Em uma região marcada pela simplicidade e pelos desafios do interior nordestino, o trabalho do médico Douglas Ciríaco, de 26 anos, vai além da prática clínica: ele cultiva relações humanas que florescem em forma de presentes inusitados - galinhas, rolinhas, acerolas, feijão de corda, abóboras, imagens de santos e até milho colhido no quintal. Esses gestos de gratidão são oferecidos por seus pacientes em Ouro Branco, município de Alagoas, onde Douglas atua como o único médico de uma área que abrange dez sítios da zona rural.
Além ir ao consultório, sua rotina inclui visitas semanais às casas dos pacientes que não conseguem se deslocar até a unidade básica de saúde
Douglas é clínico geral da Estratégia de Saúde da Família e integra o programa federal Mais Médicos, voltado ao atendimento em regiões com escassez de profissionais. Natural de Arapiraca (AL), ele optou desde o início da carreira por atuar exclusivamente no Sistema Único de Saúde (SUS). "Nunca cobrei por uma consulta. Então, quando recebo esses presentes, entendo como um carinho. É o reconhecimento mais puro pelo meu trabalho", afirma.
Além de ir ao consultório, sua rotina inclui visitas semanais às casas dos pacientes que não conseguem se deslocar até a unidade básica de saúde. Às quintas-feiras, com o jaleco no calor do agreste e o estetoscópio a tiracolo, Douglas percorre estradas de barro e percorre quilômetros entre sítios para atender idosos, hipertensos e diabéticos. "A situação é complicada na zona rural, então faço questão de garantir esse acesso", conta.
Douglas e galinha que ganhou de presente
Apesar das limitações, como a falta de medicamentos e recursos básicos, o jovem médico vê propósito no que chama de "medicina de guerra". "Trabalhamos com o que temos, e buscamos oferecer o melhor possível. Saber que ajudei alguém, mesmo com poucos recursos, é o que me realiza", explica.
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O atendimento de Douglas se tornou parte vital da rotina da comunidade, onde o atendimento médico é escasso, mas a generosidade e o afeto são abundantes
Há um ano em Ouro Branco, Douglas tem mais três pela frente no programa federal. Sua presença se tornou parte vital da rotina da comunidade, onde o atendimento médico é escasso, mas a generosidade e o afeto são abundantes. Para ele, cada galinha doada ou cacho de acerola entregue com as mãos calejadas dos pacientes é um símbolo de respeito e confiança.
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*Estagiária sob supervisão da subeditora Juliana Lima