma quebra de barreiras emocionais e de proteção essenciais para o desenvolvimento saudável. Isso pode gerar consequências graves, como distorção da autoimagem, ansiedade, depressão e até sintomas de estresse pós-traumático”, afirma.

O fenômeno da adultização infantil, segundo a especialista, ocorre quando comportamentos e estéticas da vida adulta são impostos precocemente, interferindo no amadurecimento emocional e social. Dados do Ministério da Saúde e do Conselho Federal de Psicologia apontam que esse tipo de exposição está associado a maior risco de transtornos emocionais e comportamentais, além de normalizar a sexualização de menores.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) ressalta que o corpo humano passa por importantes mudanças estruturais até, em média, os 21 anos. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, em seus posicionamentos públicos e em entrevistas institucionais, orienta que cirurgias plásticas em menores de idade (faixa etária até 18 anos, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA) devem ser exceções, realizadas apenas quando há indicação médica ou para corrigir deformidades congênitas, traumáticas ou adquiridas que causem prejuízo físico ou emocional relevante.

Jaqueline reforça que o papel dos pais é central na prevenção. “A internet não é um ambiente neutro. Os algoritmos priorizam o que gera engajamento, e infelizmente isso inclui a exploração do corpo de crianças e adolescentes. Cabe à família impor limites claros, supervisionar e orientar constantemente o uso das redes sociais”.

A psiquiatra ressalta que crianças expostas a conteúdos sexualizados antes da maturidade emocional têm maior probabilidade de apresentar baixa autoestima, dificuldade em estabelecer relacionamentos saudáveis e maior vulnerabilidade a abusos.

“Quando essas situações são tratadas como entretenimento e não como violação de direitos, a criança aprende que seu corpo é uma mercadoria. Isso compromete a construção da identidade e pode trazer consequências que se estendem pela vida adulta”.

No Brasil, o ECA proíbe qualquer forma de exploração sexual de menores, ainda que consentida pelos pais, e prevê penalidades para quem se beneficia financeiramente desse tipo de prática. Além disso, o Marco Civil da Internet estabelece que provedores e plataformas têm obrigação de remover conteúdos ilegais após notificação.

A funcionária pública Mônica Elisa Ribeiro tem quatro filhas, a mais nova com 15 anos. Para a mãe, o acesso desregrado às redes sociais pode deturpar a realidade. “É difícil um adolescente entender que a realidade é diferente daquilo que é mostrado nas redes. Hoje existe uma pressão social para que tenham celular desde cedo”.

Ela conta que tem acesso direto às redes sociais da filha em seu próprio smartphone, mas, ainda assim, se preocupa. “Eu acho que esse acesso deturpa a realidade, e elas acabam se cobrando uma perfeição que não existe. Elas começam a achar que só o que é mostrado ali, é a felicidade. Eu converso muito com ela, deixo claro que ela sempre terá meu apoio e procuro me manter aberta para que ela possa vir até mim e compartilhar qualquer coisa, sentindo-se segura”.

Para Jaqueline Bifano, a solução exige um esforço conjunto. “Proteger a infância é responsabilidade de todos. É preciso conscientizar famílias, responsabilizar judicialmente quem lucra com a exploração e exigir das plataformas digitais uma postura mais ativa no combate a esse tipo de conteúdo. Estamos falando de uma questão de saúde pública e de direitos humanos”.

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