Jogo do bicho: por que a contravenção nunca acaba no Brasil
Operações como a que mirou Rogério Andrade são frequentes, mas o jogo persiste: entenda as raízes históricas e a força política do bicho
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Operações policiais contra o jogo do bicho, como a que mirou recentemente o contraventor Rogério Andrade e seus aliados no Rio de Janeiro, se repetem há décadas. Mesmo com prisões e apreensões, a estrutura que movimenta milhões de reais todos os dias parece indestrutível. A resiliência dessa atividade ilegal não se explica apenas pela popularidade das apostas.
A força do jogo do bicho está em suas raízes históricas profundas, na sua capilaridade social e nas poderosas conexões políticas que o protegem. Criado para ser uma atração para os visitantes do Jardim Zoológico do Barão, se tornou um fenômeno que ultrapassou rapidamente os muros do zoológico e se espalhou pelo Brasil.
Sua simplicidade e a possibilidade de fazer apostas de baixo valor o tornaram acessível a todas as classes sociais. Em 1941, o jogo do bicho foi oficialmente proibido e classificado como contravenção penal. A decisão, no entanto, não o enfraqueceu. Pelo contrário, empurrou a atividade para a clandestinidade e fortaleceu seus operadores, que passaram a construir verdadeiras máfias.
A engrenagem que sustenta o poder
O jogo do bicho moderno é muito mais do que uma simples aposta em números de animais. A estrutura funciona como uma empresa com hierarquia rígida. Abaixo deles, há uma rede de gerentes, arrecadadores e os "apontadores", que registram as apostas nas ruas.
Essa estrutura não sobrevive apenas do dinheiro das apostas. Ela se diversificou para outras atividades, como a exploração de máquinas caça-níqueis, agiotagem, lavagem de dinheiro e até mesmo a grilagem de terras. O lucro obtido é usado para corromper agentes públicos e garantir a impunidade, criando um ciclo de proteção que dificulta o trabalho das autoridades.
Luiz Antônio Simas, autor do livro “Maldito invento dum baronete: uma breve história do jogo do bicho” já questionou essa posição atual do jogo do bicho. “Já faz um tempo que o jogo do bicho não conseguiu renovar seu público. A cúpula do bicho sabe disso. Por isso, continua estendendo os tentáculos em outras atividades criminosas, como lavagem de dinheiro e tráfico de armas.” afirmou.
Outro pilar de sustentação é a sua base social. Em muitas comunidades carentes, o bicheiro assume um papel que deveria ser do Estado. Ele financia festas locais, oferece ajuda para despesas médicas e até emprega moradores. Essa imagem de benfeitor cria uma rede de lealdade e silêncio, onde a população se torna cúmplice e protetora do sistema.
Como o jogo do bicho afeta seu dia a dia
Embora pareça uma atividade distante para muitos, a presença do jogo do bicho em uma comunidade é um sinal de que uma rede criminosa está ativa. Veja algumas dicas práticas:
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Identifique a presença velada: pequenas bancas de anotação em calçadas, bares que servem de fachada para apostas ou a movimentação constante de "apontadores" são sinais da operação do jogo. Isso indica que uma organização atua abertamente na sua região, o que pode aumentar a insegurança local.
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Entenda a conexão com outros crimes: o dinheiro que financia o jogo do bicho muitas vezes está ligado a outras práticas ilegais, como a agiotagem. Pessoas que pegam dinheiro emprestado com esses grupos podem sofrer extorsão e ameaças. A presença do bicho pode fortalecer redes criminosas que atuam em diferentes frentes.
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Saiba como denunciar com segurança: a maneira mais segura de combater a contravenção é denunciar. Utilize canais anônimos como o Disque Denúncia (telefone 181 em muitos estados). Fornecer informações sobre a localização dos pontos de aposta e os horários de maior movimento ajuda a polícia a planejar operações mais eficazes.
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Cuidado com a "ajuda" do bicheiro: evite aceitar favores, empréstimos ou "presentes" de pessoas ligadas à contravenção. Esses atos de aparente generosidade criam uma dívida de gratidão e lealdade, que pode ser cobrada com juros altos no futuro, envolvendo o morador na rede de silêncio e cumplicidade.
Por que o jogo do bicho continua tão popular?
A popularidade se deve a uma combinação de fatores. Ele possui raízes culturais profundas e é visto por parte da população como um costume inofensivo.
Sua simplicidade e a possibilidade de apostar valores baixos o tornam mais acessível que as loterias oficiais para a população de baixa renda.
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Segundo o o historiador Felipe Magalhães, autor de “Ganhou, Leva!: o Jogo do Bicho no Rio de Janeiro (1890-1960)”, atualmente o imaginário do bicho se mantém muito em função do saudosismo.
Uma ferramenta de IA foi usada para auxiliar na produção desta reportagem, sob supervisão editorial humana.