O Brasil, maior produtor e consumidor de café do mundo, acaba de dar um grande passo rumo à sustentabilidade com o lançamento da primeira embalagem monomaterial de café projetada para reciclagem no país. A inovação, batizada de O1NE, é resultado de uma parceria articulada pelo Movimento Circular, envolvendo as empresas Dow e Valgroup, responsáveis pelo desenvolvimento tecnológico, e a torrefação premium Catarina Café e Amor, pioneira na adoção da solução.
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A novidade chega em um momento crucial para o mercado: em 2024, o setor cafeeiro brasileiro movimentou impressionantes R$ 36,8 bilhões, com o consumo de 21,9 milhões de sacas de café industrializado, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic).
Estima-se que mais de 3,3 bilhões de embalagens de café sejam colocadas no mercado nacional todos os anos - a maioria ainda sem destinação sustentável -, acabando em aterros sanitários ou lixões. A O1NE surge como uma alternativa para tentar mudar esse cenário.
Embalagem pensada para ser reciclada
A grande inovação do produto está em sua estrutura monomaterial: toda feita com o mesmo tipo de plástico, o que facilita significativamente sua reciclagem. "É o primeiro modelo desenhado desde o início para permitir a circularidade. A ciência de materiais finalmente oferece uma resposta concreta às exigências por embalagens sustentáveis", destaca Vinicius Saraceni, diretor-geral do Movimento Circular.
A tecnologia foi desenvolvida com o suporte técnico do Pack Studios, centro global de inovação da Dow, e utiliza resinas de alto desempenho como ELITE™ AT e INNATE™. O resultado é uma embalagem que combina barreira eficaz contra umidade e oxigênio, alta resistência mecânica e estética atrativa, tudo isso sem comprometer a performance e com a vantagem de ser 100% reciclável.
Economia circular na prática
Para o Movimento Circular, a criação é exemplo do poder da colaboração entre diferentes setores. "Essa embalagem representa mais do que um avanço técnico: é um convite para repensarmos o ciclo de vida dos produtos que consumimos. Só conseguimos esse resultado unindo tecnologia, propósito e visão empresarial de longo prazo", afirma Saraceni.
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Para Saraceni, a conscientização sobre a economia circular deve ser ampla e acessível e passa por conectar diferentes atores sociais - empresas, governos e consumidores. "A inovação só é transformadora quando nasce da colaboração. Nosso papel é articular essas conexões e mostrar que um futuro sem lixo é possível".
A Catarina Café e Amor foi a primeira marca a apostar na inovação. Com foco em cafés especiais e práticas sustentáveis, a torrefação aceitou o desafio de repensar sua linha de embalagens. "Somos uma empresa que cuida de todo o processo, do grão até a xícara, porque sabemos que tudo volta para a natureza. A embalagem também precisa refletir essa responsabilidade", explica Marina Souza Gomes, sócia da empresa.
Escalabilidade e inspiração para outros setores
A executiva Leticia Vanzetto, gerente de desenvolvimento de mercado para embalagens da Dow, acredita que a solução tem potencial para transformar outros segmentos. "Essa tecnologia é escalável e pode ser adaptada a setores como alimentos, cosméticos e limpeza. É uma plataforma de inovação que pode redefinir os padrões de sustentabilidade da indústria brasileira", aponta.
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Já para João Alves, gerente de inovação da Valgroup, o sucesso dependeu da coragem e visão da torrefação parceira: "A Catarina Coffee entendeu o desafio e abriu as portas. Enquanto grandes empresas ainda se mostram conservadoras, eles deram o primeiro passo para uma mudança fundamental".
*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino