EDITORIAL

É necessário surfar a onda

A revelação de atletas de alto potencial não pode ser obra apenas do talento individual, mas uma consequência de um trabalho de base robusto e de qualidade

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Sempre que chegam os Jogos Olímpicos, o coração do brasileiro se enche de expectativa para logo ver o hastear da bandeira verde-amarela ao som do hino nacional – sinônimo de conquista de medalha na maior competição esportiva do mundo, realizada a cada quatro anos. Em sua última edição, em Paris, foram 20 conquistas, número somente superado em Tóquio, onde o país faturou 21 condecorações. O noticiário esportivo do último fim de semana chama a atenção para um novo nome, este ainda bem jovem, sem uma conquista olímpica no currículo (ao menos por enquanto). Trata-se do carioca João Fonseca, nova promessa do tênis internacional. Aos 18 anos, ele venceu seu primeiro torneio da ATP (a Associação dos Tenistas Profissionais) em Buenos Aires, no último domingo, o que lhe rendeu pontuação suficiente para entrar no top-70 do ranking de simples masculino.

O surgimento de novos talentos individuais no esporte brasileiro prepara o terreno para uma ampliação do desempenho verde-amarelo em edições internacionais. A partir de nomes como Rebeca Andrade (ginástica olímpica), Caio Bonfim (marcha atlética) e Isaquias Queiroz (canoagem), o país encontra oportunidade para alavancar o seu nome em modalidades nas quais, historicamente, nunca conquistou medalhas olímpicas. Expoentes que precisam ser o combustível para servir como inspiração para crianças e jovens – a partir do necessário investimento público e privado no setor.

A revelação de João Fonseca é emblemática. Após anos sem um tenista com potencial para figurar entre os principais do circuito na modalidade individual, o Brasil hoje tem, além do carioca recém-campeão na Argentina, Beatriz Haddad Maia, atual número 16 do ranking feminino – ela chegou a figurar na 10ª posição em 2023.

Entre o primeiro título de João Fonseca e a aposentadoria de Gustavo Kuerten, o principal tenista da história brasileira, somam-se 17 anos. A maneira como o país não soube surfar a onda do tricampeonato de Guga em Roland Garros (o Aberto da França, um dos maiores da modalidade) deve ser exemplo do que não fazer com o futuro da ginástica de Rebeca Andrade, do skate de Rayssa Leal e da canoagem de Isaquias Queiroz.

Em outras palavras, a revelação de atletas de altíssimo potencial não pode ser obra apenas do talento individual, mas uma consequência de um trabalho de base robusto e de qualidade, capaz de dar ao país predominância no maior número de modalidades possível. Se o legado de Guga não foi bem trabalhado no tênis, os de Rebeca Andrade, Isaquias Queiroz e Rayssa Leal – para citar apenas nomes de amplo conhecimento da torcida – precisam ser tratados como sementes a serem germinadas na juventude brasileira.

João Fonseca, por exemplo, é muito mais um exemplo de talento individual e investimento familiar do que resultado de uma política pública. Pelos custos que envolvem a prática do tênis, o país precisa aproveitar o surgimento de um novo talento, com potencial semelhante ou até mesmo maior do que o de Gustavo Kuerten, para instalar novas quadras públicas, com fornecimento gratuito de raquetes e bolinhas. Hoje, a prática do esporte fica praticamente restrita a clubes e academias, que evidentemente cobram gordas mensalidades para abrigar treinadores e jogadores.

Nessa toada, a valorização do Bolsa Atleta – programa do governo federal que financia carreiras desportivas de alto rendimento – se faz necessária. A iniciativa recebeu R$ 160 milhões em 2024, o que significou um recorde de cerca de 9 mil atletas. Houve um reajuste de 32% em relação a 2023. Um acerto da atual gestão, mas que só aconteceu após quase duas décadas de estagnação da política pública, que recebia, até então, o mesmo patamar de incentivo desde sua criação em 2005.

Na delegação brasileira em Paris, 87,3% dos esportistas receberam recursos do programa. No boxe, por exemplo, todos os 10 classificados estavam na categoria mais alta da iniciativa, que paga entre R$ 5,5 mil e R$ 16,6 mil ao beneficiado por mês. O Brasil precisa olhar para o esporte com seriedade e investir não só em carreiras já consolidadas, mas se antecipar para identificar talentos desde os seus primeiros passos.

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