editorial

BC mais cauteloso, mas não pode errar na dose

A inflação é um imposto caro para a sociedade, assim como o juro num patamar acima de uma taxa neutra é um arrocho para empresas e famílias

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A perspectiva de redução da inflação no curto prazo e o recorde de arrecadação de impostos no primeiro bimestre, com o valor de R$ 467,15 bilhões indicando uma receita maior este ano e a perspectiva de um déficit fiscal menor, não estão no radar do Banco Central para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), no início de maio. A Ata do Copom da reunião na semana passada, quando a Selic foi reduzida para 10,75% ao ano, mostra uma preocupação maior com a persistência das incertezas, que antes se referiam ao cenário externo e agora incorporam também o interno.

Para a próxima reunião do comitê, no início de maio, o corte de 0,5 ponto percentual deve ser mantido, mas ainda assim a taxa ficará com dois dígitos e em um patamar ainda elevado em relação ao juro neutro. A explicação para uma possível mudança na política monetária é o fato de as projeções para a inflação neste e nos próximos dois anos estarem acima do centro da meta inflacionária, que é de 3%.
O Banco Central sinaliza ao mercado que vai perseguir o centro da meta e agir para impedir o descolamento dos preços, o que já pode ser visto pelos consumidores nos supermercados, principalmente após altas expressivas do valor dos hortifrutigranjeiros. E com a gasolina defasada em relação ao mercado internacional, a perspectiva é de que o combustível possa ser reajustado novamente e pressionará todos os preços, reforçando a incerteza a que se refere o BC em sua ata da última reunião do Copom.

Com o histórico inflacionário e seus impactos danosos para a economia, é aceitável que o Banco Central se preocupe com o controle dos preços, mas é preciso não errar na dose de preocupação, sob pena de jogar mais para baixo uma atividade econômica desaquecida ou, pior ainda, mexer com as expectativas do mercado. Agora não há uma indicação clara de que na reunião de meados de junho haja uma mudança no patamar de redução da Selic, que finalmente poderá ficar abaixo dos dois dígitos e chegar a 9,75%. Esse patamar ainda é alto, mas é a partir desse ponto que o BC, com uma visão mais clara sobre o cenário-base, poderá reduzir a magnitude do corte de juros, para 0,25 ponto percentual.

Com a resiliência do mercado de trabalho e o pagamento de benefícios sociais mantendo a capacidade de consumo da parcela menos favorecida da população, taxas de juros não terão impacto sobre alimentos que podem seguir com preços pressionados por mudanças climáticas ou eventual alta dos combustíveis, mas vão continuar impactando investimentos, produção da indústria e consumo de bens de valor mais alto e que exigem financiamento.

Não se pede tolerância com a inflação fora da meta, ou como se dizia no passado, que um pouco de inflação favorece o crescimento econômico. Não. A inflação é um imposto caro para a sociedade, assim como o juro num patamar acima de uma taxa neutra é um arrocho para empresas e famílias. O que se espera é que a análise técnica do BC não se paute apenas por números e abranja a complexa e robusta estrutura produtiva brasileira.

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